A dança dos sonhos

Poderia ter sido simplesmente mais um dia, mas naquele sábado, ao adiantar do crepúsculo, tal evento, ficaria marcado definitivamente na vida de muitas pessoas que o presenciaram.

A multidão atônita insistindo em não aceitar a situação ocorrida, semblantes de indignação com a revolta latente em cada coração contrito ali paralisado.

Juan Cabrones, filho derradeiro de uma família ilustre e tradicional sempre teve o previlégio e a presunção que o nome carregava, tendo atitudes não compartilhadas com os normais da sociedade.

Juanito como era chamado, sempre foi diferente dos seus irmãos, cabeça nas nuvens, pensamentos diferente, talvez não era bem compreendido pela sua família, que o julgava como um problema proeminente no futuro, pois eles não tinham mais o controle sobre as suas atitudes.

O seu pai Alonso Cabrones, sempre autoritário, controlador e de pouco diálogo, mantinha sempre a mesma conduta na criação de seus filhos, foram cinco, educação severa e rígida evidênciava na personalidade de cada filho, menos ao Juanito, ele não aceitava este comportamento e controle excessivo que o pai exercia sobre a família.

Tudo poderia ter sido diferente se existisse uma maior abertura no diálogo entre eles, Juanito sempre demonstrava para todos a sua revolta, referindo-se o convívio que ele tinha com o seu pai.

Sonhava em ser dançarino, mas a sociedade conservadora da cidadezinha de Alicerce no interior de Tocantis, jamais aprovaria tal atitude, sabendo que o seu pai pela postura que tinha preferiria ver o filho morto ao vê-lo em tal prática, dizia seu Alonso que esse negócio de dançar não era coisa para homem e que não criaria filho para ser dançarino e assim que tinha que ser, era a sua palavra final, até porque o pai era exemplo para a sociedade conservadora daquela cidadezinha.

Juanito não se conformava com a postura do pai, por várias vezes havia discursão entre ambos e que envolvia todos da família, ele era visto como a ovelha negra, pois os outros irmãos que tinham não compartilhavam com o seu modo de pensar e agir.

Mandado para a capital, foi matriculado em uma faculdade de direito, o pai queria que ele fosse advogado, para mais tarde concorrer a cargos políticos na cidade, os planos para o seu futuro estavam todos traçados, primeiro seria vereador, depois prefeito e mais tarde governador, seu Alonso era muito influente no meio político, e já tinha tudo programado para concretizar os seus planos.

Estando na capital começa a estudar na faculdade mesmo não tendo vocação nenhuma para o curso, como o seu pai exigia isto dele, não viu outra alternativa.

Neste período conheceu muitas pessoas, ele fez muitos amigos, por ser uma pessoa expansiva, sorriso fácil não era difícil das pessoas terem simpatia por ele, dentre estes amigos ele conheceu Carlos, a empatia entre os dois foi muito grande, eles tinham os mesmos pensamentos, alguns sonhos parecidos e Carlos sendo também do interior, só que de outra cidade foi criada a afinidade entre eles.

Seu amigo estudava na mesma faculdade, fazia Comunicação Social, queria ser jornalista, a amizade entre os dois a cada dia crescia e sempre andavam juntos se divertindo e estudando apesar dos cursos serem diferentes, era uma forma de estímulo que eles tinham um com o outro.

Certo dia, Juanito e Carlos estavam saindo da faculdade quando eles conheceram a Lia, uma linda menina de voz suave e cativante um olhar meigo e um sorriso envolvente, Lia não estudava na faculdade estava lá distribuindo folhetos para uma academia de dança que existia na cidade, de prontidão, Juanito depois de pegar o panfleto, logo começou a conversar com ela sobre o curso, ele estava muito interessado, então os três saindo da faculdade foram para a academia de dança e Juanito ficou encantado pelo que tinha visto e não pensou duas vezes em se matricular, queria ele aprender todos os estilos que existia na academia, tamanha a paixão que tinha pela dança.

O tempo passava e a aproximidade de Juanito e Lia cada vez mais aumentava, ela também era aluna da academia de dança, despertando um sentimento entre eles, os dois iniciaram um convívio mais íntimo, Juanito passa a freqüentar a casa de Lia conhecendo toda a sua família e já não estava mais se dedicando aos estudos na faculdade de direito pois o investimento maior de seu tempo ficava dividido entre as aulas de dança e a convivência com a sua namorada.

Carlos a princípio não se importava muito com a relação deles, mas pela ausência nas aulas da faculdade de direito, não estava tão contente com aquela situação e já não tinha mais a liberdade que tinha antes com o amigo e cada vez mais a distância se tornava presente no convívio de ambos, até que tentaram conversar, mas a amizade já não era mais a mesma e acabaram discutindo, indignado com o ocorrido, nervoso com a situação, virou as costas e indo embora disse para ele mesmo que aquilo não ficaria assim, pois não suportava mais sofrer.

