LICOR DE CEREJA.

O tempo lento corre sempre em frente...

...constrói/destrói/corrói,faz/desfaz/refaz.

Aos poucos as ruínas vão se amontoando na periferia da alma, que

em frangalhos/farrapos/fagulhas a esmo se espalham na escura noite

do infinito da alma.

O riso/siso, o passo/laço/compasso de ida/descompasso de volta.

A saudade misturada com o que não se viveu/conheceu, mas que

foi crível e por incrível que pareça deixou um leve aroma de rosas no

ar e um suave sabor de licor de cereja .

Ao longe surgida/ressurgida não se sabe de onde e nem porque a mesma melodia doce que lhe acalentava os sonhos e ecoava repecutindo em suaves ecos na alma.

As lágrimas escorriam lentas pela face, tal qual gotas de chuva deslizando pelas vidraças.

Relembrava a voz, a entonação o sorriso e os versos que por muito

deixou de querer escutar,apesar de jamais deixar de ser ouvida á cada minuto na vitrola de seu interior.

Um dia alguém lhe cantava/encantando que por ela seria capaz de

roubar até a lua, enquanto deitava nos acordes suaves da guitarra e se deixava flutuar em seus próprios sonhos, podia tocar as constelações.

Mas o tempo feroz/veloz rouba o sono e o sonho insano afinal até para sonhar é preciso ter insanidade e eis que a realidade vem em um

dia cinzento de outono,sol entre nuvens, jeito de tempestade no ar.

Se (des)encontrou remendando/revirando/remexendo nos retalhos

retorcidos que a saudade ( rainha louca e sábia conselheira) deixou...

...Aguardou em silenciosa expectativa, quem sabe deste momento

não saía um tapete de coloridos/desbotados pequenos fragmentos do

que um dia sonhou/ousou ou ousou sonhar.

Seguia a vida levando nas costas o balaio com flores murchas guardadas em páginas amarelecidas pelo tempo,além de notas de

partituras já emudecidas e claro não se esqueceu de levar nessa

bagagem os sorrisos apenas emoldurando rostos em antigas fotografias.

A vida seguia, o tempo urge e as marcas que ficam em cada um,

seguem viagem em cada alma. Se para uns a queda causou apenas

pequenos arranhões ou hematomas, para outros restaram as úlceras

necrosadas na essência mais íntima e silenciosa do ser.

E a melodia entoada/entornada talvez por anjos/fadas/duendes ou quem sabe druídas, agora despertava para a realidade...

... Mas ainda se podia ouvir ..." você é chocolate com licor de

cereja, torta de morango com creme de chantilly, sorvete especial de

sobremesa..."

... Uma deliciosa sobremesa que a vida deixou de lado na mesa

diabética da vida.

Márcia Barcelos.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 05/04/2011
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