OITAVA PARTE DA BUSCA PELA SUA CIDADANIA

CAPÍTULO VI

A SEPARAÇÃO

Um dia destes quando o noivo de Catarina apareceu no trabalho dela, ela termina o noivado devolve a, aliança. O desejo de estudar fala mais alto do que um casamento, só por casar, ela diz com toda franqueza:

_ Eu não te amo, e não vou me casar só por casar, eu quero Estudar!

Enquanto ele insistia no casamento sem, a patroa de Catarina entra na sala para servir lhe um café. Ele estava sentado em uma poltrona e ela em outra, numa boa distancia um do outro. Ele era de um metro e senta e seis; pesava oitenta e cinco quilos, não aparentava os seus trinta e nove anos. A patroa comemorava na cozinha, se deliciando em risos ocultos.

Ele sorri de um modo meio que desenxabido, pois sabia que Catarina não o amava que o seu objetivo principal não era o casamento. O riso assentou bem para o seu egoísmo. Catarina não via o, como um homem para ela se casar. Ela não faz rodeio e torna a repetir:

_Não quero mais me casar; pelo menos por enquanto, pois quero voltar a Estudar no ano que vem.

_ Não gosto que me façam de bobo, resmungou Geraldo, baixinho, a respiração quente indo de encontro em uma fração de segundo antes que deixasse o recinto.

_ desculpe; eu não fiz de propósito; murmurou ela, de olhos amedrontado, enquanto uma fraqueza ardente se espalhava por seus membros. Não deixei você esperando todo este tempo de propósito. É que você sempre soube que eu queria estudar.

_ É o que você sempre disse, mas também não tem nada de mais em se casar; vou te dar o que você precisa, não vai precisar trabalhar; resmungou ele, mordendo –lhe, os lábios

Ele se recusa a aceitar a decisão, retira-se sem se despedir; percebe-se, que, estava furioso com aquela decisão. O som dos passos foi diminuído. Uma vaga sensação de repulso fez com que Catarina pensasse que ele iria até a sua casa falar com sua mãe.

Em casa ela não diz nada, e estava descambando em sentido ao quarto, olha de relance para fora, bem enfrente ao portão a figura do Geraldo, o fastio não tarda, e a sua alma desapressa de viver. Não havia remédio ele estava ali e teria de enfrentá-lo, mas trata de entrar rapidamente para o quarto e se apega a pensar naquele momento triste e doloroso que ela pode contemplar em si. Apodera-se dela, um sentimento de uma criatura tão cheia de ódio, que se sente um ser tão desprezível cheia de frustrações, que pensa:

_ Que gente tão desalmada!

Logo a sua mãe entra no quarto arquejando o terror, sobre ela que esta deitada bem encolhida como quem dizia:

_ por favor, não falem comigo.

A mãe logo arqueja o terror, que se pode dizer assim. Uns dez minutos, e ela saíram por ordem de sua mãe.

A hora que sai do quarto é tomada pelo amargo desalento dos dês aproximação do seu sonho, e por fim a figura do homem já feito, que ali o espera, como a alma de quem vem roubar o seu sossego e sua paz interior, trazendo recordações, que ela julgava morta, esperança que suponha agora impossível. Geraldo curvou a cabeça, lançando os olhares para o chão, a alma bebeu a largos gostos, a imaginação que lhe criava talvez a noite que a tomasse por sua mulher.

Catarina, disse - lhe a poucos passos de distância:

_ O que, que o senhor perdeu aqui?

O Geraldo volveu rapidamente a cabeça, e viu a guria, que atravessava a sala próxima da varanda onde ela permanecia, a olhar e a enfarruscar a cara para ele. Geraldo ao contrario; sorri, e com uma presença de espírito muito comum em namorados daquela época, prontamente respondeu:

_ não perdi nada, estou procurando uma fujona.

Aconteceu que por alguns instantes nem um e nem outro falou nada; ambos pareciam medir-se. Ela em fogo e inquieta, ele tremulo e amedrontado meio desconfiado do que podia acontecer. Mesmo sabendo que ela ali não tinha voz ativa; mas sabe se lá Deus do que, que uma pessoa é capaz na hora em que se vê acuada em contrariedade!

Dava para perceber nela a impaciência e a ansiedade de querer sair dali; era sem duvida, o receio de que a presença dele se prolongasse de maneira que ela tivesse que o aturar por muitas horas, e ela não estavam disposta a isso.

Ela pensa:

_ bom sobre tudo agora, só eu, só a minha cabeça é capaz de enxergar que melhor para mim é estudar e não casar-se! Mas quem sou eu sozinha, os meus pais estão me casando! Cadê a minha cidadania? Eu pensei que a minha Certidão de Nascimento mudaria a minha vida! E deveras esta sem duvida mudando a minha vida por completo. Da escola, passo para um cartório civil, de livros para marido e filhos. Mas não adianta, casar até eu caso, mas filho é só um, e, olhe lá! Sim, um único filho! Não quero que passe pelo que eu passei. Vou mudar a minha geração.

Parecia ter descido o lençol do futuro em sua frente; vendo o contrario do que existia até ali; um sentimento no seu coração que era tudo diferente do que pensava para ela; vendo que foi tudo ilusão o de estudar. Uma

submissão assim devia se transformar em uma mulher casada, em uma dona de casa que era o sonho de todos os pais; ver suas filhas casadas de “branco”; mesmo que elas com o coração trajado de preto.

_ foi ilusão.

Disse ela.

O sentimento que lhe acaba de revelar é nutrido pela vida miserável que havia lhe arrastado.

Abre-se um breve “diálogo”:

_ eu te amo tanto, e você parece não gostar nada de mim! Diz o Geraldo.

_ E, eu tenho culpa disso? Retrucou Catarina com voz baixa; que mostra até um pouco de pena em seus olhos e no falar.

_ diga que me estima apenas.

Diz Geraldo.

_ Não pode haver outra coisa da minha parte a não ser pena, e te estimar como uma boa pessoa.

Catarina diz isso procurando dar fim na conversa.

