SÉTIMA PARTE DA LUTA PELA SUA CIDADANIA

No dia seguinte pela manhã o Geraldo apresentou-se, na casa de Catarina, perguntando-lhe, se estava de acordo com o casamento.

Catarina, com semblante triste, respondeu de mau humor que, ainda não havia conseguido engolir aquela idéia.

O Geraldo disse que veio trazer-lhe, algum dinheiro. Colocou nas mãos dela e se retirou, e ela ficou ali muito com raiva, que o despediu, com uma violenta bronca. Deixando o dinheiro cair no chão.

_ Você é uma lesma!

Exclamou a Dona Ondina.

_ Vamos logo terminar a quebra de milho e você vai dar valor neste bom homem! Vamos, vamos!

A Dona Ondina pegou o dinheiro do chão e guardou-o. Seguindo logo para a roça.

Catarina com quatorze anos estava velha de trabalhar para ajudar fazer mercado.

_ Mãe, o Chico chegou!

Isto aconteceu assim que a Catarina quebrou os primeiros pés de milho. Novamente se ouve os gritos, era a imã abaixo dela, a Terezinha, a que havia ficado em casa para cozinhar o feijão todo carunchado, para a janta e o almoço do outro dia. Catarina estremece como se estivesse acordando de um pesadelo, pois era seu irmão que havia saído para trabalhar em Cascavel, e havendo arrumado em uma serialista como de ensacador. Veio lhes buscarem como o prometido.

Catarina deixa tudo para traz, sai correndo, deu-se com um caminhão já carregado com a mobilha velho, pois enquanto a Terezinha foi chamá-las, o irmão com muita pressa de sair dali havia carregado tudo sozinho, o que não foi muito difícil, pois era pouca coisa que dava para aproveitar em uma Cidade grande. O irmão olha para ela e abre um largo sorriso e diz:

_ Vim buscar vocês minha irmã, para morar na Cidade grande! Lá vocês vão serem documentados, poderão trabalhar e estudarem.

Catarina para diante dele e se pendura no seu pescoço; parecia que o mundo toda esta parado naquela hora só para festejar juntos, que neste momento ninguém fazia nada, alem de festejar aquele acontecimento, ela viajava nos seus sonhos, mal podia espera o dia em que pegasse em mãos o documento que lhe daria o direito de estudar, saindo dali quem sabe encontraria com um futuro promissor.

O moço de dezenove anos de idade, todo cheio de orgulho, muito satisfeito de poder ajudar a família, sai da casa com uma enorme trouxa de roupas, que era a ultima coisa a colocar em cima do caminhão; de rosto molhado de suor, enfia mão em um dos seus bolsos e tira uma carteira, e da uma moeda para cada uma delas que à muito tempo não sabiam o que era comer um pequeno docinho. A festa com os doces foi grande.

_ Ah, que delicia comer este suspiro cor de rosa!

Diz Catarina.

Ela nunca esqueceu uma musica que rodava em um toca disco no bar do Nilson Cadela, que dizia assim:

_ Que beijinho doce que ele tem. Depois que eu a beijei nunca mais...

Nunca mais esqueceu, ficou marcado para sempre em sua vida. Por hora ia devorando o doce mais saboroso que já comeu em toda a sua vida.

De volta para o caminhão, e continua a tremer muito, o irmão falando:

_ Nunca mais passarão fome, lá que é vida!

Ele examina tudo em volta da casa, já com a respiração cansada, mais muito feliz; logo entra no caminhão, da à partida, era um caminhão que soava um ronco de que era velho, mas aquele seu ruído soava como se os Deuses cantassem pelos ares.

Catarina ainda viaja nos seus sonhos, pois ouvia canções de vitoria; e pensa:

_ Meu irmão acaba de praticar uma ação que quem sabe as das mais divinas, uma ação que me lembrarei pelo resto da minha vida! Lá vai ela pensando:

_ Meu Deus! Uma casa com luz, água encanada, um quarto só para nós! Nada mais de dormir com meus irmãos no mesmo quarto! Vamos poder dormir bem à-vontade!

Na saída do Vilarejo, o caminhão fica parado a porta da bodega do Nilson Cadela com seu ronco fogoso, ansioso para partir. O dono da bodega conversava com o Chico, que trajava uma bermuda azul e uma camisa listrada de varias cores, era uma tarde de primavera toda colorida.

