PUXADINHO

-Bom dia, dona! A senhora vai fazer exercício nos aparelhos da academia popular?

-Não posso. Estou me recuperando da cirurgia de hérnia de disco.

-Eu faço todos os dias, antes de ir para o serviço. Hoje não vou fazer porque marquei aqui, no calçadão da praia, com uma senhora. Trabalho numa casa de sete as treze e preciso arrumar outro serviço para o resto do dia, porque estou mexendo com construção. Haja dinheiro, não é?

-É verdade. Como é o seu nome?

-Cidinha.

-Maria Aparecida?

-Sim. O nome da Mãe de Jesus e nossa Mãe. Eu não conheci a mamãe e meu pai também já é morto.

-Nem por isso você entrou no caminho errado das drogas como a Rute, aquela grávida que está cheirando tinner sem parar. A desculpa dela é porque é órfã igual a você.

-Deus me livre, dona!! Nunca dei brecha para o malígno entrar no meu coração! Sou casada há dez anos - aos trancos e barrancos - mas estamos juntos. Tenho uma filha de oito. Estamos fazendo um puxadinho com nosso dinheiro honesto e muito suado.

Olha lá! A mulher chegou! Que bom! Mais um servicinho para mim! Tchau, dona!

Aproximei-me dos meus irmãos de rua.

-Rute, trouxe bolo para vocês.

-Obrigada.

-Você continua matando o seu bebê, cheirando essa maldita garrafinha.

A futura mãe meneou a cabeça e disse:

-Vai com Deus.

-Fica com Ele também, Rute.