Juanito bem familiarizado com os estilos de dança, a academia criou uma companhia e lhe fez um convite para fazer algumas apresentações no teatro da cidade, com o sucesso da apresentação, a companhia recebeu um convite da secretaria de cultura do estado para fazer uma turnê por Tocantis, para a surpresa de dele, Alicerce a sua cidade natal estava no roteiro e isto a princípio o deixou um pouco apreensivo pois sabia que a reação de seu pai não seria amistosa já que no passado o tinha proibido desta atividade, explicando a Lia toda a situação disse que talvez não poderia aceitar o convite ou quando fosse dançar em sua cidade ele não se apresentaria, mas Lia juntamente com os professores convenceram-no que agora ele tinha uma nova profissão e muito talento encorajando-o para seguir em frente nesta carreira.

Após muitas apresentações pelo estado, finalmente é chegado o dia da apresentação em Alicerce, Juanito dissestes para Lia que iria fazer uma surpresa para a sua família após o final da apresentação e conversaria com o seu pai pela última vez a respeito da vocação que tinha e abriria mão de tudo o que poderia receber caso prosseguisse os planos que estavam reservados para ele.

Neste período Carlos aproveita e viaja para Alicerce inconformado com o desfecho que teve a conversa com o seu amigo, no ônibus tira uma foto do bolso e começa a suspirar beijando-a e sussurrando algumas palavras com as lágrimas rolando em seu rosto.

Finalmente, no dia da apresentação, o teatro estava lotado e a platéia vibrava com cada ato do espetáculo, seu Alonso recebe uma ligação dizendo que o seu filho Juanito estava no teatro junto com a companhia de dança e que ele era o principal dançarino, atônico esbravejando gritava ao telefone perguntando quem estaria falando, mas somente recebia como resposta que tinha que ir ao teatro para confirmar tal revelação.

Muito revoltado não queria acreditar naquilo que tinha ouvido, rapidamente se deslocou de sua casa para o teatro e no caminho pensava nos planos que tinha traçado para o filho, balançava a cabeça em total reprovação se sentido traído e decepcionado.

Chegando no teatro, arrebentou as portas e aos gritos chamava pelo nome do filho, enlouquecido ao identificá-lo no palco, a paltéia não entendia o porquê do incômodo, Juanito assustado com o ocorrido, tenta acalmar o pai mas recebe um soco no rosto e cai no chão - Juanito seu infeliz você é uma vergonha para a família, você jogou o meu nome na lama, por que você me desobedeceu, gritava o seu pai para o espanto de todos, possuído pela raiva sacou o revolver que tinha na cintura, aponta na direção do filho e atira, no mesmo momento Lia ao ver toda a cena, se joga na frente de Juanito, para tentar protegê-lo levando um tiro certeiro no coração caindo ao lado de Juanito que fica desesperado vendo a sua amada desfalecendo aos poucos no palco do teatro, ouve então um grito de desespero, Carlos sai correndo do meio da platéia chocado com o que tinha visto tenta socorrer Lia que naquele palco trágico da vida seria apenas uma vítima da fatalidade ali ocorrida.

Carlos vendo que Lia não tinha mais vida vai em direção do seu Alonso toma-lhe a arma e aos berros dispara um tiro certeiro acertando-o que ao cair no chão praticamente sem vida tenta pedir perdão ao filho mas não suportando o ferimento falece em outro ato trágico para o espanto da platéia horrorizada, Carlos aos prantos e num total desequilíbrio diz que pela consideração que tinha pelo amigo nunca tinha se declarado e não agüentava mais sufocar o amor que sentia por Lia, revelando que a amava desde o primeiro dia que tinha a visto na porta da faculdade e por não agüentar mais a dor desta perda, dizendo que a razão de sua vida acabara de morrer diante dos seus olhos, leva a arma ao ouvido disparando um tiro e caindo no chão ao lado de Lia agora sem vida.

Juanito desesperado com a perda de seu pai, de Lia e de seu amigo Carlos fica em estado de choque não tendo outra atitude a não ser gritar aos prantos pela tragédia que acontecera e com o rosto ao chão abraçado a Lia, dizia – Meu Deus, meus Deus por que teve que acabar assim, como eu vou viver sem o meu amor e o meu pai que também está morto, até o Carlos o meu melhor amigo? Ao lamurio de Juanito e ao falatório da multidão que ali se aglomerava, ouvia-se um barulho constante que cada vez ficava mais forte como fosse batidas secas e ininterruptas, até ao ponto de ouvir um grito de seu nome bem forte - Juanito, Juanito! Acorda filho, faz tempo que estou batendo na porta, já são sete horas da manhã e você vai chegar atrasado na escola.

Teotonio Oliveira
Enviado por Teotonio Oliveira em 11/12/2006
Reeditado em 12/10/2009
Código do texto: T314926