Uma Lágrima Transparente

Era fim de tarde e o menino voltava da escola. Não vinha como os outros, em turmas, distraindo-se com jogos ou brincadeiras de soltar pião. Ele caminhava sozinho.

O garoto observava, com tranqüilidade, as casas e as ruas estreitas. Sim, era uma cidade pequena. Em frente a cada casa, uma árvore plantada, servindo-lhe de adorno natural.

Pela manhã, chovera bastante e a cidade conservava um aspecto frio e triste. As pessoas traziam consigo uma melancolia expressa no rosto, talvez pela proximidade das dezoito horas, esse horário sombrio em que não se define mais se é dia ou noite. Ou talvez essa tristeza fosse os prenúncios da chegada do inverno com sua frieza.

O menino caminhava sobre o meio-fio buscando equilibrar-se. Em sua brincadeira solitária, pensava no dia seguinte, o sábado tão esperado. Sentia-se feliz por não precisar ir à escola, mas o final de semana nunca lhe reservava outras novidades.

Sentou-se no meio-fio, próximo à raiz de uma árvore e ficou a contemplar algumas joaninhas bem próximas, que por lá passeavam em grupo. Os besourinhos eram companheiros e parecidos entre si e o menino sentiu vontade de possuir amigos dessa forma: companheiros e parecidos.

Em sua escola, às vezes, chamavam-no de menino triste, outras vezes, de menino pobre. Embora lá não houvesse crianças ricas. Existiam aquelas que se sentiam assim. E isto enchia de tristeza o coração puro do garoto.

Entretido, ele nem percebeu que a noite chegara. A luz fraca do poste já acendera e na raiz da árvore já não se notavam os besourinhos vermelhos de bolinhas pretas. Talvez tivessem ido embora. Em grupo como estavam, deviam ser felizes.

O sino da igreja tocou as ave-marias e isto o fez lembrar das horas. Já era noite.

O garoto se levantou e pegou sua mochila desbotada. Percebeu nela um pequeno rasgo no lado esquerdo. Mais um remendo que sua mãe faria e que serviria de risos aos meninos de sua sala.

Com esse pensamento, caminhou para casa. Ao passar pela padaria do Seu Gomes, lembrou-se que sentia fome e nem sempre havia jantar em casa. Se fosse o homem-aranha, construiria um castelo de teias num mundo fantástico e levaria a sua família para viver nele. Num mundo mágico, onde tudo fosse mais alegre e mais feliz.

Ao chegar em casa, o garoto percebeu a sua janela fechada. Não a abriu, porque já era noite, o frio entraria e sua mãe viria reclamar. Sentiu, sim, enorme vontade de poder ficar nela e poder viajar em suas cogitações. Mas desistiu da idéia. Então, pegou um livro e sentou-se numa cadeira velha de balanços que havia na sala. No livro, figuras de muitas coisas que desconhecia. Ele, então, conheceu mundos fantásticos, sonhou com mundos fabulosos.

O menino sentiu seus olhos ficarem pesados de repente e na penumbra daquele ambiente pouco iluminado caiu apenas uma única lágrima, transparente como a tristeza do menino, mas bem percebível como a pureza de seu coração.

Nonato Costa
Enviado por Nonato Costa em 03/07/2011
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