_ tudo bem; sei que o amor vem depois...

Catarina interrompeu- o:

_ Não espere nada mais que um pequeno afeto.

Geraldo ficou por um instante com boca entre aberta; quis falar, mas não conseguiu encontrar uma só palavra mais; para exprimir o que sentia; colocou a mão na cabeça, deu uma tossida que parecia estar fora dali, e ficou a olhar para ela com olhares pidões e parados, a voz sumiu como se seu espírito lhe fugira por completo. Mesmo ainda depois do doloroso desengano; sabe que em breve abraçá-la-ia como sua esposa; ela havia aceitado a idéia de se casar por obediência a sua mãe; e isso para ele já era um grande avanço para sua conquista. Mal podia esperar o dia, o tão sonhado dia.

Neste dia era um sonho que acendia e outro que se apagava.

_ Quero lhe falar uma coisa:

Disse Noêmia depois daqueles eternos minutos.

_ Você pode ter certeza como o dia de amanhã; que embora eu veja o meu maior sonho ir parece que fugindo por hora pelo ralo, como você já sabe, eu nunca vou abrir mão dele; passe o tempo que passar eu vou voltar estudar.

_ Claro, claro; até eu vou estudar.

Replicou ele, abrindo um longo suspiro.

_ Não sei se outro homem consentiria isso! Mas eu deixo, pois lhe tenho muito respeito, e vou lhe acompanhar nos estudos e espero que estas minhas palavras coloque agora um fim nesta tua aflição.

Catarina abriu lhe um pequeno sorriso que lhe tocou a sua alma; foi quando a mãe da dela apareceu, entretanto, alguns passos de distancia; vinha da cozinha com uma bandeja de café minguado, e muito fraco. Catarina apenas vira e pega a bandeja e serviu-o, não revelando nada em seu rosto; o de Geraldo mostrava paz e alegria.

A mãe da Catarina expressava nervosismo; não estava nem um pouco contente com o que Catarina havia feito, tomava aquele ato por muito vergonhoso; aquilo de terminar o namoro sem “motivo”. O moço não havia feito nada para que este namoro fosse ao fim. A mãe da Catarina estava de cara no chão pela atitude da filha.

_ Geraldo. Disse Dona Ondina em voz tremula. Precisamos conversar.

A mãe da Noêmia, quando se aproxima ainda mais dele que tomava o café, sentada em uma cadeira de madeira; com acento e encosto de palha.

A cadeira que fez parte da historia da alfabetização da Catarina. Geraldo estava risonho e radiava felicidade, mas o abatimento da Catarina não dava para esconder, ia agora mesmo apresarem o casamento dando o ultimo desengano, castrando-a dos seus sonhos; o único sonho dela, naquele momento.

Geraldo percebeu a verdadeira razão por que a D. Ondina havia dito que era necessário conversar com ele; imaginou, acertando na mosca; se trataria de apreçar o casamento.

A conversa não pode ser neste dia; pela presença do pai do seu Florisvaldo que acabara de chegar e ficou ali até tarde conversando com o Geraldo, mas nada a respeito do casamento. D. Ondina se retirou.

O casamento deveria ser tratado em outra ocasião, pois na presença do seu Florisvaldo, ela não poderia pedir muita ajuda ao Geraldo.

O seu Florisvaldo colocava todas as economias nas mãos da D. Maria, que guardava em uma poupança muito bem escondida; fazendo toda a miséria da casa. O dinheiro nunca saia para nada. Ela tirava muito mal para a comida. O reto era guardado no banco. Ela agia de uma forma em que ninguém desconfiava; onde a casa toda acreditava que o pai era o vilão da historia. Quando na verdade ele entregava o pouco que ganhava nas mãos dela. A única alimentação digna que tiveram foi no dia em que chegaram a Cascavel; em que, a Catarina e o seu irmão foram ao mercado. Depois as feras ficaram por conta de D. Ondina. É claro que o dinheiro que chegava às mãos não era muito, mas imagine se já era pouco e ainda tirava para guardar! Não era possível sobreviverem; agora imagine viverem. O Florisvaldo nunca deixara de jogar baralho, mas o dinheiro do mercado ele nunca mais jogou; entregava para a D. Ondina; que comprava só dorso de

Frango, arroz do mais rui, feijão do mesmo jeito; fubá, quirelinha de milho... Era tudo na maior economia para sobrar para guardar.

Catarina foi para o quarto; sobretudo, estava alegre por ter se livrado de fazer sala a uma pessoa que não lhe agradava nada. Não precisava nem dizer que a ausência jovial da Catarina era coroa de espinhos no coração de Geraldo.

Ela deita na cama, com os cabelos desfeitos, os pezinhos já descalçados das chinelas havaianas azuis, as mãos cruzadas sobre o peito e os olhos fixos ao teto, como que se reproduzissem pensamentos fora de si, vagando pela alma, imaginando um futuro que ainda não se sabe se chegaria; reproduzindo cenas que a enchia de alegria, sonhava com o dia em que todas as pessoas fossem respeitadas como Cidadãos; tendo o direito a Certidão de Nascimento gratuito; dando o direito de educação para todos. Ainda sonha com o de não morrer sem contemplar este marco histórico no brasil.

Isso tirou lhe o sono, e já era nada mais e nada menos que duas horas da madrugada; quando Catarina levantou se da cama e saiu até a pequena varanda que dava para os fundos da casa; e ficou contemplando a noite, o luar que transformava a noite bem parecida com luz de um dia. O céu estava sereno e calmo que lhe eternizava, na agitação das lutas, das dores de quem sabe quantos dias ainda mais; e quem sabe quantos minutos de gozo? Talvez de um instante apenas que estava passando com ela ali debaixo do lençol azul brilhante pelo luar e pelo estrelar, e no mais era um mundo como a morte. Catarina pensou muito observando o grande universo, que parecia conspirar contra si, ela sentia o amargor da vida e de todo aquele mundo; com o coração não via mais a aurora; vivia agora nas noites mais escuras; de pensamentos mudos, secos; miserável, eram o seu futuro e seu passado. O presente era nada mais que seu passado e seu futuro.

