A FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


          A cada ano, no mês de junho, os paroquianos do Sagrado Coração de Jesus festejavam-no solenemente. 

       A festa tinha início com uma caminhada, ao som da banda de música, sob a regência do Mestre Olívio e da banda de pífanos, os famosos cabaçais, conduzindo a bandeira vermelha com a estampa do nosso padroeiro, pelas ruas da cidade. Após a acolhida calorosa, a bandeira era hasteada no patamar da Igreja, no mastro ou “pau da bandeira”, bem próximo ao cruzeiro; aclamada por uma salva de palmas e fogos de artifícios à vista de todos os paroquianos. 

        A programação da festa geralmente era divulgada antes; no dia da Coroação de Nossa Senhora. A esta altura, os noitários já estavam em plena atividade, buscando a colaboração dos amigos das zonas rural e urbana. Todos contribuíam com boa vontade e amor. Cada um já havia separado sua doação: Um garrote bom, uma ovelha bonita, um percentual da sua colheita ou um capão dos melhores. Indiscutivelmente o Sagrado Coração de Jesus merecia receber o melhor de cada um. 

       Durante o período que antecedia a festa, grande era a animação de toda a população que se dividia em dois partidos: azul e vermelho; trabalhando cada um para eleger a sua candidata a rainha. Para arrecadação de fundos, cada partido usava sua criatividade. Vendiam lacinhos de fita na cor do partido, faziam rifas e sorteios, inventavam jogos com os corações dos namorados e tantas outras coisas que além de lucrativas eram divertidas. 

       Todos os dias da novena havia alvorada às 5 (cinco) horas da manhã. Era gostoso acordar ao som das bandas misturado ao canto dos passarinhos ou assustados pelo estampido dos fogos e bombas. Ao meio dia e as 18:00 horas as bandas apresentavam-se outra vez, sob salva de fogos e a aprovação popular, principalmente das crianças. Entre estas, havia sempre quem chupasse limão para que o tocador de pífaro enchesse a boca d’água e se atrapalhasse. 
         
         Na novena solene a ladainha era cantada em latim, acompanhada pela banda de música, e o órgão que ocupava lugar de destaque no coro da Igreja, tocado por D. Rosa Roberto. Os leilões eram ponto de atração para todas as famílias. As prendas doadas pelas esposas deveriam ser arrematadas pelos esposos, o que levava os amigos a colocá-los em situações difíceis, oferecendo lances muito altos. Os vidros de “Regulador Xavier” e “Robusterina” causavam um grande rebuliço entre os homens. Ninguém queria ser presenteado por eles e assim devolviam os lances para que a prenda fosse destinada a outra pessoa. Eram momentos divertidos e rendiam um bom dinheiro. 

        A missa solene, na manhã do domingo, era celebrada as 9:00 horas, em latim, com o padre de costas para a assembléia, como mandava a liturgia na época. Ali estavam todos os paroquianos vestidos a rigor. Após a missa todos na praça 7 de setembro ouviam a retreta ao redor do coreto. No final da tarde, estavam todos novamente na Igreja para acompanhar a grande procissão, quando todas as imagens dos Santos eram conduzidas pelas famílias que ornamentavam os seus andores. O estandarte e o andor do Sagrado Coração de Jesus eram sempre conduzidos pela família “Santana”, tradição que foi transferida de vovô Zé Denguinho para tio Senhor (Manoel Denguinho) desde a sua ida para o Paraná. O povo era organizado em filas, sob os cuidados do Sr. Expedito Simplício, coordenador da Irmandade do Santíssimo Sacramento; este cuidava para que não houvesse falhas e tudo transcorresse com perfeição para honra e glória do Padroeiro. Que emoção, a chegada da Imagem do Sagrado Coração de Jesus à Igreja!!! As pessoas em filas laterais desde a Usina Colins aplaudiam-no até adentrar o templo. Era dada a benção do Santíssimo Sacramento ao povo, pelo Padre Pedro, e em seguida divulgado o resultado financeiro da festa. 

        A rainha eleita era coroada e o noitário do primeiro lugar conduzia até sua residência a bandeira, para com os amigos festejarem a vitória, após a queima de fogos. Para a criançada este era o melhor momento. Todos se “deslumbravam ante o espetáculo pirotécnico, diante da maravilha do lançamento do grande Balão, fazendo fé no êxito de subida e torcendo entusiasticamente para que não se queimasse. Depois prosseguia o encantamento, com o queimar rápido e fulgurante das girândolas, cordas e rodas de fogo, fagulhando, faiscando, estampindo, encadeando os olhos. Os foguetões ribombavam nas alturas e os clarões dos fogos de lágrimas enfeitavam o céu escuro. Toda aquela festa de chamas e luz era o fruto prático da arte do fogueteiro Antonio Generosa, nessas ocasiões, transformado em nosso grande herói”. 

         Ninguém jamais descreveu este momento da festa com tanta alma, com tanta vida como meu primo José Carlos Araújo Santana. Por isto resolvi concluir este tópico com suas palavras.