Pano de Fundo

Como em um cenário teatral, os panos de fundo se alternam em nossas vidas.

Um dia, ela entrou em um palco imenso. Teve de mostrar-se grande e adulta, frente à responsabilidade de apresentar o trabalho daquele escritor renomado.

Sob a iluminação focal, não pôde perceber qual era o cenário de uma forma clara. Os focos luminosos ofuscavam-lhe as pupilas.

Apoiada no script deslocou-se iluminada balbuciando as palavras que se repetiam sem a certeza de ser ouvida pela platéia.

Confiava mais em sua habilidade para a leitura do que na significação do que transmitia

Sorriu, chorou, caminhou de um lado a outro do palco e, de soslaio, em dado momento, percebeu que os cenários eram variados outra vez.

No auge da expectativa, viu que o texto repetia-se por si mesmo, ecoando de sua boca aos seus ouvidos. Foi quando ao fazer menção de interromper sua interpretação, surgiu um cenário cósmico real cheio de faixas luminosas, que compreendeu serem as estrelas, quando vistas de seu planeta.

Sentiu que penetrava no universo que a engolia.

Percebeu uma grande solidão, não maior que a imensa beleza que ali havia.

E, desse jeito, bela e só voltou a balbuciar as palavra textuais com inusitada emoção.

Então, todo o palco foi ressurgindo sob seus pés e a platéia foi aparecendo para seus olhos.

Agora, entendia com maior lucidez que não eram as palavras que contavam o texto; que não dependia de a escutarem, a verdade proferida. E, ainda, que os panos de fundo são sempre circunstanciais.

Ela viveu feliz para o sempre.

Marise Cardoso Lomba
Enviado por Marise Cardoso Lomba em 30/06/2005
Código do texto: T29297