A comerciante troca as ultima palavras com o moço, o jovem que estava com uma mão no volante e outra apoiada na porta do caminhão.

O jovem orgulhoso de sua responsabilidade estava na esperança de que recebesse, e recebeu a admiração de um bando de amigos do lugar.

Juntaram-se um grupo para, pela ultima vez, despedir-se do amigo que ia embora. Ele todo orgulhoso de vez em quando dava uma acelerada no caminhão que estava parado, soltava uma fumaceira danada.

Ficou ainda alguns minutos esperando a sua mãe que foi avisar o seu pai que estavam indo embora e que era para ele ficar para vender o milho que a Catarina e a mãe haviam plantado em uma terra arrendada, ele tinha passado a noite e o dia jogando baralho.

Rapidamente o tempo muda. Parece que vai chover, disse alguém. O Motorista, porem, para animá-los, riu-se da idéia.

Lamento a situação dos que vão lá em cima, mas tenho que seguir viaje. Eu deixei uma lona no alcance deles, que é para se caso chover se cubram, observou o Chico; falando ainda com a Catarina diz:

_ Você esta certa de que não vai se molhar mocinha?

Sim pode deixar que eu me viro, respondeu a Catarina.

E parecia mesmo que estava certa daquilo; alem da ampla lona e blusa, tinha também um chalé velho de lã, em que cobria até os cotovelos.

Catarina estava como se estivesse voando.

_ Você vai me escrever logo que chegar lá, para eu saber se fez uma boa viagem?

Diz a amiga Tereza.

_ Prometi escrever para a Dona Aurora, então vou mandar uma carta para você também, assim que chegar lá. Você sabe que gosto muito de escrever, porque acho uma ocupação muito gostosa.

Os olhos da Tereza nublaram-se um pouco, mas havia pouco tempo para despedidas, porque o jovem motorista já a intima que vai partir.

A dona Maria e mais duas irmãs mais novas viajavam na cabina, Catarina e a sua irmã, a Sueli iam lá em cima da carroceria.

Tereza trocou algumas palavras com a Catarina, enquanto o Chico desengata, da à partida no caminhão.

_ Você, por favor, faça o possível para me dar noticias suas, em?

_ Farei o que puder.

Diz Catarina.

Quando o caminhão partiu, a Tereza e outros que ali estavam, agitaram uns as mãos e outros os chapéus dando boa viajem em voz alta, mesclando-se com a buzina do caminhão a ecoar vibrando pelo Vilarejo. Quando o caminha saiu os cachorros correram atrás da mudança latindo, até que cansaram e voltaram para traz.

Assim com ruído alarmante a mudança principiou sua jornada. Catarina prendeu o chalé em volta dos braços, e preparou-se para apreciar tudo que houvesse para ver.

Ela e a sua irmã mais nova começaram uma animada prosa. A guria queria trocar de chalé por um barrete de dormir que levava já na cabeça,

que após a troca já se recosta pronta para dormir, não tardando para Catarina perceber que ela estava ardendo em febre. A irmã sofria de um tipo de reumatismo que quando atacava ela ficava toda entrevada.

Quando chegaram a Catanduva a irmã, que sentia as juntas duras, devido à doença e à longa e desajeitada posição, que devido a sua felicidade de estar indo embora daquele lugar, onde só tinha muitas más lembranças, ofereceu-se para descer sozinha do caminhão, o que muito surpreendeu o seu Irmão, que lhe assegura que estas com muita febre, e como que ainda se mostrava um tanto disposta. Pegando-a no colo e levando-a até uma farmácia, onde tomou uma injeção que já estava habituada a tomar.

A viaje era uma loucura, ainda nesta parada fizeram um lanche de pão com mortadela e refrigerante, a sodinha, beberam uma cada uma.

Assim que saíram de Catanduva deram carona a três homens que iam pegar ônibus em Cascavel para foz do Iguaçu, pois os mesmos iam trabalhar na usina de Itaipu.

Catarina distraia o medo com a conversa daqueles homens. Um deles dizia que não havia dormido nada, havia posado na farra, assim proseava com os amigos animadamente.

Mais um pouco e um diz:

_ Muito boa esta carona, vamos chegar a tempo de pegar o ônibus, pois estamos fazendo 30 km, por hora. Acho que é uma velocidade boa.

