O FILO, A FILA E O FIO...

Rita adorava o teatro, a música, a dança, a arte em geral, que fervia em suas veias. Filha de artistas – avô materno poeta, mãe , um verdadeiro rouxinol, pai violinista, de família de cineastas famosos. Globais. Raramente assistia a um espetáculo. Aposentada, não podia se dar ao luxo de exagerar no supérfluo. Mas, lera no jornal que já estavam abertas as vendas de ingressos para o FILO - Festival Internacional de Teatro que todo ano acontecia em sua cidade, Londrina-PR. O maior da América Latina, ! Um megaespetáculo , imperdível! A nata da dramaturgia brasileira e também internacional presentes . E, o mais importante: a preços populares,-- coisa rara neste país -- com desconto para os primeiros ingressos , melhor ainda! Naquele sábado frio, levantou-se cedo, arrumou seus cabelos brancos, naturais- - à Christine Lagarde -- e foi para cidade, toda faceira! A fila era brasileira, dessas onde o paciente morre antes de chegar o socorro! Mas, por nada perderia a chance de adquirir os tais ingressos! Foi então que surgiu-lhe uma luz e perguntou à filha -- Filha, será que não há uma fila para pessoas com deficiência, idosos, etc? Mais que depressa a filha foi verificar. Depois de algum tempo , porque estavam realmente distantes do posto de vendas, ela volta com a boa notícia: claro, havia!. E para lá foram. Com a fé e a coragem, arriscar. Valia a pena. Ainda assim, a demora era grande. Mais de noventa peças a serem escolhidas! O jeito era trocar ideia com o pessoal, para o tempo passar mais rápido. Havia uma grávida jovem à frente de Rita. Barriga enorme. Esticada. Quase parindo. Extrovertida. Simpática, mas, inconformada com a falta de respeito do pessoal da fila especial-- jovens com filhos grandes no colo, grávidas sem barriga, e assim por diante—coisas do jeitinho brasileiro . E, quando menos se esperava, estava a grávida reclamando, chamando fiscais, dando a maior bronca l. Curiosa, Rita perguntou-lhe discretamente, sua profissão -- Sou Investigadora da Polícia Civil, respondeu , com uma ponta de orgulho e autoridade! Com frio na barriga, Rita esboçou um sorriso amarelo – articulando, com dificuldade, um -- hãaaa, interessante profissão para uma mulher. Boa de conversa, a investigadora não parava de falar de sua função. Não havia crime que ela não desvendasse. Um Sherlock Holmes de saia! Escarafunchava tudo, até a alma do cidadão para destrinchar o caso, vangloriava-se . -- Vou fundo. Mulher é mais intuitiva, criteriosa, perspicaz--- a senhora não acha Dona Rita? – sim, sim, concordo plenamente com Senhora! Sem dúvida, as mulheres são imbatíveis!. O tempo foi passando, Rita cada vez mais preocupada. A policial conseguiu questionar quase a maioria dos que ali estava. E fazia questão de se gabar: -- comigo é assim, questiono mesmo. Não deixo passar um fio de cabelo! Finalmente, chega sua vez. .... Rita respira aliviada! Despediram-se. Trocaram telefones. Gentilezas.—( Um fio de cabelo preto, ruivo, louro -- pensou consigo Rita de 58 anos, -- branco, uma cabeça inteira) !

Benvinda Palma

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 16/06/2011
Reeditado em 24/08/2013
Código do texto: T3037939
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