"Yeah, honey, a big change is gonna come..."

Eu era nova quando o conheci. Estava numa pequena cidade dos EUA, estudando inglês, e ele trabalhava na fazenda da família com quem fiquei. Me encantei com seu jeito simples, e suas barbas e seus cabelos brancos lembraram meu falecido avô, o que criou entre nós uma afinidade instantânea. Ficávamos horas conversando no topo da montanha, aos pés de um enorme carvalho que ficava solitário no meio do descampado. Posso dizer que o que aprendi com ele, escola nenhuma poderia me ensinar. A maioria das nossas conversas terminava com ele dizendo: "Yeah, honey, a big change is gonna come...".

Cedo demais tive que voltar para o Brasil, em meados de 80. Naquela época não se falava em mudanças climáticas, tínhamos acabado de descobrir o "El Niño" e ninguém se preocupava muito com isso. Mas, hoje, nos primeiros dias de 2010, percebo que deveríamos ter dado mais atenção à Papa John, aquele senhorzinho visionário, que enxergava muito mais do que seus velhos olhos podiam ver. Hoje, mesmo com os alertas de Tsunamis, Vulcões e tragédias como a de Ilha Grande neste Reveillon, estamos todos cegos. Fazemos grandes encontros e prometemos demais, mas estamos todos cegos. Será que ninguém percebe que desequilibramos o planeta? Que não haverá tempo e nem mundo para os meus, os seus, os nossos filhos? Que lições estamos deixando, o que estamos ensinando? No que nos transformamos?

Portanto, quero voltar a ser a pessoa revoltada que eu era quando decidi ser bióloga. Quero voltar a ser apaixonada por uma causa, pelas árvores, animais, pelo meu planeta! Não vou mais cruzar os braços e acreditar que as tragédias aí fora não são também responsabilidade minha. Então, uma das minhas poucas resoluções de 2010 é fazer mais. É estar mais próxima da natureza, ser mais atuante. Sou mergulhadora, e a cada mergulho, sinto falta dos peixes, do mar azul, do céu com nuvens brancas aqui e ali. Não quero mergulhar com uma plataforma de petróleo ao fundo, ou zarpar de um porto com águas tão sujas de óleo que tenho que tomar cuidado pra não me molhar quando entro no barco. Que ironia! Quero que meus filhos conheçam peixes coloridos e aprendam a respeitar os seres vivos. Quero que fiquem indignados quando vêem alguém jogando lixo nas ruas, quero que tenham paixão pelo ar puro e pelas árvores. Quero que sejam ativistas e que lutem, assim como eu me comprometo a lutar hoje pelo deles, pelo futuro dos seus filhos. Não quero mais fazer parte da hipocrisia em massa, não quero ser parte de um povo que finge que não vê. Quero a minha consciência tranqüila, sem sangue nas minhas mãos. Quero fazer a minha parte, porque acredito, sim, que posso mudar o mundo!

Que a mudança que via Papa John seja a mudança de atitude. Da minha, da sua e da nossa, como um todo, como um povo unido como raça, como parte do planeta. Que 2010 seja o início de uma nova era, de um novo pensamento. Feliz Ano Novo!

Obs.: Essa não é uma história verídica. Papa John só existe na minha cabeça, nunca fiz intercâmbio e em 80 eu nem era nascida. Mas o resto da história é verdade... Ah, e eu também não costumo fazer propaganda. Mas assistam "Avatar". Tentem enxergar além das legendas e dos efeitos especiais. Vejam com o coração, se emocionem. E tentem, assim como eu, não voltar para o mundo moribundo em que vivemos hoje... Apaixone-se. Por você mesmo, pelo outro, pelos seus filhos, pelo nosso futuro, pelo nosso planeta.

Maís Petrini
Enviado por Maís Petrini em 22/03/2011
Código do texto: T2863369
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