_ Por mim; confesso que gostaria que fosse um pouco mais rápido! Só que estas estradas estão horríveis; e quando chovem como tem chovido é de amargar estas viagens, é muito arriscado agente ser arremessado junto com a condução para o barranco, e até morrer.

Não chega o medo de o caminhão tombar, Catarina começa a vomitar, ela enjoou a viajem. Nunca havia feito uma viajem desde que chegou ao Vilarejo em 1972.

À medida que a noite se aproximava, Catarina e sua irmã suspiravam pela ansiedade de chegarem a algum lugar onde pudessem estender os membros entrevados. Mal podem acreditar quando avistam muitas luzes, muitos carros, cada um mais lindo que o outro.

CAPÍTULO V

CHEGADA EM CASCAVEL

Quanta gente nos pontos de ônibus. Tudo era novidade. Quando o caminhão para em frente da casa, Catarina salta de cima da carroceria, anafórica fala:

_ Meu Deus! Olha mãe, pra isso! É só apertar aqui e a luz acende! Agora quando eu for estudar a noite não vai mais sujar os meus cadernos de picumã do lampião de querosene, vou conservar meus materiais bem limpo!

Catarina ainda esta como se estivesse voando, agora ali podia ter maior facilidade para conseguir a sua Certidão de Nascimento, e assim podia estudar legalmente, tinha tanta certeza como que dois mais dois são quatro.

A idéia de se casar não tem mais, separa do namorado que deixou no Vilarejo. O namorado era um homem de trinta o oito anos, contra ela com quatorze anos de idade. Ela viu o tamanho que era o mundo, ali na Cidade grande, era maior que imaginava. Não via à hora de começar os seus estudos, e trabalhar; era só no que pensava. No mesmo dia foi passear pela Cidade. Ou seja, foi junto do irmão fazer o mercado.

O Miguel e Catarina muito feliz andam pelos corredores das seções do supermercado; eles não apresentavam pressa, porem o rosto de Cataria denunciava a segurança; ela estava certa de que jamais passaria fome. Já nos corredores do supermercado, onde as prateleiras estava surtidas de coisas que ela nuca havia visto, lhe apresentando um ar meio estranho, que deixa meio desconfortável, não muito a vontade; não sabia lutar com a liberdade. Todas as prateleiras muito sofisticadas, tudo muito bem organizada. Não escapava dos seus ouvidos, que indicava presença humana. Que estavam ali todos com o mesmo objetivo. As pessoas não eram todas bem vestidas.

Catarina parou diante de uma prateleira, e perdeu ali alguns tempos olhando os materiais escolares; e lendo algumas frases e olhando os desenhos, escritas nas capas dos cadernos. Em seguida empurrou o carrinho, que demorou em sair do lugar, o carrinho estava com as rodinhas meio travadas, como se há muito tempo não fosse utilizado. Mas não era este o motivo. O motivo era por ser muito usado, e estava precisando de manutenção. Ela não pode manusear o carrinho, cujas rodas estavam mesmo emperradas, muito enferrujadas. Teve que colocar muita força que elas se soltaram, Catarina foi ao chão fazendo muito barulho o carrinho que batem em disparada na seção de brinquedos, vindo quase toda a prateleira a baixo. Ela ficou toda avexada, não se sentia segura de si, deu muito importância ao acontecido que antecedera a sua entrada naquela sessão, recendendo Estudo. Percorrera com os olhos os brinquedos no chão, as pessoas. Contrariada, deixou escapar as lagrimas. Quis voltar a pegar o mesmo carrinho, a fim de começar a fazer a compra, quando deu com o seu irmão. Afastou-a, para o lado e deu-lhe o carrinho que ele empurrava. Empurrou-o. Mas quando ia saindo foi tomada por um terror súbito que a imobilizou. Mais um instante e ela se firmaram; ela não interessava fugir dali sem fazer as compras, perder a oportunidade daquele encontro com a fartura. A sensação de medo foi momentânea e logo substituiu por outra mais intensa, ao comprar aquilo que nunca havia comprado antes.

Naquele lugar respirava bonança, dotada de extrema fartura, inclusive o lindo material Escolar; com um sorriso amarelo diz ao irmão:

_ O que vou fazer aqui em meio tanta coisa?

_ Venha me acompanhe.

Os dentes amarelados do irmão apareceram quando sorriu.