Hoje pensava no ontem e no amanhã.

Catarina sente-se ferida de morte, mas aquilo calou fundo dentro dela um sentimento deque teria que sempre marcar com unhas e dentes o território da sua vida. Isso ficou marcado para sempre em seu subconsciente. É que pelas regras da boa moça tinha que casar se, moças eram treinadas para ter filhos e cuidar da casa e do marido segundo os padrões da época. É como se ela não mais soubesse mais de nada, era como quem perde o sentido ou o rumo para onde teria ido a sua vida.

Uma solidão que nasce de uma forma quase que lhe consome; trazendo um vazio tão imenso; parecia que podia engolir o mundo inteiro sem mastigar.

_ Para onde foi às palavras que me ajustavam tão bem a minha vida?

Fazendo de um sopro um tornado?

Meditava Catarina.

Tudo aquilo para ela era muito enorme que se perdia na imensidão do seu ser que se colocava tão junto de ti! Sente um frio, que congela a sua alma, enfraquecendo todo o seu ser, fazendo com que perca a razão e não e nem se, sabe para onde foi à emoção. Sem opinião, ou melhor, dizendo, sem vós ativa.

CAPITULO VII

Os Últimos Acertos Para o Casamento.

Já se passaram alguns dias do episodio do termino do noivado; a madrugada veio acordá-la, na forma de costume, para a matinal jornada de trabalho com a mãe na bóia fria.

Catarina sacrificava toda a sua vida à obediência da sua mãe que já dera tantas provas disso. A D. Ondina, entretanto, estava preocupada; e o dia foi diferente dos dantes. Ainda pela manhã meteu-se Catarina na jardineira, e saíram a uma visita a casa de Geraldo; que morava de favor na casa de seu irmão mais velho, mas isso D. Maria não sabia; ela acreditava que metade do patrimônio que os seus olhos contemplavam ali fosse do seu futuro genro.

Ao chegarem a casa dele. D. Ondina ficou só; e mandou que Catarina fosse conversar com as sobrinhas do Geraldo.

Geraldo que estava tomando banho, não a deixou, muito tempo esperando, aparecendo daí a pouco na sala onde ela o esperava.

D. Ondina não perdeu tempo com redundâncias. Apenas viu Geraldo e já foi diretamente ao assunto.

_ Não sei se você sabe; não tenho condições de comprar um grampo de cabelo para Catarina; vim aqui para colocar tudo em pratos limpos; você que terá de comprar tudo desde o vestido de noiva.

Geraldo não esperava por coisa semelhante era muito ingênuo, mas não tímido que se saiu muito bem; uma vez que estava “apaixonado”. Então se propõem arcar com todas as despesas do casamento. Passou a mão a cabeço, deu uma tossida e limpando a garganta, acendendo um cigarro dizendo diz:

_ Não posso dar uma resposta imediata. Tenho que consultar meu irmão, pois é ele que sempre me libera as verbas.

_ Por quê?

Interrogou-lha, a D. Ondina.

_ Nós podia dividir as despesas para não pesar para nenhum de nós. Quando se trata de dinheiro não depende só de mim, mas também do meu irmão que administra os bens. Na verdade eu tenho só uma parte do capital! Eu só tenho uma pequena participação dos lucros e quando eu preciso falo com ele, e, ele descola a verba. Mas assim que me casar ele vai me comprar uma casa e me dar aminha parte. Então vou montar uma quitanda. Ai vai dar para mim dar do bom, e do melhor para Catarina.

_ É! Mas se quiser casar com a Catarina vai precisar abrir os bolsos, pois como já disse não temos condições de comprar um grampo de cabelo se

quer; como já disse antes. E eu prefiro que você me de o dinheiro; assim eu compro tudo que precisar e faço o churrasco para a festa.

_ Com certeza.

Respondeu Geraldo.

_ Catarina é minha filha e eu sei o que é melhor para ela, e vejo que você é um bom partido para ela.

_ Justamente; não é que, quero me gabar, mas não pode haver melhor partido.

_ Tem mais uma ainda. Continuou D. Ondina:

_ Não é por que ela é minha filha, mas ela é um anjo! Menina obediente e incapaz de fazer mal a uma mosca e também sabe cozinhar, pregar botão em roupas, limpar, lavar e passar muito melhor que eu. Além disso, nossa Senhora da Aparecida deu a ela uma espírito forte, ela é muito corajosa, é uma valente guria; ela merece fazer um bom casamento, você não acha?

_ Tudo isso eu já observei, e posso dizer que é uma jóia nada comum.

Acudiu Geraldo, com os olhos a brilhar.

_ Como já falei. Ela tem direito e merece o amor de um homem bom como você.

Prosseguiu a D. Ondina.

D. Ondina tinha um coração ambicioso que era da opinião, de que se o marido desses do bom e do melhor para a mulher, ele poderia ter quantas amantes que quisesse.

O amor de Catarina parecia possível para Geraldo; pela vantagem de poder resolver a obscura situação do problema dinheiro. Esta reflexão fez com que surgisse nele uma pequena esperança, com a sua “boa ação”, de dar-lhe de cara Mil Cruzeiros; poderia fazer toda a diferença, pois antes ela só havia lhe privilegiado com alguns olhares de alegria, e raramente lhe dirigia as palavras animadoras; alem dos de comprimentos de pequenos afetos que ela tinha por ele. A conversa com a D. Ondina dera-lhe mais animação; parecia-lhe agora chegar a um entendimento ultimo; o coração de Catarina tinha dono, e com certeza seria o dele.

_ Ela é minha e o boi não lambe, e se lamber eu corto a língua! Geraldo diz tudo isso em pensamento. Estava ele certo disso.

Em seguida Geraldo todo envaidecido e com pouca modéstia diz:

_ Um homem, como eu vale a pena uma mulher se casar; sou um homem que não me aperreio com nada.

