A FÍSICA DOS CHIFRES

“Ser corno ou não ser, eis a minha indagação?” (Mamonas Assassinas)

Percebi nos Mamonas uma faísca de genialidade para parafrasearem uma das frases mais conhecidas do mundo. A pergunta, a indagação dos meninos de Guarulhos é por demais pertinente, afinal, quem de fato sabe se é corno ou não?

Bem diz o chavão popular que o marido traído é o último a saber da traição. Contudo, penso eu que a palavra traição possui uma conotação muito pejorativa, pois, não haverá maior traição do que negar a si mesmo a realização de suas vontades?

E se alguém de fato foi traído, cá entre nós, não espalhem, é porque mereceu. A ‘galha’ que agora ostenta em sua cabeça é bem merecida.

Nisso, gostaria de advertir o meu leitor do sexo masculino. Sim, você que é todo seguro de si e pensa que está com a bola toda, cuidado!

Cuidado, pois a resposta para a indagação feita pelos Mamonas, no seu caso, pode ser afirmativa. Você pode estar levando um belo de um par de chifres sem nem desconfiar.

Eu sei leitor amigo, não é fácil, eu bem sei, não é nada fácil darmos conta desta mulher do século XXI. Ela trabalha, estuda, é inteligente, sabe muito bem se virar sem nós e: o que ao mesmo tempo é bom torna-se um risco, aliás, um enorme risco, pois agradar essa mulher e mantê-la longe das tentações do mundo é cada vez mais difícil e trabalhoso.

O amigo leitor que possui uma mulher deste tipo deve ficar muito atento. Eu te explico, leitor, o porquê desta necessidade de atenção redobrada, eu te explico de forma bem didática para que entenda e faça o seu dever de casa, ou senão... Moooooooooooooooooo!!!!!

Hoje existem coisas maravilhosas como a Internet e os telefones celulares. Existem sites de relacionamentos aos milhares, as distâncias praticamente não existem mais, e nesses sites, inclusive neste Recanto, há muitas e variadas pessoas.

Talvez, modesto leitor, haja pessoas mais interessantes do que você, ou muito mais interessantes do que você. Tudo bem, estamos falando apenas sobre hipóteses, não se ofenda.

Imagine, cândido leitor, esta tua mulher inteligente e bonita tomando contato com todo esse universo de possibilidades? Se você não se mexer muito rapidamente, se não começar a prestar atenção nessa moça que está aí ao seu lado, certamente haverá alguém que fará este serviço com um ENORME, um IMENSO prazer.

E o resultado você já sabe: Vai ficar mais difícil para você passar pelos batentes das portas sem ter que se abaixar para não bater os galhos que carrega na sua cabeça.

Eu preciso também dizer ao leitor do sexo masculino, cheio de si, sempre, que essa história de chifre tem uma, desculpe repetir o termo, história.

Sim, leitor, essa história provém do Brasil colônia, nos tempos obscuros das ordenações Filipinas que regiam o ordenamento jurídico brasileiro.

Era assim: Quando uma mulher era descoberta em prática de adultério, a coitada era sumariamente morta. Ela e o Ricardão da ocasião.

Assim era o que dispunha a lei da época, a mulher devia ser assassinada, aquele que a 'comeu' também, e o marido traído deveria usar por todo o lugar que fosse um chapéu com chifres, tal qual ao de um viking, denunciando a todo mundo a sua condição de marido enganado.

O nome então pegou.

Corno é um outro nome para chifre, e a cultura brasileira assimilou bem esse adereço de touros, bois e, principalmente, de homens.

No nordeste, por exemplo, existem ‘Clubes dos Cornos’, existem cachaças com alusões às questões do adultério, existem romances abordando a infidelidade conjugal, mandamentos religiosos com restrição à multiplicidade de parceiros sexuais, enfim...

É um tema cantado em verso e prosa, e não há ninguém que não conheça um amigo ou parente que nunca tenha dado aquela ‘pulada de cerca’ tão comum desde sempre.

E por incrível que pareça, quando eu estava ruminando sobre a escrita deste texto, pensando naquilo que colocaria aqui para vosso deleite, minha querida leitora - você sabe que estou falando de você - encontrei uma mulher no trem.

Ela era idosa e tinha um aspecto horrível, dentes feios, cabelo esquisito, era de verdade uma coisa medonha essa velha coroca com quem conversei.