_ Não é difícil; é só nos primeiros dias; é só até acostumar. Aqui você mesma que pega a mercadoria que quiser. Não é como lá que tudo é vendido no balcão. Aqui você vai escolhendo as coisas e colocando dentro deste carrinho, e depois passa lá na frente no caixa e eles somam tudo e você então paga.

_ Mas como que eu sei se o dinheiro vai dar para pagar, tudo que eu pegar?

Catarina diz isso franzindo a sobrancelha meio intrigada com aquilo.

Catarina , flou falou isso, mas estava fascinada com os olhares para a seção de material escolar. Lembrando-se, da Escola. O irmão teve que insistir:

_ Vamos, você vai se acostumar.

Ela subtrai bruscamente as recordações, ela faz um esforço violento para não demonstrar a sua melancolia passageira:

_ Ah, vamos sim! E prosseguiu exaltada, como se de repente viesse átona um sofrimento antigo.

Catarina não imaginava que existisse outro mundo alem daquele em que antes vivia a dias anteriores.

Graças o seu irmão ela estava ali, que de outro modo seria difícil certa descoberta, pois vivia em um em que não dava a oportunidade de ter ela um nome. Era só mudando-se, do vilarejo.

Catarina quis lhe fazer mais perguntas ao irmão. Ele percebeu-lhe a intenção e se antecipou:

_ Antes que faça mais outras perguntas, sei que têm muitas a fazer-me, mas você esta contente?

_ Sim. Respondeu a Catarina procurando falar com um tom mais despreocupado.

_ Sim? O Miguel percebeu certa tristeza em seus olhos enchendo-se de lagrimas. Revidou com palavras de conforto, então a tranqüilidade que ia ao seu rosto contaminou o de Catarina.

Começava anoitecer. Empurrando os carrinhos, aproximam-se do caixa. Após a tão longa espera na fila, passaram todas as compras pelo caixa.

Catarina olhava sem piscar. Nunca havia visto uma maquina registradora daquela. Aos poucos, refazendo-se, da surpresa, intrigou-se, mais aquele mundo. As compras ficaram todas nas caixas, para somente mais tarde receberiam em casa.

O irmão vendo que ela estava também intrigada com aquilo, concluiu, com voz baixa, como se falasse apenas para si:

_ Aqui é assim: as compras são entregue depois em casa.

O Irmão que estava já mais acostumado, com aquele outro mundo diz:

_ É normal que você esteja achando tudo isso muito misterioso, mas logo se acostuma e vai ver que não é tão difícil assim.

Um sorriso desdentado de uma presa na outra abriu a linha fina da boca de Catarina.

Para Catarina era mais pratico chegar ao balcão e pedir para o cara da venda; mas, mesmo meio intimidada com aquele novo estilo de vida ajudou o irmão a fazer a compra.

Aquele mundo parecia não combinar com ela. Não estava acostumada com aquele mundo. Mas ela definitivamente tinha que se habituara a cidade grande. Aquela vida antiquada devia deixar para trás e aprender uma nova vida. Só que era muito complicado. As condições financeiras haviam melhorado um pouco, com a ajuda do irmão, mas ainda não chegava perto do que precisavam para uma vida com igual dignidade. Só ele estava trabalhando e a inflação comia tudo. Era outro mundo. Mundo de tecnologia, mas alem de precisarem aprender novo estilo de vida, precisava de mais dinheiro para viver aquele outro lado. As despesas também aumentaram. E eles não estavam preparados para o mercado de trabalho. Precisavam começar, do zero.

_ Deus, como estou adorando isso, dizia a Catarina; quando passou vagarosamente pelas seções, pegando as coisas mais grosseiras, enquanto o irmão ia pegando as coisas mais finas, como margarina, doce para passar no pão, leite condensado, biscoitos, leite em pó, achocolatado, refresco, sabonete, shampoo, creme dental e entre outras coisas que não era de costumem comprarem. Ou seja, estes itens nunca compravam antes. Catarina nunca esqueceu este dia; carregou por toda a sua vida este episodio.

Trouxe grandes esperanças ao vir para a Cidade grande. Só que ela não sabia o quanto era doloroso se desprender de um mundo para viver outro. O mercado foi feito por ela somente aquele dia; o seu irmão queria que ela aprendesse como funcionavam as compras ali na Cidade Grande. Depois ele entregava o dinheiro da compra para sua mãe; e daí em diante foi ela quem administrava o rancho. Catarina só lhe acompanhava nas compras.