_ Eu sei disso; por isso foi imenso o gosto que fiz quando fiquei sabendo que você gostava da Catarina; não perdi tempo em colocar vocês dois de frente um com o outro.

_ Se todas as minhas filhas casarem com um homem igual a você; sei que vou morrer muito contente.

_ Oh! Isso! Com certeza a senhor vai contemplar isso; as suas filhas são todas muito lindas e trabalhadeiras; pois a senhora ensinou elas trabalharem muito bem. Disse Geraldo com sorriso nos lábios, e vai se levantando do sofá que estava sentado, e dera alguns passos, não muito alegre de tudo, pois tinha ainda um pouco de duvida com relação à Catarina, ela não dava nem uma esperança de lhe amar um dia o que temia de que este casamento não fosse adiante gorando mesmo depois do enlace matrimonial.

O matrimonio no papel parecia-lhe agora um pouco mais possível; desde que a D. Ondina havia se proposta a ajuntar os dois no dia em que a Catarina havia colocado um fim no namoro.

Geraldo da uma longa espreguiçada abrindo a boca de sono; e diz com gesto de quem estava com sono; ele era muito dorminhoco, para ferrar no sono bastava se encostar; e já fazia algum tempo que estava parado a conversar; o que lhe causara muita indisposição.

_ Esta certo, eu vou arcar com as despesas de um jeito ou de outro.

Dizendo isso da mais uma espreguiçada passando à mão na cabeça, e esbaforindo o cigarro que estava em sua boca.

_ Esta certo disso? Indagando, a D. Maria.

_ Sim, pois há toda razão para que eu arque com todas as despesas; sei agora que vocês não têm condições mesmo; e eu gosto muito de Catarina; e, contudo eu tenho condições; vou lhe dar mil cruzeiros hoje.

Geraldo prontamente tirou cinco notas de cem cruzeiros e uma de quinhentos cruzeiros; que diz ainda:

_ Este é o primeiro sinal do acordo e o resto que é para a festa depois que eu falo com meu irmão, como já falei; é ele quem me descola as verbas.

_ Este dinheiro é minhas economias que faço a cada vez que ele me arranja um dinheirinho eu vou guardando para as horas de apuro.

Geraldo expos longamente todas as razões que tinha para arcar com as despesas; demonstrando tudo com muito gosto, deram lhe duas maiores razões em que devia ajudá-los; uma seria o reconhecimento de que a família de Catarina era muito pobre e outra que ele a amava por demais. Ele falava demais; era como um papagaio; difícil era fazê-lo calar a boca quando começava falar; fosse quando estava alegre ou quando estava nervoso.

A mãe de Catarina não ouvia tudo com igual atenção; só ouvia aquilo que era do seu interesse. E sem que ele acabace de falar, ela o interrompeu dizendo:

_ Eu estou com muita pressa, e por isso eu já vou indo.

Ela falou isso logo depois que colocou as mãos nos mil cruzeiros; acrescentando ainda:

_ Catarina às vezes é mio acanhada e por isso que em algumas situações ela se mostra com aparência fria. Mas não quer dizer que ela não venha futuramente te amar com o amor que você merece; eu tenho muitas vezes o pressentimento de que ela já te ama; só que por acanhamento tem problema de demonstrar este sentimento.

A D. Ondina quando via dinheiro ficava até um tanto romântica; ficava de tudo e mais um pouco. Ainda continua D. Ondina:

_ Há nela certa revolta pela pobreza, que pode explicar melhor essa frieza, parece que é tão difícil acreditar no amor de alguém com tanto... Ah, deixe pra lá! Exclama-a.

As palavras de D. Ondina lisonjeavam o moço, que em cujo resultava em muita satisfação. Ele mal podia esconder a vaidade das palavras da D. Ondina; os ouvidos estavam voltados para todas aquelas palavras.

Catarina chega daí a pouco e achou-os ainda na sala de visita. A sala era chique na visão de Catarina. Ela nada elegante; de uma cafonice de dar dó. A sala dava para frente da Rua. Uma das sobrinhas de Geraldo vinha com ela; a Lita; ambas riam como crianças que eram. Uma alegria de não sei do que; mas como meninas que eram riam de qualquer bobagem. Geraldo que já estava num pé e outro andando na sala para lá e para cá, dirigiu-lhe um sorriso, apertou a mão de Catarina, até com um tanto de ousadia; mais forte que o de costume e bem de leve passou um dos dedos no meio da palma da mãozinha dela. Catarina não percebeu nada; não se afligindo com o sinal daquele gesto, e saiu junto com a sua mãe que se apreça em não perder a hora da jardineira.

Geraldo se em cabulou e pensou:

_ eu gosto tanto dela; e, contudo, ela não me dá o menor valor pelo meu sentimento; mas depois de casado isso muda; ah, se muda!

Durante esse tempo, Geraldo olhava para ela. Enquanto ela não desaparecia pela rua.

_ Agora esta mais bela que nunca, desde que te conheci; vai cair bem este casamento para mim, pois é um encanto de moça, e agora sai o casamento tão sonhado. Eu sou um homem batuta, charmoso!

Concluiu Geraldo, saindo dali, se recolhendo batendo papo para as sobrinhas; quanto o seu galanteio; e pelos elogios que havia recebido da sua futura sogra; que lhe serviu de uma grande injeção de animo. E o dia do casamento começa a desenhar-se, lhe no seu ser. D. Ondina apressou se em passar na loja e comprar o vestido de noiva, uma sandália e um buquê de flor de plástico, como aquelas que são levados nos túmulos; o que melhor combinava com aquela núpcia fúnebre.

E Geraldo ainda em casa foi tomado por um sentimento muito pessoal; era como aquele de que ele sentiu na sua primeira vez ao bordel, mas agora com uma enorme diferença; ela seria só dele e, ainda uma virgem; isso da virgem acende mais o desejo na sua imaginação; como o desejo de usar um objeto muito ambicionado pela primeira vez; sendo ele o primeiro a provar.

Isso o deixava muito fascinado; nunca havia pegado uma moça virgem.

