Nascido para a politica
Mario nasceu com o dom de ser político. Na sua família ninguém havia nascido com esse dom, mas Mario era um político nato. Desde muito jovem sempre aproveitava uma oportunidade para fazer um discurso para qualquer quantia de pessoas, e fervorosamente convencia e arrancava aplausos de quem a ouvia. Desde muito jovem sempre levou todas as suas disputas muito a sério, desde eleições para lideres de turma, até a eleição para sindico do prédio onde morava, onde convenceu seu pai a se candidatar.
Quando foi para a faculdade, teve a oportunidade de fazer medicina, direito, ou qualquer coisa que quisesse, mas optou por administração, segundo ele para ter uma noção para quando fosse presidente da república.
Muitos anos depois, quando já passava dos trinta, e estava bem empregado, casado e com dois filhos, e então ele decidiu que estava na hora de entrar para a política.  Primeiro passo foi se filiar num partido. Procurou aquele que tinha as mesmas convicções suas, um partido de direita, com visão de ideologia democrática.
A candidatura a vereador foi bem aceita, e as urnas provaram que todos os seus fervorosos discursos, que todos os seus pedidos de votos foram atendidos, pois foi disparado o mais votado da cidade.
Na pose, no primeiro discurso, Mario prometeu trabalhar pelo povo, deu ideias ideológicas, noções claras de administração e daquilo que faria enquanto vereador. O povo sentia em seus discursos que ali estava um político de verdade com noções reais, e ideologias claras que tinha condições de mudar as coisas de vez naquela cidade.
Mas as coisas não saíram como Mario tinha planejado. Primeiro porque estava na oposição, o que dificultava seu tramite com o poder executivo, e segundo porque estava com minoria na câmara o que fazia com que seus projetos não fossem aprovados, e Maria passou a se sentir de mãos atadas. Tentou alianças, mas não tinha jeito, a política falava mais alto que a necessidade do povo.
As sessões na câmara eram na terça-feira de toda a semana. Na segunda-feira, Maria levantou cedo, e antes que a esposa levantasse ele já estava na rua com um maço de papeis na mão. Foi de comercio em comercio, de poste a poste, colando em todos eles um cartaz, com os seguintes dizeres:
“Queridos munícipes, não percam amanhã a sessão na câmara de vereadores, quero a presença de todos os meus eleitores e de todos os cidadãos interessados com este município. Vereador Mario.”
Nunca na historia do município houve um político que seis meses depois de eleito chamou o povo para participar de qualquer coisa. O alvoroço na cidade estava armado. Os adversários políticos estavam apreensivos, os companheiros o procuravam por toda a parte, o povo procurava, cogitava, e várias versões saiam, mas a verdade é que naquela segunda-feira ninguém encontrou Mario, nem sua esposa, nem seus filhos, ninguém sabia que rumo tinha levado Mario.
A terça-feira chegou, as cogitações aumentaram, e mais uma vez a apreensão tomou conta do município. Foi o assunto mais comentado da cidade, e quando chegou a hora da sessão, a cidade compareceu em peso e lotou o plenário da câmara. Mario chegou minutos antes da derradeira sessão começar. Sentou em seu lugar, e sem falar com ninguém permaneceu durante toda a ordem do dia, até que o espaço foi aberto para que os vereadores fizessem o uso da palavra. Mario levantou e começou a discursar do lugar mesmo onde estava. Todos ficaram esperando enquanto Maria falava:
“Queridos eleitores e amigos que tanto estimo, vivi minha vida inteira em busca de uma ideologia, e sempre sonhei com a política, por isso me preparei para um dia chegar aqui e poder fazer alguma coisa de diferente e de bom pela minha cidade e pela minha gente. Quando cheguei aqui percebi que as coisas seriam difíceis, mas que não podia desistir de maneira nenhuma e assim fiz, sem medo enfrentei os problemas, e os desafios, e logo me deparei com a fronteira da politicagem e por ela não consegui passar. Imaginei que os meus nobres colegas aqui estavam fazendo coisas erradas, afinal preferiam os benefícios pessoais, e a elevação política partidária à fazer algo para ajudar este povo sofrido. Gritei, discursei, e cri que poderia mudar as coisas, pois afinal de contas, eu sabia que estava certo, mas com o passar do tempo percebi que eu é que estava errado, afinal estes homens que estão aqui são profissionais da política, e ao invés de ter a política como uma missão e a tem como um modo de vida, e por isso buscam de qualquer forma conseguir benefícios próprios aqui na casa do povo, por isso tudo minha gente, eu renuncio o meu cargo de vereador, para que outro que tenha a política por profissão aqui assuma, e não sinta nojo e nem remorso com o lixo que entopem essa casa.”
Falado isso, Mario levantou e saiu porta fora, todos permaneceram em silêncio com certeza que ele nunca mais voltaria.

 
Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 07/09/2011
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