De Onde Vem a Carne

– De onde vem a carne?

– Do mercado!

– Não, querido... Na verdade, a carne vem do boi.

– Do boi?

O garoto estava espantado com aquela afirmativa. Durante todo o seu curto período de vida, tinha visto a mãe comprar carne no açouguinho do supermercado. E agora a professora vinha com aquela história de boi...

– É, do boi sim. Ele dá a carne dele para os seres humanos.

– E ele recebe salário?

Ficou imaginando o animal negociando o preço de sua carne com o açougueiro... Parecia justo, não?

– Não...

– Então é exploração!

“Essas crianças de hoje...”, pensou a professora. E suspirou levemente antes de continuar sua explicação.

– Na verdade, é a função do boi dar sua carne para servir de alimento para nós.

– E ele não se incomoda com isso?

– Não.

Pelo menos ela não se lembrava de ter visto nenhuma notícia de boi revoltado.

– Nossa...

O menino estava surpreso. A professora sorriu pacientemente.

– O boi doa a carne, assim como a abelha oferece o mel e a vaca o leite...

– Então o leite também não vem do mercado? E o mel?

Era um dia de descobertas.

– Tudo isso é vendido no mercado, mas a matéria-prima...

– A prima de quem?

– Matéria-prima. A fonte, a origem desses alimentos.

– Ah...

– Entendeu?

– Aham... Mas... Eu tenho uma dúvida.

– Sim?

– Se o boi trabalha pros seres humanos... Não é?

– É.

– Então... Ele tem seus direitos, não tem?

A mulher ergueu as sobrancelhas, surpresa com o raciocínio do aluno.

– Hum... É... Pode-se dizer que sim.

Afinal os animais tinham leis de proteção...

– Interessante...

A professora conteve um risinho. E prosseguiu a aula normalmente. O garoto ficou imaginando como seria o Estatuto dos Bois e que não era justo afinal que eles trabalhassem de graça. Deviam fazer greve... Mas ele poderia ajudar. É! Estava decidido. Não comeria mais carne. Assim contribuiria para a causa dos bois injustiçados... Quem sabe as pessoas não pensassem mais nisso e ajudassem também? De qualquer forma, não conseguiria mesmo comer mais carne depois daquela conversa... Veria o rosto de um pobre boizinho indefeso em cada pedaço... Então nunca mais comeria carne! Não enquanto os bois fossem reprimidos pelo ser humano! Nunca mais! Ou pelo menos até a hora do almoço...

Nicole Ayres
Enviado por Nicole Ayres em 22/02/2011
Código do texto: T2808530
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