PESCARIA

Não era um deus grego, tinha olhos imperfeitos. Mas na pele alva como neve e nos negros cabelos tinha a moldura única do seu maior tesouro: a luz e a energia que de si emanavam.

O sorrir de arcanjo e o agir de galã conferiam àquele jovem a justa fama de “solteiro cobiçado”. Rodeavam-lhe constantemente as moçoilas afogueadas em busca da ilusão do príncipe encantado.

Escondido dentro daquele círculo voraz feminino conseguiu numa fresta entre cabelos de todas as cores, e assédios de pouco bom-gosto, cruzar seu olhar serenamente imperfeito com os daquela que lhe fisgara o coração sem sequer imaginar tal pescaria ocorrer!

Ele que não era peixe, ela que odiava pescar! Ele que tinha os pés em terra; ela que vivia no ar e no mar... Ele, um viçoso rapazote; ela, a fina flor balzaquiana. Ele querendo os melhores sucessos e ela fugindo de todos os holofotes. Não poderia ocorrer outra coisa: os opostos se atraíram!