O TÉTRICO FIM DE ELION JORGE

De origem modesta e pacata, singularismo próprio dos que não foram mimados em berço de ouro, porém com uma mente fértil e uma inteligência explêndida, brotou como um rio. Titã, como todos os vultos nacionais que respiram os ares daquela terra, que nada tem a ver com os forasteiros que por ali passam, que por ali vivem a monopolizar, a escravizar, depois que saem da fome à mordomia. Creio que, Elion, como simplesmente era conhecido naquelas plagas, foi vítima de um desses imigrantes gananciosos, pretenciosos burgueses-burocratas que a nossa querida terra abriga, sacia a fome, engorda e enriquece.

Elion era um jovem de bons presságios. A sua maior conquista seria tornar-se engenheiro civil. Mas como a muralha da universidade é de uma altura incalculável para a maioria - impossível de penetrar-se, Elion ficou de fora, privado do conhecimento - privado do saber. Assim como muitos dos intelectuais são atirados ao léu da mediocridade e abstinência, Elion não passara de um mero matemático, físico e biólogo escondido atrás das cortinas negras de um teatro cínico e invísivel, (Santo Antônio de Jesus).

Funcionário de um banco por um longo tempo, laborando em sua terra natal, transfere-se para valença. Um dia o infortúnio fê-lo retornar à Cidade das Palmeiras Colonial. Aí, começou a sua desgraça. Em visita ao antigo local de trabalho, foi estupidamente agredido por guarda-costas que por pouco não desferiu-lhe tiros, momentos em que fazia convencer a uma mente mesquinha, uma alternativa correta para solucionar determinado problema. Problema este, criado pela tirania e prolixidade burocrática.

A surpresa e impacto emocional causados pelo desemprego injusto, tornou-lhe um homem destruído e arrasado; perdido e só, em um mundo em que os amigos existem enquanto somos.

Há muito tempo afastado de sua terra natal, Santo Antônio de Jesus, fugia não das faces frankstenianas dos calhordas - alicerces de sua destruição. Mas sim, para transparecer a sua querida mãe, D. Helena, o sofrimento e a dor que feriam-lhe o coração. Mas como a vida nos impele , às vezes, de agir quando não queremos, Elion retorna à terra natal. Morre D. Helena. Passa o tempo. A luta para conseguir provar a sua integridade moral , a dor do desemprego, a orfandade e solidão, transformaram-lhe: de jovem, alegre e sorridente; em um homem alheio e depressivo.

Dois de novembro de 1979. Dia de finados. A natureza abraça-se ao homem, chorando profundamente. Os céus da bahia é triste. É noite nos mares. A balsa que transporta passageiros Salvador a Bom-Despacho está cheia. O ré bemol grave da trombeta soa. É dada a partida. Em pleno mar - travessia, um baque. Caíra um corpo. Atirou-se um corpo. Foi um homem. Alguns viram. Até mesmo um conhecido. Foi Jorge Elion. Seus documentos provam. Pois, sobraram para justificar a sua ausência dos postos do INSS, e Palácios da Justiça. com o canto triste da natureza e soar de atabaques, os peixes fazem a festa alimentando-se de carne humana. Depois deste jantar tardio, esses mesmos peixes serão pescados para alimentar os gananciosos do Recôncavo. Até mesmo, os gananciosos - antropófagos - forasteiros em Santo Antônioo de Jesus.

Santo Antônio de Jesus, 1979.

evangelista da silva
Enviado por evangelista da silva em 10/03/2011
Reeditado em 10/03/2011
Código do texto: T2838649