O ganho do irmão não era mal, mas não era o suficiente para aluguel energia, água e mais oito bocas.

No dia seguinte, a Dona Maria sai à procura de um serviço de empregada domestica ou de baba para Catarina, e arruma um emprego na casa de uma bancaria. O trabalho exigia bastante experiência em cuidar de criança e de casa.

Para surpresa de Catarina as coisas eram todas elétricas bem modernas. Para quem nunca havia visto um saneamento básico! Que era o caso dela! Então como ia saber usar tantos produtos de limpeza se o único material deste gênero que conhecia bem era o sabão de soda. Mas por fim a vontade de trabalhar para tirar seus documentos era tanto que aceitou o serviço.

A mulher ao saber que Catarina não tinha lá aquela experiência, falando bem ela não tinha experiência nem uma quando se tratava de uma casa mais refinada. A patroa se propõe fazes uma experiência, mas ia lhe pagar bem abaixo do que uma com experiência; a mulher, até disse que ia lhe ensinar como manusear os aparelhos elétricos.

No primeiro dia de trabalho fazia um frio que congelou até a água das torneiras. A patroa só lhe apresentou a casa e a bebezinho que também incluía no pacote de serviço e foi para o trabalho, recomendando que fosse para ficar mais atenta na criança do que no serviço.

Catarina procurou imediatamente começar as tarefas antes que a criança acordasse. Começa pela cozinha, fez aquela limpeza do jeito dela, procurando dar o melhor dela.

A mulher havia mais de semanas sem funcionaria, então a pia e fogão não tinha onde por um alfinete, estava entupida de louças sujas.

O alegre brilhar dos seus olhos não dava para esconder, quando pensava no final do mês ao recebesse seu salário, ia logo fazer sua certidão de nascimento.

O telefone toca. Catarina que ia levando umas pratarias para guardar em uma crista – leira deu um salto, deixando cair tudo no chão pelo susto e por os dedos estarem encarangado de frio, pois não estava sentindo os miseráveis que estavam a mais de duas horas em contato com uma temperatura de quase congelar. Quebrou algumas peças. O que fez deste dia um inferno em sua vida.

No telefone era a patroa. Catarina não sabia como atender ao telefone, mas se virou bem, sem falar na tremura, uma por nunca ter falado em um telefone e outra pelo acidente.

A geada brilhava na luz do sol as folhagens do jardim um amarelo sapecado pelo frio, tudo se bailava com o frio só mesmo quem estivessem bem agasalhadas era capas de se sentir bem.

No telefonema a patroa avisa que não precisa se preocupar com o almoço estava de regime e vai levar algumas saladas para o almoço. Alerta para que Catarina esquente a sopinha da bebe no banho Maria. Agora danou se tudo, pois ela não sabia como era este tal banho Maria!

Catarina estava sem saída, nunca havia visto um banheiro com saneamento básico. Como saberia fazer a limpeza devida, sem contar com o carpe, e móveis muito sofisticados. Ela só conhecia uns moveis paoleiras, fogão a lenha e ai por diante.

Agora vem a sopa em banho Maria! Ela corre lá fora para ver se acha uma erva Santa Maria para esquentar a sopa da bebe, mas foi tudo em vão não achou nada.

No mais ela achava que estava indo tudo bem, alem do acidente da prataria.

Agora o que fazer com a sopinha? Ela não vê alternativa a não ser esquentar direto na panela e depois mais tarde quando chegasse a casa perguntaria a sua mãe. Isto é se ela também soubesse!

Com o rosto meio assustada, a jovem olhava com ar espantado para todos os lados da casa sem saber como ia administrá-la. Os majestosos móveis que parecia ter pouco tempo de existência.

Quando a patroa chega a bebe não estava trocada como era de costume, pois Catarina não sabia trocar fraldas. Isto não foi o problema grande. O almoço foi rápido não percebeu nada anormal.

Catarina passou o dia com uma sobra do jantar que era uma sopa horrorosa, a patroa não da à mínima se a guria estava ou não com fome.

Ao entardecer em pé, meio escondido pela sombra de uma coluna, na lavanderia estava a patroa a observar-la atentamente. Aparentando estar indignada com o que via, e com palavras arrasadoras aproxima se de Catarina, e ordenou que ela tirasse as mãos das roupas, atormentando a cabecinha da guria.

