O CACHORRO DO HOMEM

Os fregueses do mercadinho da avenida observavam, curiosos, as cenas interessantes que se desenrolavam na residência do outro lado da rua. Zecão, um velho conhecido do bairro, estava deitado em frente ao portão de uma casa; Bêbado.

Era manhã de domingo, e o morador queria tirar o carro da garagem e sair com a família. Mas deparou-se com esse mero incidente. Um homem, ali, desacordado.

Seria simples resolver o problema: bastava acordá-lo ou arrastá-lo para o lado. Mas havia um pequeno, mas determinante empecilho: O cachorro.

Zecão era um homem bom, trabalhador e amigo das pessoas. Mas tinha um problema: bebia muito nos fins de semana. Principalmente aos domingos, passava uma coleira no pescoço do seu cachorro de nome “Guaraná”- nome até contraditório- e saía de bar em bar, bebendo e jogando conversa fora.

Acontece que Guaraná era um vira-lata de porte grande e muito, mas muito bravo.

E então aconteceu nesse dia, que, após beber demais, ainda de manhã, Zecão sentou-se e acabou dormindo em frente à garagem de uma residência com a corrente do cachorro enrolada na mão direita. Quando o cidadão, precisando sair com a família, educadamente tentou abordá-lo, foi, de pronto, atacado pelo cachorro que, fiel, visava proteger o seu querido dono.

Dentre as pessoas que assistiam a cena no mercadinho em frente, apareceram voluntários que, solidários ao morador, se prontificaram a ajudar.

Mas o cachorro não arredava o pé de seu direito de proteger àquele que o alimentava, seu dono querido, e atacava qualquer um que tentasse se aproximar. E Zecão não acordava.

Gritaram, cutucaram-no a uma distância segura, jogaram água, tudo sob os latidos intermitentes do cão, agora muito irritado. E nada.

A solução foi chamar a esposa de Zecão, já que moravam a apenas trezentos metros dali.

A ela, certamente o cachorro obedeceria.

E veio então dona Inez, uma mulata não muito alta, mas bonita, com uma cara muito brava e toda nervosa diante da palhaçada do marido.

O cachorro, vendo-a, acalmou-se. Então ela pegou a corrente na mão, olhou com desdém a figura patética do pobre coitado estirado no chão, e disse resoluta:

- Este cachorro eu vou levar. Este outro que fique aí!

E saiu pisando duro.