O REENCONTRO

O REENCONTRO

Depois de uma noite mal dormida, Vera olhava a filha recém-nascida, que dormia. Como se parecia com o pai! Desviou os olhos do berço, olhou para a cama do lado onde o marido dormia, não havia ninguém, ele saíra para o trabalho. Não voltaria logo.

Eram nove horas, Joana bateu na porta:

- Dona Vera, tem visita para a senhora.

Antes que mandasse entrar, a criada abriu a porta e Vera viu diante de si um homem forte, robusto, que sorria.

- Você! – exclamou ela com os olhos arregalados de espanto.

O homem apertou a mão de Vera como um cumprimento. Joana saiu dali.

- Vim te visitar, trouxe um presente para sua filha. Abra-o

Sem dizer nada, Vera pegou o embrulho, abriu, era uma correntinha com um coraçãozinho de ouro.

- Obrigada, César – disse, consternada.

Ele chegou perto do berço, olhou a menina que dormia como um anjo. Depois ficou olhando a mãe por alguns minutos de silêncio. Vera vestia uma camisola longa, toda bordada, os cabelos cobriam seus ombros. Continuava parada com o presente nas mãos. Vendo que César a olhava tanto, hesitou, pôs o presente sobre o criado-mudo. Sorriu num momento depois disse:

- Você me desculpa... estou de camisola, não devia ter te recebido desta maneira... mas você foi entrando...

- Eu te conheço. – Disse ele – Você era novinha, lembra-se? Agora é uma linda mulher. Já é mãe. Como se chama sua filha?

- Eu ainda não sei. Ela nasceu há quinze dias, mas eu ainda não sei...

Vera saiu do quarto, César a acompanhou até a sala, onde ficaram em silêncio, se olhando... Um choro os interrompeu. Vera correu para o quarto, a menina esperneava no berço, a mãe a pegou.

César ia saindo, quando Joana vinha com uma bandeja.

- O senhor aceita um cafezinho? – indagou a criada.

- Não, obrigado, já estou de saída.

César, já na rua, andava apressado. Aquele reencontro com a mulher que fora sua amante há dez anos atrás, e que agora estava casada com outro, lhe dera uma enorme inquietação.

Ela, há dez anos, tinha apenas quinze, ele vinte e cinco. Era um amor puro, mútuo, mas durou pouco. Vera não mudara nada, estava linda como sempre fora. Por que ele a deixou? Por que não se casou com ela? Estas perguntas vinham-lhe na mente, deixando-o perturbado.

Caminhava sem rumo, não sabia onde ir. Entrou num bar sem querer, bebeu o mais que pôde e novamente e pôs a caminhar a esmo. Bêbado, ele gritava no meio da multidão:

- Eu amo a Vera!

Todos o olhavam com espanto. Muitos diziam: “É um louco”.

Vera, em casa pensava nele.

No dia seguinte, lendo o jornal, se deparou com estas horrível notícia: “O Dr. César Barros, estimado médico em nossa cidade, faleceu, vítima de acidente de trânsito...” Ela não terminou a leitura, saiu com seu carro. Pediu à Joana que tomasse conta da criança recém-nascida.

Seu desaparecimento foi publicado em todos os jornais, foi grande assunto na televisão. O marido enlouqueceu.

Vinte anos depois, a Menina, assim chamada por todos, pois ninguém lhe dera nome, encontrou Vera num asilo, e como vivia só num apartamento em Copacabana, resolveu assumir Vera como uma companheira, ou seja, sua mãe adotiva.

Porém, nenhuma sabe que são mãe e filha verdadeiras!

Kátia Susana Perujo.

Susy
Enviado por Susy em 22/11/2006
Código do texto: T298193