Geraldo agora via a certeza do “feliz casamento”; o matrimônio que antes era somente sonho.

A duvida se dissipou de sua alma, entrando no quarto pegando uma toalha; foi tomar banho; que se travou a cantar. Acabando de se ajeitar; entrou na melhor roupa que tinha em casa, pegou uma carteira de cigarros e alguns trocados, metendo na algibeira; saiu pela cidade, que logo mais tarde ao anoitecer completou seu passeio com uma visita a casa de Catarina. Achou a D. Ondina a volta de uma bacia amassando pão. Catarina lia uma revista de foto novela no quarto, um romance que ela havia ganhado da Salete sua antiga patroa, que Catarina havia sida obrigada a sair do serviço por ordem da sua mãe, D. Ondina entendia que a Salete era um mal na vida de Catarina; ela estava tirando da cabeça dela de se casar; o que se tornava uma ameaça muito grande para um possível goro no casamento.

D. Ondina ao ver o futuro genro; sorriu e foi chamar Catarina para que fosse hospedá-lo.

Geraldo veio interrompera a leitura que Catarina fazia; mas essa interrupção foi só por pouco instante. Ela apreçou em despedi-lo para volta a leitura.

Catarina marca a pagina e fecha a revista; ela custou entender, ou seja, não entendeu o que mais ele queria ali depois de quase meio dia de conversas com sua mãe.

CAPITULO VIII

De Volta A Leitura:

Uma hora depois, indo abrir a revista para continuar a leitura, ela ouviu a voz que manda que apague a luz, era sua mãe que não da à oportunidade dela ler pelo menos mais uma pagina. O gesto de Catarina foi de cólera. Se a mãe tivesse espreitado pelo buraco da fechadura ou por uma fresta qualquer, e enxergasse a expressão do rosto, era bem provável que Catarina ganharia uma surra, ou pelo menos uma boa bronca. Catarina nem se preocupava em traduzia no rosto tudo que o coração sentia. A “obediência” venceu por fim; Catarina fechando a revista e foi tentar dormir.

Catarina estava lendo a revista pela segunda vez, uma leitura por que não havia nada para ler. Ela colocou a revista em baixo do colchão. Com espírito inquieto entrou para a vida real, mergulhando nas reflexões que mais lhe atormentava; o casamento e a castração do seu sonho de Estudar. Via bem Catarina que fim podia ter, cometendo talvez o pior erro de sua vida, se casando.

Mas até que ponto se chegaria o desgosto de sua mãe se ela não aceitasse se casar?

Catarina varreu do seu espírito a repugnância de se casar, mas pesou-o, um pouco antes de tentar afastar de si.

Excluindo a repugnância, saltou-lhe um pequeno riso interior, meio involuntário, com sentimento menos triste, e também menos infeliz.

Não podia ser tão ruim se casar com um homem que lhe amava tanto, cujo tinha boas qualidades, e que em fim era muito “distinto”; mesmo que pelo outro lado conversava demais; mas isso era apenas uma questão de se adaptar as suas falações; o que não seria mais problema do que apanhar, pois muitas mulheres apanhavam dos maridos e mesmo assim não fazia com que elas os separassem deles.

Catarina reflete também na posição de que queria Estudar; via-se obrigada a casar-se, porque o pretendente não recuou do primeiro golpe; o súbito término do namoro. Não havia duvida; ela reconhece que o amor de Geraldo era verdadeiro, e por isso era capaz de qualquer coisa para se casar com ela.

A paixão dela era ardente e profunda pelos estudos, que com o qual teria talvez de pelejar muito. Via as conseqüências de um casamento e, sobretudo o coração doía na condição de não poder estudar; e então padecia seu espírito. Catarina refletiu ainda muito e muito, e não só pensou; devaneou, soltando todo o lençol da imaginação o mais longe que pode viajar; levando entranhado na alma as lembranças dos estudos. A realidade presente não podia mostrar-se pior modo! Catarina levantou-se da cama

um tanto irritada, lançou mão da Certidão de Nascimento amassando-o febrilmente; já ia rasgar-lo, quando ouviu alguém que batia a porta do quarto. Catarina aproximou-se da porta e perguntou:

_ Quem é?

_ Sou eu, respondeu a voz de sua mãe.

A guria foi abrir a porta, e a mãe entrou; trajada não de roupa de dormir, mas com a mesma que lhe acompanhava no dia-a-dia. Catarina foi tomada por um espanto nos olhos, que lhe tirou o sentido, fazendo calar a voz durante um tempo; que logo mais pergunta:

_ Que foi? Aconteceu alguma coisa com a senhora?

_ Que agora guria! Exclamou D. Ondina.

_Não me aconteceu nada. Venho por que ouvi barulho e vi a luz acesa; não querendo dar nem mais um pito em você; vim prosear um pouco com você. Continuou a D. Ondina, deitando os olhos para a cadeira que estava a Certidão de Nascimento todo amassado.

D. Ondina aproximou-se da cadeira para pegar o papel e saber do que se tratava aquilo.

_ É sua certidão de Nascimento guria! O que você esta pensando? Esta enlouquecendo de vez; quer mesmo se perder igual a tua irão?

Catarina tinha se sentado na cama; o pezinho impaciente batia no assoalho, com um movimento rápido cruzou o braços pouco a baixo de suas pequenas mamas ainda não feitas; mamas de menina; fitando a mãe com olhos que se podia ler a fúria do espírito. Ficaram alguns minutos em silêncio; D. Ondina puxou a cadeira e sentou-se perto de Catarina.

_ Por que há de ser injusta comigo minha mãe?

Disse Catarina; que ainda suplica que a deixe estudar como as suas irmãs, pois se ardia em amargura em vê-las pegar o caminho da escola todos os dias, e ela pegar o caminho da bóia-fria; e o que mais lhe doía mais era que menos dias e mais dias ia pegar o caminho do casamento. Por que, que a senhora não vê que as coisas de hoje é bem diferente do seu tempo? O que há nisso de errado de eu não querer me casar e querer estudar?

