A REVOLTA DAS PARIDEIRAS

Vicentino foi sócio proprietário de milhares de hectares de terra no Norte do Maranhão. Seu sócio era um empreendedor capitalista, da capital paulista que ele nunca viera a conhecer. Há alguns anos, Vicentino precisou vender a maior parte de suas terras, pois não dispunha de finanças para manter e fazer render dinheiro em tanta terra. Sendo assim, o fazendeiro nordestino vendeu metade de sua herança a um empresário paulista que dizia que revolucionaria o mercado de caprinos no nordeste. Como e do conhecimento de todos que no Nordeste criam-se muitas ovelhas e cabras, por serem poucos consumidores de água, e por serem também animais de fácil manutenção e baixo custo de criação.

A negociação de venda foi feita por intermédio de corretores que lucraram a outra metade de sua herança, passando para trás o coitado de Vicentino. Este não teve oportunidade de estudar, tampouco tinha conhecimento no mercado imobiliário. Seu falecido pai era o único que tinha estudos em casa, e por ser fazendeiro rico, todos os pais lhe ofereciam filhas para se casarem com ele. Sua saudosa mãe, foi oferecida pelo pai para se casar com o rico fazendeiro, era bela e formosa ate na sua velhice, em troca do casamento o sogro do fazendeiro exigia uma quantidade de terra. Por tamanha maldade, morreu no dia em que sua filha se casou, sem usufruir o que lhe era predestinado, então o fazendeiro manteve por cativa a sua esposa ate ela dar a luz a Vicentino, o único herdeiro do fazendeiro.

Quando seus pais faleceram, Vicentino, apesar de seus 48 anos, era solteiro, pois ainda tinha a ilusão de que por seus pais possuírem tanta terra acreditava que era rico, por esse motivo levava a vida ‘as pompas. Era o solteirão mais cobiçado da redondeza, mas depois da morte de seu pai e consecutivamente, apenas três meses, foi a vez da sua mãe, daí em diante as coisas começaram a complicar. Era o filho único, herdaria tudo, muita terra, entretanto pouco gado, nada de dinheiro e muita divida.

Foi ai que surgiu a oportunidade de vender um pouco de suas terras, no dia da negociação mesmo, por telefone, o tal empresário propôs um produto, importado da Irlanda, que viria a revolucionar o comércio de caprinos local, e posteriormente de todo nordeste. No dia que o produto chegou, Vicentino foi a um porto pluvial que fica no litoral nordestino, nas intermediações do município que ele morava.

Não sabia do que se tratava, então não foi com outro meio de locomoção a não ser sua velha lambreta. O navio estava na encosta, e os comerciantes iam à procura de seus pertences. Vicentino se apresentou e perguntou pela encomenda que havia em seu nome, para sua surpresa, os tripulantes do navio apareceram arrastando uma corda, e, meio que empacado, um enorme bode, com uma enorme barba e um enorme saco crostal.

Saiu puxando na sua motoneta aquele bode, algumas horas ele empacava, e com o tranco Vicentino ia pro chão. Ao passar pela cidade, o povo olhava perplexo, pois nunca se vira por aquelas regiões tão grande saco, quer dizer, bode. Ao chegar à fazenda, no pasto em que ficavam as cabras de cria e recria, assustaram, e danaram a berrar e correr ao redor da cerca apavoradas. O bode se achando o garanhão berrava satisfeito, soberano ele juntou ao rebanho.

Quando menos esperava, ao passar três meses, todas, sem exceção de uma, as cabras estavam paridas, algumas com três, outras com quatro, mas nenhuma com apenas um filhote. Os outros bodes que havia na fazenda sumiram, sem explicação, ate hoje não se sabe se foi por uma cerca estourada ou se foram abduzidos. Numa noite, Vicentino ouviu barulhos dos quais não era acostumado ouvir, a aberração foi geral, e, no dia seguinte, quando foi dar rodeio no rebanho não notou a presença de nenhum outro macho sequer, nem filhotes machos, o bodão reinava.

Foi ai que todas as fêmeas resolveram apelar para o bom senso, andavam sempre enfileiradas, dia após dia, e ao voltar, ao final de três meses, quando estava prestes a nascer à primeira cria, começava tudo de novo desde a primeira da fila.

Paul Darline
Enviado por Paul Darline em 13/06/2011
Código do texto: T3032651
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.