O MENDIGO
O MENDIGO
Sergio Pantoja Mendes
Hoje que aqui volto, buscando reencontrar os sonhos e as aspirações perdidas em um passado distante, é que sinto que o tempo não pára e faz com que tudo mude. Mudei eu, que já a nada mais aspiro. Mudou minha terra; é mais moderna, mais próspera... A casa do seu Manoel, deu lugar a um grande e moderno edifício. O barzinho da esquina, é agora uma imensa lanchonete, com mesas e cadeiras na calçada e uma turma alegre de jovens faladeiros, com suas roupas vistosas.
Um sentimento de rancor me assalta ao vê-los. Rancor contra mim próprio. Porque eu, assim como eles, também já fui jovem. E na minha juventude, saí pela vida. Procurando achar, mas sem criar raizes... E procurando mais e mais e não encontrando... E então subindo, lá no alto e depois caindo; de uma queda só... E foi somente hoje ao voltar, que notei as modificações sofridas por mim e pela minha terra. E então senti saudades... Senti saudades das minhas ilusões... Senti saudades das corridas pelas ruas, da casa do seu Manoel, do barzinho da esquina... Senti saudades do tempo passado, do tempo guardado na lembrança e esquecido no fundo de uma gaveta qualquer... Senti saudades daquele tempo, daquele tempo que o tempo não mudou...