_ Eu não conheço este tipo de limpeza, sua porca! Aonde já se viu misturar panos de pratos com fraldas! Além de não ter feito quase nada! Gostaria de saber o que ficou fazendo o dia todo? Ainda bem que não fez quase nada! Assim não colocou estas mãos porcas nos meus móveis! Oh, guria, pegue aqui o vale transporte e suma da minha frente! Amanhã volte aqui com sua mãe!

Catarina enquanto recebia a bronca, olhava aquela jovem mulher de pele branca, uma pele que provavelmente não era sofrida pelo ardor do sol; de cabelos loiros, olhos azuis. Catarina tenta se explicar; mas foi em vão.

Ela ainda mais furiosa diz:

_ Não argumente! Sei que sua educação deve ser das piores; você terá que aprender muito na vida.

Catarina ficou vermelha receando mais humilhação. A bancaria apressou-se a falar, dizendo:

_ Ainda bem que foi só isso! Já pensou se eu deixo você aqui e rouba minhas jóias?

Catarina apertou os lábios, tremendo fez beicinho, já com lagrimas nos olhos, sai com a roupa meio molhada pela rua fora, logo lhe vem um pensamento:

_ Serei forte bastante para não desistir da esperança de tirar minha Certidão de Nascimento para voltar aos meus estudos.

Em casa a mãe, que era de opinião que trabalhou, tinha que receber, ficou consternado quando Catarina disse que lá não voltava mais, nem mesmo para receber.

Por algum tempo Dona Maria escutou em silêncio a versão de Catarina, mas depois franziu a testa, e disse:

_ agora chega minha filha; eu desculpo você de não ter feito o serviço direito, isso já era de se imaginar! Mas o dinheiro amanhã nós vamos lá buscar sim.

Catarina teria que aprender muitas coisas para viver na Cidade grande.

No dia seguinte a cólera, que nunca durava muito tempo, já lhe havia passado por completo.

A porta da casa estava ainda fechada, mas Catarina já estava acordada; e lá na cozinha a Dona Maria preparando o café, para em seguida ir receber o dia de trabalho dela.

Por fim voltaram à casa da bancaria, desceram caminhando a pé, não tinham dinheiro para o vale transporte.

Logo elas estão no portão esperam a dona da casa aparecer. Depois de apertarem a companhia muitas vezes, aproxima-se delas aquela mulher aparentemente muito fina. Ela se aproxima, sem mesmo lhe dar um bom dia; foi lhes dizendo:

_ Olha vocês saiam da minha porta, pois esta porca e irresponsável; estragou muitas coisas da minha casa. Se vocês insistirem vou mandar vocês presas para pagarem os prejuízos, e vão em cana mesmo!

Foram-se embora; só receberam mesmo as ameaças.

No outro dia Catarina estava à procura de outro emprego.

Seriam oito horas da manhã. A Salete, segundo costume, acabava de chegar da padaria e, a pequena Claudia no colo, a mesa do café arrumada, dispunha-se a tomar a sua refeição, quando é interrompida pouco antes.

Defronte dela uma mesa bem apetitoso cheia de guloseimas. Trata-se de tomar o café, pegou cuidadosamente a sua linda garrafa florida, bem desenhada. Quando foi interrompida por uma guria, que do portão perguntou se podia falar com a jovem senhora.

_ Tenha a bondade de entrar.

Disse ela.

A guria aproximou-se de uma pequena varanda que distanciava ainda mais da Salete que permanecia sentada em redor da mesa.

A guria com um bilhete na mão esquerda, os pés calçado por uma chinela de dedo, vestida num vestido cor de rosa.

_ O que a guria deseja?

Perguntou a Salete, metendo a mão no seio e tirando-o para fora na tentativa de acalmar a pequena Claudia que começa a chorar.

A guria avança um pouco mais em direção da varanda, com ar muito tímido, segura por ambas as mãos, o guarda chuva debaixo do braço esquerdo.

_ Desejo entregar este bilhete.

Ela estava cada vez mais atrapalhada, sem conseguir entregar o papel. Ao se aproximar o guarda-chuva caiu, quando a Salete foi ao encontro para lhe socorrer.

