GUERRA DOS SEXOS

Daquela noite não passava, era o que Ricardo dizia enquanto arrumava o cabelo na frente do espelho. Depois de borrifar o perfume e ajeitar o caimento da roupa, ele estufou o peito e disse para si mesmo, com orgulho:

- Nenhuma vai resistir. Vou passar o rodo.

Gustavo, o amigo inseparável de farra, suspirou.

- Você diz isto todos os sábados e não pega ninguém.

- Hoje vai ser diferente - setenciou ele - Sinto que esta noite vai ser especial.

- Nunca pensei que o rompimento com a Aninha ía deixar você meio louco.

- Louco eu? Nunca me senti tão bem na minha vida. Liberdade agora e sempre! - bradou ele, no meio do quarto - Mulheres me aguardem!

Pegando a carteira de cima da mesa, Ricardo perguntou, interessado:

- Você bem que podia me apresentar sua irmã.

- Pô, meu! Ela só tem dez anos! Você não quer que eu lhe apresente minha avó? Aquela que fez 80 anos semana passada?

Os dois foram para a noite. Era verão, praia, clima quente em todos os sentidos. O destino era a casa de um amigo em comum, onde iria rolar um churrasquinho e claro, muita mulher. Porém, quando Ricardo e Gustavo chegaram, a coisa estava meio devagar. O churrasco nem tinha começado a assar. E só tinha homem bebendo cerveja.

- Cadê a mulherada? Só tô vendo cueca aqui - reclamou Ricardo, pegando uma latinha de cerveja.

- Devem estar chegando - respondeu Felipe, o dono da casa - A Dani disse que ía trazer uma turma de amigas, todas gatas!

- Ihuuuu! - e Ricardo esfregou as mãos, animado - É hoje! Vou pegar todas!

Os outros rapazes se entreolharam, mas não disseram nada. A conversa rolava com alguma animação, todos esperando as garotas chegarem. De repente, o irmão menor do Felipe, um garotinho de 10 anos chamado Artur, apareceu trazendo algo na mão.

- Vejam - e mostrou um jogo de videogame - É o FIFA 2011. Ganhei agora.

Houve um leve tumulto quando Artur começou a jogar. Todos se reuniram na sala para acompanhar os lances, discutindo com calor cada jogada. Ricardo, que disputava animadamente uma partida com Artur, levou um gol. Gritos, risadas, palavrões. A diversão finalmente começara.

Quando a Dani chegou com suas amigas perfumadas, bonitas e bronzeadas, não foi difícil para elas localizarem os rapazes. Estavam todos na sala jogando videogame. Elas se entreolharam, atônitas. Uma comentou:

- Toda esta gritaria é por causa de um jogo de futebol... e de mentirinha.

Disposta a pôr ordem na bagunça, Dani tentou chamar o dono da festa:

- Lipeee! Ei, estou aquiiii! Trouxe as meninas!

Felipe finalmente olhou para elas e fez um sinal de que já iria. Agachando-se, falou no ouvido de Ricardo:

- A mulherada chegou.

Compenetrado, Ricardo respondeu:

- Bah, meu! Depois eu falo com elas.

Na varanda, onde o churrasco deveria estar sendo assado, as amigas se olhavam, com uma expressão de enfado.

- Bem que eu sabia que vir para cá era uma furada - se penitenciou Dani, pegando uma latinha de cerveja - Por isto que eu gosto de homens mais velhos, sabe? Estes sim, tem pegada.

Todas concordaram. Claudinha comentou:

- Se eu tivesse que escolher entre um cara de vinte e outro de quarenta, adivinhem com quem eu ficaria...

O martelo foi batido. Sim, elas preferiam os mais velhos. Lá na sala, a gritaria continuava. Alguém tinha feito um gol e parecia final de Copa do Mundo, Brasil Hexacampeão.

- Quer saber? - perguntou Dani, exasperada - Abriu um bar novo na beira da praia. A chance de ter homens mais interessantes é de 100%. Vamos pra lá?

Meia hora depois, os rapazes voltaram para a varanda. Das gurias, nem sinal.

- Ué... - exclamou Ricardo - Já foram?!

Indignação geral. Felipe lembrou:

- Abriu um bar novo na beira da praia. A chance de ter mulheres com mais pegada é de 100%. Vamos pra lá? Pegar menininha não tá com nada.

E a noite ainda era uma criança.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 27/02/2011
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