SÓ DEUS SABE, SE MEREÇO! - Capítulo XI

CARO(A) LEITOR(A), ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS, PARA ENTENDER A HISTÓRIA SUGIRO LER OS DEZ CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

Elizabeth cresceu muito saudável, uma criança muito ativa, mas não a curti muito, pois depois do seu nascimento me enterrei nos estudos com muita garra, para tentar recuperar o tempo parado. Gizelda a criava como filha e eu ficava despreocupada.

Estudei e me formei em Direito.

Achei por bem mudar-me para o interior, pois a cidade grande não dava muita margem de trabalho pelo grande número de advogados que existe e o mercado de trabalho fica escasso.

Instalei-me aqui em Trindade e me dei muito bem. Logo depois Armandinho veio também. Resolvi sair do Rio mais pela falta de mamãe, ela morreu e eu fiquei muito sentida, longe do lugar onde convivíamos juntas foi mais fácil superar. Às vezes a saudade aperta mas consigo sair dela.

A morte de mamãe nos pegou de surpresa, ela estava boa, de repente sentiu uma dor no braço, a dor foi aumentando, papai levou-a para o hospital, mas ela já chegou inconsciente e só durou mais duas horas. Foi uma barra. Sofremos muito.

Cheguei aqui na cidade de Trindade em 1977. Recém-formada, mas tive muita sorte, logo comecei a trabalhar e ganhar a confiança do povo, que logo no primeiro ano me elegeram vereadora, mas não segui a carreira política, apesar dos políticos da cidade terem insistido muito comigo, mas não aceitei porque acho que tudo que a gente se dispõe a fazer tem que ser bem feito e eu gostava muito da advocacia e optei pela minha profissão.

* * *

Depois do acidente fui obrigada a deixar porque não tenho mais aquela paciência de antes e sei que não iria desempenhar bem o meu trabalho. No início, logo depois que me recuperei, as pessoas me procuravam, mas eu fiquei com medo de não desempenhar bem o meu trabalho. As empregradas às vezes me falam que as pessoas falam que eu era tão boa advogada, mas agora que eu fiquei louca, não sou mais. Não acredite! Eu não sou louca, loucos são eles. Eles falam isso só porque eu faço o que dá na cabeça. Que mal há nisso, não é?

Sobre o acidente, foi terrivel! Não sei como consegui sair viva, todos que viram o carro em que estava, ficaram admirados em saber que não morreu ninguém, talvez não morreu porque estava só eu.

Olha como são as coisas, Goiânia, a capital do Estado fica há poucos quilômetros daqui, então muitos dos meus processos eram resolvidos lá, então eu ia até três vezes na semana, e sempre que possível, levava os meninos comigo. Eles ficavam na casa da Elisa, uma grande amiga que tenho lá em Goiânia e eu ia para o Fórum resolver meus processos.

Nesse dia, Luciano não tinha aula e insistiu para ir comigo:

- Deixa, mamãe, ir com você!

- Não, meu filho, hoje eu estou muito atarefada e não tenho tempo de te levar à casa de Elisa.

- Eu vou com você para o Fórum, deixe eu ir, mamãe, por favor!

- Não, meu amor, Fórum não é lugar para criança, é muito cansativo, fica aqui mesmo, você se divirtirá muito mais.

Sai com o "coração na mão", pois não gosto de ver os meus filhos contrariados. Luciano ficou chorando, quase voltei atrás, mas Deus me iluminou e eu não o fiz. Se ele estivesse comigo não sei o que seria, o que teria acontecido com ele.

Na ida foi tudo bem, mas na volta, não sei como explicar, sinceramente, até hoje tento lembrar, mas não sei, não me lembro. Só sei que o dia foi muito exaustivo, demorei muito para resolver uns assuntos, andei muito, falei muito, enfim, me desgastei. Na volta estava muito tensa e cansada.

Já era escuro, mais ou menos às sete horas, ia pela rodovia, aqueles faróis altos me cansando mais, só sei que apareceu uma carreta na minha frente, não sei se dormi no volante e acordei com a carreta na minha frente. Só sei que em vez de tentar desviar eu joguei o carro para mais perto e só ouvi um estrondo, senti meu carro entrando debaixo da carreta. Ouvi gritos, talvez tenha sido os meus mesmos, ouvi vozes dos meninos, de Elizabeth, de Carlos, enfim de todos. Foram poucos segundos, mas suficientes para acabar com uma vida. Só que não era a minha hora ainda. Deus não quis que eu fosse naquele momento.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 23/11/2006
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