_ Tudo que eu estou fazendo é para seu bem e você não reconhece; eu percebo o amor que Geraldo tem por você, que é coisa que toda moça de juízo ficaria feliz em receber.

_ Imagino que este casamento, é agradável a senhora minha mãe! Fiz muito mal em ter esta atitude, e peço-lhe perdão.

_ Muito mal mesmo. Interrompeu D. Ondina. É a coisa sagrada esta de ter uma família.

Catarina havia desprendido os cabelos, pois já estava pronta para dormir; D. Ondina se aproxima dela e junta os cabelos longos de Catarina, e ata-os. Ela por sua vez enquanto recebe aquele gesto de carinho esta a olhar para o chão, a lamber os lábios, tinha este habito quando estava muito nervosa. D. Ondina fez uma pausa esperando que ela reagisse mais alguma coisa, mas Catarina não reagiu mais em nada; isso é não reagiu em voz, fez apenas um gesto interior negativo sem que o afeto de sua mãe sofresse melindro.

A D. Ondina continuou justificando a de que ela queria somente o bem da filha:

_ É, minha filha; a experiência da vida me convenceu de que o melhor de tudo é o homem amar a mulher muito mais do que o amor da mulher para com o homem; e isso funciona, mas pelo contrario é impossível um casamento aturar.

Enquanto ela falava isso, Catarina parecia encontrar-se com um pouco mais de paz espiritual. Esta mudança não foi súbita, mas um tanto rápida do que deveria ser, por tratar-se, de um espírito muito aborrecido. Agora já havia até um toque de brilho no espelho da sua alma, no rosto e na voz, quando Catarina retornou a fala. Isso revelaria talvez a uma mudança involuntária.

_ Esta bem, minha mãe, eu nunca queria lhe aborrecer; sinto muito que as coisas tenham chegado a este ponto, fui muito mal agradecida por tentar resistir algo que vai fazer bem para mim mesma; e deixar a senhora muito feliz.

O que a D. Ondina não sabia que amor não se encomenda como um bolo em uma padaria; ou outra coisa qualquer; e, sobretudo não pode fingir ou brincar de amar.

Catarina gostava de Geraldo, como o amor de um amigo, e nada mais. O que estava acontecendo era uma bruta obediência a mãe, e também receava em magoá-la demais; por outro lado via que quem sabe, que teria mais futuro se casando, que depois aprendia amá-lo e também podia voltar a estudar, desde que não arrumasse filho.

Catarina se cala esperando que sua mãe lhe falasse mais alguma coisa, que foi o que aconteceu; que diz:

_O Geraldo vai lhe fazer muito feliz, ele é um homem excelente.

As duas ali dentro do quarto ficaram a olhar uma para a outra, Catarina abre um sorriso, e a mãe faz um gesto de piedade, e adoração, trazendo-a, em seu colo, rompendo o silêncio assim:

_ vamos dormir agora, pois amanhã temos que pular cedo; o trabalho nos espera; os galos já estão cantando e estamos aqui de prosa! Deus te abençoe e durma com a Nossa Senhora da Aparecida, e que ela te de um bom sono; e que te dêem muito juízo minha filha; e até amanhã.

D. Ondina saiu em direção ao seu quarto, Catarina ficou ali já recolhida em cima da cama, vêm lhe estas palavras:

_ Oh meus sonhos! Meus sonhos! Meu Deus, minha nossa Senhora Aparecida; ajude-me, por favor... A alma banhou em lagrimas, restando lhe poucas forças; o espelho da alma enche-se de águas e tão frágil fica o rosto com vestígios do abalo, possuída do desânimo e de desespero. Assim atravessa a noite como alguém que sente muitas dores. A maior que um ser humano pode sentir; a verdadeira dor da alma.

CAPÍTULO IX

O dia amanheceu e a rotina continua; num ponto e, em outro se formavam grandes grupos de homens, mulheres e crianças; em pé; Catarina estava ali também; com um rosto odiento em desprezo. Catarina ria muito pouco.

Uma hora mais tarde, na roça, na catação de raiz; compenetrava a tristeza, o sol trincando de quente sem uma sombra se quer.

Aquele sol inexprimível assolava os ideais daquele mundo de brutalidade, que lhe intimidava a obscuras perspectivas; escapando pela aquela vida inexperiente; que qual seria seu destino em meio aquela sociedade horrorosa, que era inutilmente esperar reconhecimento.

Os mais diversos pensamentos inspiravam-lhe a razão de repugnância que lhe tirava as lágrimas. Ali naquele cenário; que lhe oprimia o pressentimento de uma solidão de dignidade. Não havia ali a mínima de preocupação com aquelas vidas brutamente encharcadas do descompasso de Cidadania. Nada de proteção. Era mesmo a solidão que conspira as diversidades de todas as espécies, dos traiçoeiros afetos. Era, uma indignidade total; e ainda por cima de tudo, um céu infernal de calor sobre os desalentos. A fúria do capataz era irremediável naqueles momentos tão graves. Era assim na bóia-fria.

Que fazer desta desumanidade? Aonde ia colocar os seus ideais? Naquele mundo bruto de meias frases indefinido? Não havia o que lhe acalentasse ou pelo menos a remediar-se; até as orações haviam perdido a valia, ficaram tão longe de crê-las; de que lhe protegesse; resta somente o abandono apenas dos seus sonhos; que no exílio da miséria recolhera-a.

O triste infortúnio aos poucos a aniquilaram, em uma prostração diante daquela vida traiçoeira; e insana. Pelo dia adentro, seguia o assedio do destino mal feitor, que a desgostava, deixando lhe as marcas da fúria.

Os roçados todo em um pé-de-vento, voando quilômetros afora por uma planície. Do solo a poeira subia em nuvens; ficando tudo confuso levando chapéus e mais chapéus embora; ouriçando as cabeleiras, pedaços de raízes voavam em meio aquela tempestade do inverno; remetendo-as sobre aquelas vidas mudas e secas; despidas e vencidas pela aquela mortífera vida desumana. Era assim na bóia fria.

