O emprego mais curto da minha carreira

Nos meus 57 anos, já tive vários empregos com carteira assinada, e nunca permaneci menos de cinco anos em nenhum deles.

Quando fiquei desempregado numa fase que chamo das vacas magras, aliás magérrimas, um colega arrumou uma entrevista com um conhecido seu que tinha uma pequena empresa de obras civis e estava precisando de um auxiliar na área financeira (era comigo mesmo).

No dia seguinte lá estava eu para ser entrevistado pelo dono. O Osvaldo era pura simpatia. Mostrou-me todas as obras em andamento, explicou como era o processo das licitações que ele participava e quais as variáveis que eu iria levar em consideração para calcular o custo da obra, fazer o acompanhamento financeiro, etc.

Acertamos o salário e fui contratado para começar no dia seguinte. Quando estava indo embora já no final da tarde chega a jararaca

Jararaca era a mulher dele (nome de batismo: Marieta), sócia minoritária. Na realidade só aparecia no final da tarde para encher o saco do Osvaldo e dos demais funcionários.

Parecia a rainha da Inglaterra e nós os restantes meros lacaios.

Quando Osvaldo me apresentou, a jararaca me olhou de alto a baixo como se eu fosse uma peça de carne exposta no açougue. E pelo jeito me considerou como de segunda ou terceira.

Osvaldo percebeu o mal estar e explicou a jararaca que eu tinha sido contratado como financeiro e iria começa no dia seguinte.

- Como? Contratado sem a minha autorização!!!!.

- Mas benzinho, nós já tínhamos combinado que precisávamos de um auxiliar, pois o volume de trabalho está aumentando e não estamos dando conta. Já o entrevistei e ele é a pessoa ideal. Já acertamos tudo e ele começa amanhã.

- Acertamos quem cara pálida? Eu não concordo. Pensei melhor e nós temos é que cortar custos e não aumentar.

Osvaldo era moreno e ficou mais branco que leite em pó. Olhou para a jararaca e para mim sem saber o que fazer ou o que dizer.

Percebi logo que o emprego tinha ido para o brejo e falei assim com o Osvaldo, ignorando propositalmente a jararaca:

- Não esquenta não Osvaldo, a vida é assim mesmo cheia de embaraços. Valeu a pena ter te conhecido. Te desejo todo o sucesso que você bem merece.

Apertei sua mão, ignorei solenemente a jararaca e fui embora.

Até hoje não tenho certeza quantos minutos fiquei empregado. Creio que não passou de meia hora.

Rogério Vianna
Enviado por Rogério Vianna em 08/01/2011
Reeditado em 08/01/2011
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