AQUELE OLHAR...
AQUELE OLHAR...
Sergio Pantoja Mendes
... lembro-me de quando a conheci... Moreninha. Cabelos negros e olhos também negros...
E foram justamente eles, seus olhos, que chamaram minha atenção. Eram olhos profundos e tristes, ao fitarem gulosos a vitrine de doces e o balcão de salgados, daquela confeitaria.
Ao pegá-la pela mão, olhou-me desconfiada mas sem medo. Um sorriso tímido, aconteceu em seus lábios, ao perceber que eu a levava para um dos altos bancos, da lanchonete.
Eu não lhe disse nada. Apenas fiquei a observá-la, comer aquelas delícias. Ela, na despreocupação de toda criança, por vezes, entre um bocado e outro, é que parecia lembrar-se da minha presença. Então, aquele sorriso tímido, vinha-lhe novamente aos lábios.
Ao sairmos eu lhe sorri. Ela então, apenas me olhou com seu olhar profundo, triste e sofrido de menina pobre e afastou-se, olhando para trás de vez em quando. Ao fitá-la pela última vez, seus olhos negros diziam que nunca me esqueceriam. E eu, ainda hoje, passado tanto tempo, carrego comigo, a lembrança daquele olhar...