Cotidiano I. Lirismo dos Loucos.

São Paulo, 19 de janeiro de 2.000 - 17:03.

“Quero antes o lirismo dos loucos, o lirismo dos bêbados, o lirismo difícil e pungente dos bêbados... O lirismo dos Clows de Shakespeare... Não quero mais saber de lirismo que não é libertação...”

Contra: homonormalis; individualização e padronização da mente humana.

“Não, não quero nada! Já disse que não quero nada! Não me venham com conclusões, a única conclusão é a morte. Não me tragam estéticas! Não me falem de moral! Queriam-me casado, fútil, cotidiano e tributável?”

Alguns morreram por suas obras, não obrai para morrer-te! Frase dita em vagão de metre, em 05 de junho de 2.000, às 23:30.

“Cria teu ritmo e criarás o mundo”.

Sob o domínio do princípio do desempenho, o corpo e a mente passam a ser instrumento de trabalho alienado. Tudo o que não é literatura me aborrece! Kafka.

É preferível a angústia da busca à paz da acomodação.

“A atenção faz os homens graves, prudentes, capazes dos maiores empreendimentos e das mais altas especulações”. Bossuet.

“Quanto mais se quer, melhor se quer.

Quanto mais se trabalha, melhor se trabalha e mais se quer trabalhar.

Quanto mais produzimos, mais nos tornamos fecundos.

Em primeiro lugar, começa, e depois serve-te da lógica e da análise. Qualquer hipótese quer a sua conclusão.

O homem, isto é, cada um de nós, é tão naturalmente depravado que lhe custa menos suportar o rebaixamento universal do que estabelecer uma hierarquia justa”. Charles Baudelaire.

O visível é a medida proporcional do invisível.

“A crença no progresso é uma doutrina de preguiçosos; é o indivíduo que conta com os vizinhos para fazer o seu trabalho.

Não pode haver progresso (verdadeiro, ou seja, moral) a não ser no indivíduo e pelo próprio indivíduo. Porém o mundo é feito de pessoas que não sabem pensar senão em comum, em bandos.

Por outro lado, homens há que não se podem divertir senão em bando. O verdadeiro herói se diverte sozinho” Charles Baudelaire – Meu Coração Desnudado.

23.03.2.000 – 13:45.

Nova agenda, novo dia, minutos nunca antes vividos... O chefe me chama! Assim como a cor da nova agenda, em relação à velha, presume-se um amadurecimento. Espero também um meu amadurecimento espiritual.

24.03.2.000 – 09:31.

Vou ter que fazer algumas explanações em sala de aula, sobre Obrigações. Portanto, fica suspenso “in fine” qualquer tipo de pensamento subversivo.

18:28.

Após o dia de trabalho, dia quente, corrido, como um bom cachorro-quente, um real, suo igual um gelo fora da geladeira, vago, reflito, arrependo-me de algumas míseras decisões, sofro, como sempre, antecipadamente, por coisas de dias que talvez nem cheguem, perco cabelo, líquidos, neurônios, juventude e, no final da noite, a consciência...

A vida é circunstancial. Uma decisão tomada há segundos atrás, não tem, necessariamente, que ser idêntica à do segundo posterior. Vivemos, andamos todos os dias batendo de cara com o desconhecido. Procurar fazer o melhor, manter-se, pensar melhor a cada instante da vida é o maior bem que possamos praticar a nós e aos outros, sem contar o universo, no Todo, interagindo com nossas decisões. Por exemplo, quando leio e escreve e essa leitura ou escritura fluem num todo com o Universo, sentindo algo tão poderoso e forte no meu íntimo, como se fosse o ciclo natural das coisas dentro de mim enviando interação aos ares, lagos, mares e seres no geral, a própria natureza embrenhando-se no meu espírito.

20:59.

Após uma produtiva aula de Prática Processual Civil, sobre Mandado de Segurança, procuro e acho um silêncio, agenda, caneta e cerveja. Medito.

Estranho, no local que me encontro, normalmente está lotado de “bichos-grilo”, mas hoje não, está quase vazio.

Há muito que venho propondo-me, intimamente, estas atitudes, ao beber, o silêncio, a concentração e reflexão sobre o dia, o futuro, o passado, enfim, sobre o que se passa na minha vida, sem influências, seja de música, conversas ou amigos.

E hoje, eventualmente, devido à falta de um amigo, pois devíamos nos encontrar às 8:30, na porta da sala de aula, vejo-me numa situação de solidão prazerosa.

Olha, não dá pra imaginar o efeito que causam certas opiniões boas de outrem em relação à sua pessoa! Homenagens, elogios ou até previsões duvidosas causam-lhe uma enorme sensação de bem-estar. Desde que não sejam demagogas ou externadas sarcasticamente por indivíduos pseudo-sábios, lógico. A de hoje, pela maneira como foi exposta, brusca, sem rodeios e sincera, causou-me um certo espanto feliz. “Não sou vidente nem interesso-me por esse tipo de assunto, mas você sabe que eu acho que você vai ser um grande advogado, e terá um brilhante futuro!”.

Muito bom. Mudou, apesar de já estar no final, meu dia.

Se morresse hoje, por acaso, sentiria, não importando a pessoa ou o cargo que ocupo, realizado. Isso faz muito bem, não só ao ego, mas em todo o composto bioquímico que é o ser humano.

É, algum filósofo, não me lembro o nome, disse:

“O homem não passa de um composto químico destinado a desintegrar e, conseqüentemente, desaparecer”. O homem em si, ser corpóreo, material, sim, mas, a essência, o espírito, é eterno. Tal filósofo não se aprofundou.

Bons princípios e atitudes de esforço positivo só tendem à satisfação, com brilho, clareza e busca pelo conhecimento. A conseqüência é a evolução. Boas teorias, quando jogar na prática...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 13/06/2011
Reeditado em 14/06/2011
Código do texto: T3031627
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.