Faróis de Domingo

Estou me sentindo tão sozinho.Sobre minhas têmporas um céu cor de chumbo se alojou. Tenho lembranças furtivas que me fazem chorar. É tarde de domingo, meu coração soluça, palpita, almeja sonhos que estão esparramados no ar.Deus! É sempre dessa forma... A vida e seus caminhos tortuosos, estradas de curvas hostis, pesadelos noturnos que me apavoram.

Domingo, abro a janela da sala vazia. Vazio é o coração de quem ama sem ser amado.Apago meu cigarro, tento acender cúpido os faróis da minha alma esdrúxula.

Meus faróis se aquecem, iluminam e dissipam as trevas quem me castigam domingo após domingo.Sou uma ilha abandonada em oceanos da desilusão . Perdido estou, mas, ainda acredito na minha própria descoberta. Exploro meu sofrimento como um astronauta esquadrinha o universo.

O vento bate nas paredes, chacoalha os lustres de vidro frágil. Permaneço aqui sentado sobre o peitoril da janela . O sol, logo começa o seu espetáculo de se ocultar entre as pedras da colina apontada para o céu.

Tenho comigo a saudade. Toda saudade tem um nome... A minha se chama perda.O cansaço me deixa em ruínas, preciso dormir, contudo, fechar os meus olhos seria extinguir os meu faróis.

Tetricamente, observo as horas, o adiantamento do fim eterno, o tempo nos assassina traz consigo o lado efêmero da vida.Assemelho a minha permanência terrena a uma folha seca que levada pelo vento jamais retorna para sua árvore original.

Hostilidade, guerra, decadência, orgulho e amor. Sinto-me farto de tudo isso. A hostilidade me acossa, a guerra me consome, a decadência me desaponta, o orgulho me entristece e o amor...Descrever o amor é traçar em linhas imaginárias a perfeição mirabolante de Deus Pai.

Criatura desnorteada. Eu sou assim. Todo domingo necessito dos meus faróis, sei que é inevitável não pressentir o sabor amargo do fim.O fim dos desejos que circulam em nossas mentes feito moscas ao redor de uma pocilga.

É preciso negar a saudade e abraçar a solidão . Estou pronto para desaguar os meus anseios. A insatisfação é sinal de progresso. Todo progresso deve se erigir em sentimentos sôfregos.

Caminho pela casa. Visito seus cômodos . Cada lugar um momento, a cada vida um amor singular.Em passos curtos sinto-me um floco, rastejo meus pés, meus faróis já não sabem para qual mundo me guiar. Continuarei nessa busca inesgotável da vida. Eu tentarei como um guerreiro desnudar uma nova vereda.

A sala de poucos móveis me ganha.O sopro de Deus empurra com ímpeto a janela que parece ranger de dor. Meus faróis se enfraquecem, minha alma ofuscada pede repouso.

Afundo-me no sofá , os navios naufragam , os aviões caem, os carros se chocam e o coração permanece latejando silenciosamente.

A vida luta contra a morte, no entanto, é com a perda da vida que eu ganho a minha morte. Faróis de domingo, chegou a hora de dormir.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 17/12/2006
Código do texto: T321152
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