POBRE MULHER!

E ela chegou aos cinqüenta anos. De uma vida totalmente inútil. Meio século de um total abandono de si mesmo.

E os sonhos que tinha na infância de ser uma simples professorinha, de estar rodeada de crianças, de poder ensinar suas habilidades, foram consumidos por seu cotidiano. E ela nunca o realizou.

Mas se casou. Sonhando poder ser feliz. E o fez por amor. Um casamento simples, modesto. E foram morar em casa de aluguel, com móveis muitos deles dados de presente, outros comprados com uma pequena herança que recebeu. E era tão feliz sonhando com o futuro daquela família.

O casal lutava, trabalhando fora o dia todo. As esperanças no futuro eram tão grandes! E cotidianamente ela a abraçava com a fúria de uma guerreira indo à batalha...

E o tempo foi passando, e ela não se deu conta! Estava tão empenhada em fazer todos felizes, que esqueceu sua própria felicidade.

E um belo dia despertou do seu conto de fadas. E ao olhar no espelho, a máscara de sua vida desabou.

E ela notou que estava com cinqüenta anos e que nada tinha realizado. E parou para olhar aquela imagem no espelho. Não acreditou na visão que estava tendo, era um pesadelo.

Estava velha, feia, acabada. Aquela moça sonhadora, cheia de ideais e sonhos, não mais existia, havia se perdido no caminho.

E a cruel realidade a trouxe a uma dura reflexão. O tempo passou. E junto a ela o viço, os sonhos, as realizações.

E se viu sem esperanças. Sentou ao pé da cama sozinha, olhando para o vazio que habita todos nós e se deu conta de que nada fizera, nada realizara.

Não viajou, nunca saiu nem mesmo de seu Estado, plantada na terra como uma praga daninha qualquer. E o ronco do avião que por sua casa voava, levou junto a ele as lágrimas de decepção por nunca ter atingido os céus, nem mesmo nas asas de um avião.

Olhou ao seu redor e dentro de sua solidão viu o quanto era infeliz. Que tudo o que obtivera até hoje tinha a caridade e benevolência de alguém, e não méritos próprios de ter obtido.

Mas havia uma família a zelar. Família? Um filho lindo que já estava abraçando as asas do mundo e que não poderia como aconteceu com ela, ser impedido de voar! Um marido que não a respeita como pessoa, apenas usufrui de seus prestimosos serviços.

O tempo continua a correr. E ela sentada ao pé da cama, esperando, quem sabe a morte a abraçar, ou um milagre acontecer!

Santo André, 05.11.06 – 14h