Dizia-me ela apontando uma garota de shorts:

- Nesse frio, e ela com esse shortinhos! Que pouca vergonha! Onde já se viu alguém usar um shorts deste neste frio! Em meu tempo não havia dessas coisas não. Sou casada há 39 anos com meu marido. Hoje em dia não há mais respeito... (pobre marido!)

Eu, como gosto de ouvir todos os tipos de retóricas das pessoas, dei corda à mulher para que falasse. Olhava para ela com atenção e seriedade, mas dentro de mim ria-me de suas concepções extremamente moralistas e reacionárias. Disse a ela que talvez a menina tivesse outros motivos que não a temperatura para usar aquele shorts.

E a velha me disse mais: Falou sobre um caso real de marido traído que executou o amante de sua mulher. Disse que deu um grande bafafá, teve polícia e toda aquela desgraceira de gente pobre...

Então a velha, para minha sorte, foi para outro lado.

Mas fiquei a pensar sobre esses casos de maridos traídos violentos, que querem ‘lavar a honra com sangue’, fiquei com medo pois não quero encerrar minha carreira de Great Richard assim tão prematuramente.

Deus me livre desses chifrudos violentos!

Mas, não se canse ainda leitor e leitora, principalmente esta última, que sabe que é Especialíssima. Se o leitor do sexo masculino se cansar agora, por mim tudo bem.

Pare de me ler e leia sobre outros assuntos; talvez física ou química. Matemática também é uma ótima matéria para se estudar enquanto sua mulher pensa em outros homens...

Vá lá e deixe que ela continue lendo esse meu conto, beleza?

E por falar em química e física, lembrei-me de um casal que discutia sobre essa última matéria. O marido não se conformava com a mulher não entender sobre física:

- Mas, meu bem, é tão fácil isso que estou te dizendo; você apenas deverá dividir a hipotenusa do quadrado de quinhentos e trinta e três elevado a treze, depois multiplicar esse resultado pela quinta parte de um número primo indeterminado.

Não é bem simples, meu bem, e você tem toda essa dificuldade?

A moça olhava para ele e se sentia burra.

Injustamente, é claro, pois ela entendia de muitos outros assuntos, muitas e variadas outras coisas, mas a indelicadeza do sujeito achava que ela deveria entender sobre física também.

Para ela, que era de fato alguém inteligente, aquilo era uma ofensa. Afinal ela não era obrigada a saber sobre física e nem sobre qualquer outra coisa, enfim...

Enquanto o marido dissertava sobre seu conhecimento de física, a moça pensava também em física. Contudo, não era na física newtoniana muito menos na quântica, mas essa física pensada por essa mulher, era mais especificamente a física anatômica.

A anatomia masculina de alguém que no dia anterior havia lhe dado o que o marido já tinha deixado de dar.

E o que ela ganhou dessa ‘anatomia’ masculina?

Um ‘almoço executivo’ como dizem por aí.

Foi a um motel com alguém que conheceu e ganhou muitos carinhos e vários orgasmos. A transa foi muito, muito boa, com tudo o que tem direito; ela ficou muito satisfeita e há a promessa de que isso se repita indefinidamente.

O marido continuava a falar sobre sua física, o Dr. galhudo dissertava sobre seus conhecimentos e a moça pensava na tarde anterior. Olhava para o celular e pensava que podia estar nos braços de seu novo amor naquele exato momento, era só ela querer.

Então o marido terminou sua novíssima tese sobre física, tese esta que provavelmente o levará a receber o prêmio Nobel desta matéria, juntamente com o prêmio de galhudo do ano.

Foi para cidade buscar alguns víveres que a casa necessitava, e deixou sua mulher refletindo livremente sobre as possibilidades que a vida lhe oferecia.

Ele entrou no carro e foi.

Uma música veio à mente da menina, num misto de vingança e deboche, pelo ocorrido na tarde anterior:

“Lá vai ele com a cabeça enfeitada, sem saber que sua amada está nos braços de outro alguém”.

Riu-se consigo mesma e continuou a pensar naquele inesquecível 'almoço executivo'.

E, pensando em toda essa história, gostaria de descobrir o endereço de uma determinda pessoa. Sim, pois vou encomendar, diretamente da Noruega, um lindo chapéu viking para adornar-lhe a cabeça.

Quem sabe o uso público desse chapéu o faça perceber que as pessoas não são obrigadas a entender sobre física, por exemplo.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 28/05/2011
Reeditado em 28/05/2011
Código do texto: T2999592
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