Desemprego

Se pudesse faria mágica.

Faria mágica no estalar dos dedos o Manuel.

Homem brasileiro de 38 anos. Casado, três filhos e uma cadela de nome Léia.

Manoel na cidade caminha, o sol arde e ele está cansado.

Saiu às cinco da manhã. Emprestou dinheiro da dona Márcia para procurar emprego. Dona Márcia fala demais, escuta demais e inventa demais. Manuel um dia sonhou em socar a vizinha não fez porque está em divida, depois de pago quem sabe.

Manuel desempregado, os filhos na fome e ele com pouco estudo difícil encontrar trabalho. A mão de obra exige escolaridade avançada e Manuel nem o fundamental completou.

Mulher de Manuel que veio do norte em burro de carga vai sempre à igreja evangélica tentar receber ajuda divina uma graça que possa aparecer. Veste a única roupa boa, arruma os filhos e vai ao culto de quarta-feira de noite.

Manuel fica não quer saber de igreja. Vê que nela milagres não vêm. Nem Deus escuta e muito menos precisa de dinheiro.

Dois dias antes seus filhos pediram comida. Só tinha arroz e uma salsicha que foi dividida entre os cinco.

E criança não é igual adulto, não segura estomago nem a fome. Não conseguem encanar e assim os filhos reclamaram e Manuel não soube ajudar e não saberia como.

Mulher de Manuel encana a fome com orações. Rezas não, rezas são coisas de católicos e Manuel nem preces e orações ele quer.

O sol castiga. O sol não tem misericórdia. E Manuel nestas horas de andanças a procura de serviço só obteve negatividade como resposta.

- Me coloca pra fazer qualquer função, eu aprendo se vocês ensinarem não fujo do trabalho não moço?

- Seu... Manuel? Seu Manuel entenda que aqui a necessidade de experiência é necessária e o que vejo na sua carteira não há nada especificando que o senhor já tenha.

De portas em portas ele não é aceito e até em certos lugares é rejeitado e nem ouvido.

O jeito foi entrar no bar.

Havia pouca gente que nem ligaram para Manuel que se encostou ao balcão.

- Água. Água por favor.

O balconista que provavelmente era o dono do bar pega o copo americano e enche de água da torneira da pia.

Água quente e ruim. Manuel nem reclama apenas bebe. Mata um pouco a sede.

Agradece o balconista que sequer retribui o agradecimento e Manuel não obtendo sucesso vai ao ponto de ônibus esperar condução.

Durou vinte minutos e mais quarenta e cinco minutos para chegar em casa além de que teve que dar lugar para uma moça com criança no colo.

Quando chega, os filhos brincam na rua. Ele os abraça sem coragem e sem força, olha para eles como homem derrotado.

Entrando em casa a música alta evangélica soa mal no seu ouvido e a mulher de Manuel já sabe a resposta vendo a cara de derrotado dele.

Senta-se à mesa. Café na garrafa pelo menos tem. Não tem pão, café tem de sobra.

- As crianças vão comer fora. – Diz a mulher.

- Comer fora onde?

- O pastor. Vão comer na casa dele. Dei permissão, podia?

Manuel encara a mulher cansado, não sabe o que falar o que expressar.

- Tem problema não. Fará bem pra eles.

A mulher de Manuel passa o copo cheio de café pra ele que bebe em silêncio e a música soa insuportável no seu ouvido.

“Homem de trinta e oito anos mata a família e suicida.”

De noite na cama Manuel imagina a noticia no jornal. Imagina o que dona Marcia diria.

- Manuel era covarde e fracassado e olha no que deu. A família não merecia.

E o pastor? O que falaria?

- O problema da família estava com ele. Não adiantava ajudar se ele não aceitava Jesus e quem não aceita o filho de Deus fica nas mãos do inimigo, de satanás.

E Manuel não está nem aí para o que dona MárciOs filhos dormem a mulher do seu lado também.

Primeiro as crianças depois a mulher. Deixaria um bilhete explicando e em seguida tiraria a própria vida.

Levanta, vai à cozinha, abre o armário e retira uma enorme faca. Volta no quarto e a família dormindo e Manuel decidido e sem remorso.

No pescoço. No pescoço uma morte letal. Primeiro no mais velho.

E o ato ia ser consumado e derrepente entra uma corrente de vento. A porta soca fortemente e uma luz dourada encobre o quarto.

Manuel vê parados na porta dois anjos.

Dois arcanjos parados na porta observando em silêncio.

Podia sentir a paz que espalhava deles e calados como estatuas frias.

A visão toca Manuel que temendo a presença dos arcanjos se posta a ajoelhar e começa a chorar arrependido.

- Me perdoe, me perdoe. Misericórdia, por favor!

Chora compulsivamente, pedia perdão e misericórdia e ao dar conta, os arcanjos e a luz dourada não estavam mais no quarto.

Manuel corre para a cozinha. Guarda a faca e no quarto observa os sonos dos filhos e deita.

- Manuel?

- Sim?

- Aconteceu alguma coisa homem?

- Nada não. Volte a dormir, tá tudo bem. Tudo bem...

E ele fecha os olhos para tentar dormir e amanhã é um novo dia.

(Rod.Arcadia)

Rodrigo Arcadia
Enviado por Rodrigo Arcadia em 08/09/2011
Código do texto: T3208120
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