E, enquanto os outros nos intervalos se aplicavam em prosearem; Catarina se entregava aos devaneios de dissabores; em desenhar um futuro vindo de uma infância degenerada, predestinada ao acaso e subestimado das conseqüências. Entretanto para si as origens dos dissabores parecia jamais terem encontrado tão amargo.

Entre aqueles corpos soados e trêmulos; estava o de dela, com vergão na pele, pelas picadas de mosquitos e pelas próprias unhas ao tentar se acudir; apavorada pelas ferroadas; que às vezes eram mais fortes.

Os exames de abelhas era que faziam medo realmente. Os ataques eram súbitos fazendo com que muitos das vezes se jogassem ao chão; e por muitas vezes fez vitima fatal.

Na volta para casa, às desordens estavam lá movimentando as carrocerias dos caminhões. Catarina procurava o recanto das crianças e das mulheres; o ambiente se dividia naturalmente o que impedia às vezes de uma criança ou mulheres aos abusos dos marmanjos.

Em uma destas ida e vindas, Catarina não consegue mete-se a um espaço mais seguro. Sentiu que duas mãos, rente ao assoalho prendiam-lhe os tornozelos; que sobem até suas coxas; não havia como se mexer. E no seu espírito havia a necessidade de não reagir. Essa necessidade era talvez por ser desprotegida; nunca se sentiu protegida de afeto familiar, desacredita que alguém ali lhe proteja do bruto monstro. Esta crise de sentimento casava-se com o receio de que ninguém o acreditasse, e por cima atribuísse-a, uma difamação. Tudo ameaçava o seu ser indefeso. Naquele embaraço tumultuoso dos bóias-frias, nas embarcações, as meninas eram uma presa fácil para os abusos dos marmanjos asquerosos.

Em um destes episódios Catarina se determina em casar-se, para se livrar daquela Sodoma e Gomorra. Via neste instante o casamento como um céu aberto rodeado de anjos, Arcanjos e Querubins... Difícil para ela era acreditar na grandeza do Altíssimo; a sua fé vacila; não acreditando na divindade; ferida interiormente; mesmo que durante muito tempo a sua catequista lhe fundiu o temor do inferno e o temor de Deus. Dizia ela:

Deus é o seu protetor, mas se esquece de quem se esquece dele. Mas ela dantes nunca avia lhe esquecido. Vai entender! Bem pensando agora acreditava que metade de tudo aquilo era pura invenção.

Catarina ainda sem poder se livrar das mãos imundas que lhe palpavam as partes intimas das coxas para cima; que questiona Deus em silencio:

_ Se, o Divino esta em mim e eu estou nele como a minha catequista pregava; é provável que estas mãos imundas estejam lhe apalpando também; e se ele tem mesmo poder e não faz nada, é por que, esta achando bom; mas devia me respeitar; estou me sentindo muito mal; e por que não me protege? Se existisse como diz; com certeza me protegeria; acredito mesmo ao acaso!

Catarina em cólera dispensa toda a proteção do Altíssimo; com o seu sagrado livro. Depois do aniquilamento da decepção com Deus, desperta se a vontade de se casar.

_ Quem sabe o Altíssimo esta a dizer: acaba de perder a proteção de um “grande guarda”! Ou ri da inocência que pairava ali naquele instante.

Estava ali agora naquele momento reconhecendo o melhor negocio para seu futuro; o casamento. Os seus sentimentos oscilavam.

Os abusos tinham o favorecimento porque os trabalhos iam até cair à noite, e ao escurecer, passava despercebidos pelas pessoas de bens ali por perto. De vez em quando um marmanjo daqueles erravam a presa e levavam uma bronca danada; isso quando era uma mulher bem resolvida, se não também não dava em nada. Isso ia semanas inteiras; só se salvava os dias de chuvas.

Durante toda a semana, Catarina não apareceu no “trabalho”, e nem na igreja; no trabalho porque havia sida acometida por uma doença, e na igreja porque agora entregara sua vida ao acaso; estava totalmente descrente de religião alguma. Mas não foi só essa crua crise de fé e desilusão, pois é certo de que teriam muitas outras pela frente; tanto quanto já fez e fará gemer-lhe a sua alma. Catarina estava à travada a uma sangrenta batalha emocional, contra si mesma; faltava-lhe o apoio familiar e da sociedade; faltava-lhe Cidadania.

Os adultos nunca os escutavam de jeito algum. Estavam sempre acima de tudo que viesse de uma criança. Era o timbre do militarismo.

Ela não agüenta mais; era como se uma linda rosa estive perdendo para o cravo. Catarina menina da roça, que se mostrava contrariada desde o dia em que pegou a sua Certidão de Nascimento para se casar; em vez de, para estudar. A mãe sempre tentando abrandá-la; o que era impossível; pois

cada dia ela ficava mais triste. Não falava a ninguém. Era ainda criança e por cima muito franzina. Ardia em prantos internos.

Transpôs a percorrer o seu ser agitado, bradada pelos bombardeios da falta de Cidadania; aquilo era sua completa desgraça! Ao redor dela, pessoas desumanas, que não acudiam que não trabalhavam para salvar a sociedade menos favorecida, antes que viessem a se estragarem por completa.

O incidente a vida de Catarina, principiara no mundo insano da hipocrisia do regime militar; que até nos dias atuais existe seqüelas; e mesmo querendo que este tempo fique cada vez mais distante; não da para esquecer.

Neste dia, Catarina desejou ainda mais estudar, e fazer a diferença em meio aquele povão, ou povinho; enfim, em uma hora eram chamados de povão em outros de povinho. E por ai, ia...

Seus pensamentos oscilavam demasiadamente; uma hora era de vencedora e, em outro de vencida. No de vencida: via que não tinha outro recurso, a não ser morrer. A morte era o fim de todas as dores e também quem sabe uma espécie de liberdade. Vivia em uma grande guerra. Não sabia ela que a guerra não faz de ninguém grande. E que não devia ceder ao ódio, pois isso só levava ao lado sombrio da vida.

