O Admirador

Lá estava ele de novo a observá-la. O modo como ela ajeitava as mechas de cabelo da frente do rosto para não atrapalhar a visão, quando ela se recurvava frente ao caderno para escrever seja lá o que ela escrevesse, o andar apressado e quase fujão de garota medrosa, os rápidos riscos de olhares curiosos para objetos ou pessoas que lhe interessassem repentinamente, o ar de seriedade quando defendia qualquer de suas crenças ou mesmo suas hipóteses.

Era um vício prazeroso ficar apenas a olhar o modo como ela fazia graciosamente qualquer coisa. Quase uma obsessão, apenas quase. O sorriso que ela soltava quando contava algo que parecia engraçado era um charme único. Tudo dela lhe instigava a curiosidade num nível não muito alto, apenas a ponto de continuar apenas a observá-la incógnito e irreconhecível.

Se ela trocava olhares ele não desviava, apenas a encarava firmemente, fingindo que não a estava olhando de verdade, mas apenas perdido em devaneios loucos quaisquer... E ele fingia isso muito bem, não demorava para que ela deixasse de trocar olhares e perdesse a crescente curiosidade repentina que mal chegava a surgir dentro dela.

E assim eles seguiam, vivendo juntos ao mesmo tempo que separados. Ela fazendo parte do mundinho recluso dele sem saber, ele se perdendo no mundinho curioso dela sem ter medo.

Se ele a amava? Não, não... apenas a admirava.