Os Tesouros do Céu

Um velho monge quis presentear seus discípulos com o maior tesouro que havia no templo. Contudo, apenas um deles poderia herdar o tesouro. Para saber quem herdaria a tal relíquia, o monge propôs um desafio: os quatro deveriam partir para um deserto, com temperaturas altíssimas durante o dia e com uma temperatura insuportavelmente fria durante a noite. Ficariam um dia inteiro lá e voltariam ao amanhecer. O monge, então, entregou a cada um dos discípulos um pacote e ordenou que um não poderia falar ao outro o que ali estava embrulhado. Entregou-lhes também um pouco de água, para que não morressem de sede nas altas temperaturas do deserto. Todos partiram em busca de sua missão.

Após uma longa caminhada pelas brancas areias, os quatro não agüentaram a sede e puseram-se a tomar a água que o monge havia lhes entregado. Continuaram a caminhar e, chegada a noite, era inacreditável o frio que se passava por ali. Como não queriam desobedecer ao mestre, os quatro sentaram-se longe um do outro e abriram seus embrulhos em silêncio: no primeiro pacote, havia uma lâmpada velha; no segundo pacote, o discípulo encontrou duas pederneiras; no terceiro pacote, ao ser aberto, o discípulo se deparou com um frasco contendo óleo. O quarto discípulo havia recebido, em seu pacote, uma garrafa contendo água. Este, inconformado, caminhou na direção dos colegas e, em silêncio, recolheu a lâmpada, encheu-a com o óleo que havia no frasco e acendeu-a com as pederneiras que estavam no outro embrulho. Entendendo a ação do companheiro, os três discípulos continuaram em silêncio e lamentaram, pois a lâmpada soltava pouco fogo e não iria aquecer nenhum deles, sendo que morreriam de frio. Quietos e trêmulos, observaram o amigo se ajoelhar diante da lâmpada, fechar os olhos, apagá-la e dormir. Os outros fizeram o mesmo.

Na manhã seguinte, como combinado, os quatro retornaram em silêncio ao templo. Acolhidos pelo monge, este indagou aos jovens como haviam feito para resistir ao frio noturno do deserto. Um dos discípulos explicou a façanha do companheiro, quando o monge o interrompe e exclama:

“Qual atitude você tomou quando percebeu que o fogo que poderia aquecê-los era pouco e não duraria muito tempo?”

“Mestre, quando percebi isso, entrei em desespero. Mesmo assim, me concentrei, ajoelhei e pedi a Deus que nos protegesse do frio, para que pudéssemos chegar até o senhor e dizer que havíamos encontrado o verdadeiro tesouro: a fé”

“e o que você fez com garrafa de água que havia em seu embrulho?” indaga o velho monge

“Dividi com meus companheiros, para que eles não passassem sede e para que pudéssemos chegar todos aqui”

O monge entregou a maior relíquia que havia no templo àquele jovem rapaz e nem sequer havia tomado conhecimento disso. A maior relíquia eram os Tesouros do Céu que todo ser humano pode conseguir, e para isso só precisa confiar em Deus, n’Ele ter fé e prestar a verdadeira caridade, aquela que é feita nos momentos de maior dificuldade, quando a verdadeira intenção é auxiliar o próximo, seja ele quem for.

04:45 do dia 27/07/11 em uma quente noite de inverno.