INVESTIR NO CORAÇÃO
A Senhora, diria antes a moça, era uma jovem bem parecida, tirando uma ainda fresca cicatriz no lábio superior, que alguma dificuldade lhe colocava ao falar.
Disse-me com algum nervosismo de uma ansiedade incontida, que aguardava à porta pelos seus amigos de um andar de cima.
Eles desceram e no hall de entrada enquanto eu me afastava discretamente embora intrigado, ficou contando algo que me pareceu grave.
Caso passado, mas não ainda ultrapassado, disse-me depois o Senhor budista.
Morreu o namorado, no acidente!
Veio-me então à mente uma memória arrepiante, que me varou. A de um Senhor, que ao balcão de um notário, porque alguém se queixou da vida, revelou que estava ali porque num acidente na auto-estrada lhe morreram a mulher e dois filhos crianças.
Estava agora envolvido num processo penoso para provar a culpa da marca automóvel; uma poderosa multinacional.
Aí não vale a pena, é melhor investir no coração!
Um processo destes deve ser realmente moroso, dispendioso, doloroso e talvez
ingrato.
Daí esta visão vinda da altitude oriental; investir noutra dimensão, mais plena, mais gratificante, mais profunda.
Na verdade a jovem ao sair, irradiava no olhar uma suavidade que dissipara muita da ansiedade e angústia com que entrara.
Sem dúvida que o Senhor budista lhe tranmitiu uma qualquer visão de serenidade que lhe invadiu o coração.
Foi pena o Senhor budista não estar naquele notário, naquela hora, talvez o processo perdesse o predicado doloroso.
Haja Deus, haja amor, em qualquer crença.