_ Cheguei à semana passada de Ibiracema.

Acrescentou a Catarina, pegando o bilhete finalmente. As ultimam palavras da guria interessou a mulher, porque, observou-lhe da cabeça aos pés, e perguntou lhe depois:

_ Ora espere1 Você é Catarina?

Ela sorriu meio envergonhada, e, entregando-lhe o bilhete.

_ É do meu irmão.

Disse Catarina.

_ Ah, é do Chico? Como vai ele?

_ Ele vai bem; foi à semana passada nos buscar para morarmos aqui, nós estávamos lá na maior miséria que Deus do céu!

_ Coitados!

Lamentou a Salete. Ele todos os dias falava em ir buscá-los. Acrescentou-a. Passando a ler o bilhete depois de dar uma cadeira de área a Catarina, que já estava para dentro da varanda.

_ Pois, sim, senhorita!

Disse ao terminar a leitura.

Fez-se uma pequena pausa e em seguida a Salete falou do muito que devia ao irmão de Catarina; citou os favores que lhe merecera; disse que encontrara nele “um segundo irmão” e terminou perguntando quais eram as intenções de Catarina ali na nova Cidade. Se era só se empregar, ou estudar também?

_ Trabalhar para tirar meus documentos para quem sabe no ano que vem poder estudar.

Acudiu a Catarina.

_ Quero ver se será possível matricular-se no ano que vem, pois este ano já perdi.

Não negava que estava bem atrasada nos estudos, mas não era dela a culpa.

Só por razão quem sabe da fome ou sabe lá, mais outras razões, perdera dois anos de repetição.

A Salete escuta-a com atenção. Depois lhe pergunta se já havia tomado café. Catarina disse que sim.

_ Venha tomar novamente; precisamos conversar mais a vontade, pois estou com uma fome!

_ Quero também apresentá-la a minha casa.

A Catarina concordou, mas tinha que levar a sacola de verduras para casa.

_ Melhor é tomar um coletivo. Diz a Salete, pois já sabia onde eles estavam morando, por mio do Chico que era como se fosse da família.

O serviço como de baba da pequena Claudia ficou para começar no dia seguinte.

Os dias se passaram e tudo ia mesmo muito bem, a Salete havia lhe ensinado muito sobre os afazeres domésticos e como é que funcionava a vida ali na Cidade grande; ao seu parecer. Por esse tempo a cabeça de Catarina já estava mesmo só na idéia de trabalhar e estudar, esta de casar-se já estava fora de cogitação, pelo menos por horas.

Nunca se arrependeria de semelhante idéia. O seu Geraldo não seria um excelente chefe de família, muito desarranjado, não era muito amigo de aprender, era muito oposto a ela, o que não fazia o seu gosto.

Em curto espaço de tempo a Salete havia transformado-a, em uma excelente dona de casa, muito prendada na cozinha, era de uma limpeza que fazia gosto; ao que, todo homem almejava em ter uma mulher assim.

A casa da patroa vivia, em um brinco em limpeza. Os moveis brilhavam, como se tivessem saído recentemente da loja; as roupas de cama, mesa, banho eram de uma brancura de dar gosto mesmo. Não via uma pequena telha de aranha se quer; no teto, nas portas ou em qualquer moveis.

Catarina sentiu-se bem no meio desse habitat, dessa forma de vida; procurava todos os meses guardar um pouco do dinheiro para tirar sua Certidão de Nascimento, mas não era possível. Tinha que ajudar nas despesas da casa. A sua mãe havia levado um atestado de pobreza para a Assistência Social e estavam na fila de espera. Mas Catarina já estava desacreditada desta gente. Catarina agora mais do que nunca não pensava em casar a não ser em estudar, gostaria muito de ter a sua liberdade, mesmo quando um dia se casasse queria ser independente. Ser professora, escritora e ler para muita gente; isso era um dos seus maiores sonhos e de tudo era também uma questão de honra, mostrando que era capaz.

Em pouco tempo a sua mãe consegue tirar as Certidão de Nascimento, por meio da assistência Social. Catarina não acreditava, pois havia feito muitos cadastros; por varias vezes pelos políticos, todo ano de Campanha política, e eles só iludiam os pobres diabos, por certo quando saiam dali, jogavam no lixo ou rasgavam, sabe lá que fins davam naquelas papeladas que levantavam; virando somente em promessas.