Se elas falassem.

Lá estava ela, toda embelezada para a festa. Todo ano, na mesma época, era sempre a primeira a chegar, com o seu corpo todo coberto por flores para a grande comemoração.

Muitas vinham depois, também festejando com suas vestes alegres e floridas. Outras, talvez por não serem tão evoluídas, chegavam igualmente felizes, mas sem as flores adornando seus corpos. Ela, vaidosa e consciente de sua beleza, sempre faz questão de vir à festa, como também chegar bem antes do início, toda florida!

Mesmo percebendo que nos últimos anos muitas de suas companheiras chegaram atrasadas, ou até não compareceram, e algumas outras não vieram tão bonitas e formosas, ela nunca descuidou, nem tampouco se desmotivou com a festa estar menos frequentada. Afinal, além se ser a grande comemoração de sua vida, é o que garante a sua sobrevivência e de toda sua família. Sempre foi assim, desde que o mundo existe...

De repente, já no avançado da festa, surge uma pessoa, um humano, alto, forte, com objetos estranhos na mão e atitude agressiva. Perguntou ela:

- “Quem é você? Veio para a festa? Pode entrar e participar conosco!”

- “Vim acabar com essa maldita festa”, respondeu.

- “Como? Por quê?”, indagou.

- “Não sei. É ordem superior e eu cumpro. Além disso, vocês dão muito trabalho, sujam muito este local e vou acabar com isso agora mesmo!”, falou o homem.

- “Mas senhor, onde está a sujeira? São apenas algumas folhas e flores que deixamos cair! Isso faz parte do nosso ciclo de vida. Tal como vocês humanos, quando fazem suas necessidades fisiológicas!”, argumentou.

E continuou, na tentativa de convencê-lo: “Ainda, para compensar o que o senhor chama de sujeira, deixamos aqui o aroma e a beleza de nossas flores, de nossas folhas tão verdes, toda nossa alegria, a sombra, o ar purificado e tantos outros benefícios.”

O homem: “E você? Quem é você? Como se chama?”.

- “Meu nome é Ipê Amarelo. A minha companheira, aqui ao lado, é a Sibipiruna. Aquele outro, ali em frente, é o Chapéu-de-Sol. Vieram todos para a Grande Festa da Primavera, que começa no mês que vem. Algumas de nós não nos enfeitamos de flores, mas juntas realizamos a festa e convidamos todos os seres vivos a participar.”

- “O homem não me deu ouvidos. Fez o que havia prometido.”

- “E começou por mim...”

Maneco Diniz
Enviado por Maneco Diniz em 21/07/2011
Reeditado em 26/09/2017
Código do texto: T3108736
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