De volta para casa dos dias rotineiros, os da busca da sobrevivência do que ali sobejava. Quem já passou por isso pode imaginar como é difícil esses dias rotineiros. Mas quem nunca passou é impossível imaginar. Catarina naquele momento imagina-se que sempre tem um jeito para tudo; menos para a morte. Então mesma que sobreviva ou somente existindo naquela vida miserável rotineira, de um sobre mundo se fazia necessário, para que, quem sabe um dia realizar o seu grande sonho. Não dava para passar despercebido, aos olhos; aquilo que era o seu maior sonho.

Crianças brincavam no pátio da Escola, era o intervalo, e elas não poupavam suas gargantas e todas as suas energias. Catarina parou ali alguns instantes, invejando aquela boa sorte!

Oh, que sorte! Brincavam e estudavam. Foi como se refugiasse para dentro de si. Surge lhe um pensamento de que a vida quisesse mesmo; esmagar-lhe como um trem.

A inveja daquela sorte surge o desejo de continuar a sobrevida, para um dia viver de verdade para fazer a diferença. Tudo estava muito distante, por isso chegou a sentir a inveja daquele outro mundo que viu ali naquelas vidas.

À noite, ao se recolher em seu quarto, viu os materiais escolares das suas duas irmãs mais novas, é tomada por certo devaneio. Se coroando de imaginação enriquecida de cultura, a sorrir para o caderno, e o lápis, que

sorriam igualmente para ela, ambos se deram as mãos em transformar o mundo. Levando a leitura aos lugares mais humildes, acreditando em um pequeno detalhe que fazia toda a diferença na vida de uma sociedade mais humana: a Educação.

O CASAMENTO

CAPITULO X

O sono não vem; ela esta a observar as estrela que estão tão longe, alto, e tira suas conclusões que a criação da natureza era mesmo algo tão completo, mas toma um grande fôlego, respirando bem fundo, ainda olhando o firmamento, veio uma brisa muito fria que faz tremer os queixos, toda arrepiada recolhe-se, fechando a janela de madeira que ringiu, trazendo sobre ela o medo de alguém acordar e começar a murmurar sabe-se lá o que. O povo de antigamente desconfiavam de todos e de tudo. Não dormiu logo, a, angustia, os medos estavam a lhe acompanhar. Catarina sonhava em estudar, o seu semblante não mentia que não estava feliz com o casamento. Ela tem um pensamento revoltoso, que iria embora, assim que pudesse, ia se mandar e ninguém nunca mais saberiam dela. Ela esta ferida, pois havia sido podada de seus sonhos e novamente lhe vem o pensamento:

_ Agora é lavar, passar, cozinhar, costurar, alem de que casar-se com um homem oposto.

Que maldição era aquela de se casar! Maldito tudo aquilo. Maldito os seus pais, maldito o seu país, o seu esposo! E maldito a sua existência; sofria com os lábios a tremer na sua infâmia emoção. Para ela era um silencio fúnebre que envolvia toda a sua alma; parecia que acabava de sair dali um enterro.

Catarina chorava trancada no quarto. É que ela já sabia do terrível desfecho de sua historia: ela agora casada, sem recursos, e obrigada a ocupar aquele cargo, que seria o preço de ser obediente a uma sociedade, onde moças deviam casar-se, ter filhos e daí por diante...

Logo pensa:

A culpa é minha, só minha!

A sua eis patroa; a Salete havia lhe dito uma palavras no ultimo dia em que estiveram juntas. Isso lhe ferveu na memória naquele momento; ainda que tarde demais. Mas lembra que ela lhe disse com um tanto colorizada:

_ Se tivesse me ouvido, não ficaria com essa cara de burra. Olha Catarina, você deve prestar mais atenção nas pessoas de mentes mais abertas! Se você quer sofrer as conseqüências de suas burradas que vá; se case! Mas tome cuidado para não envolver pessoas inocentes; que terão de sofrer também. Se cuide em não encher a casa de filhos. Agora pense bem nisso.

Os pensamentos de Catarina fixam as palavras que não ficaram sós nessas:

_ Onde vai descobrir condições para ter uma vida mais digna é na Educação; nunca se esqueça disso. É preciso ser muito burra para ter a

oportunidade nas mãos de ser alguém na vida e jogar fora pela janela! Lembre-se, que quando faz bonito para as outras pessoas, se amarga para si.

Catarina lembra-se; de que a Salete se calou por um tempo, mas logo se inicia novamente:

_ Olha, por estes tempos que esteve na minha companhia já podes avaliar o que não será resto, mas aquilo que você merece. Não abandone seus sonhos, lute, pois sei que miséria de vida, sempre foi a sua.

Era só no que a Catarina refletia.

_ que fim poderia ter tudo aquilo? Como iria Estudar, para melhorar de vida? Agora que ela estava preste a se casar? O marido exigiria filhos, com certeza! Apesar de, durante todo o namoro nunca haviam falado em filhos. E era isso que mais lhe preocupava.

Ela pensa:

_ Um inferno, um inferno!

O mundo parecia ter se acabado. Agora é preciso animo; a fisionomia da guria tinha um forte abatimento, sentimento de uma grande aflição; que amarrotava um enorme vestígio de uma noite mal dormida, noite com muitas lagrimas.

Já pela manha vão marcar a data do casamento.

A mãe que acreditava estar fazendo um bem enorme para a filha; apertou-lhe as mãos com ternura e disse-lhe algumas palavras ao sair do cartório:

_ veja bem minha filha: agora você em poucos dias estará casada e não corre mais o risco de ficar mal falada, pois este casamento lhe fará muito bem; o Geraldo vai te dar do bom e do melhor.

No rosto da guria estaqueou-lhe um desses sorrisos amarelos. Estou perdida... Pensou ela.

Talvez se ali naquele momento houvesse um espírito poeta, cantaria quem sabe um poema... _ A menina não veio; a menina não foi... A menina não alcançou o artista, que pinta da cor que é de nada; são corres das lagrimas da madrugada. O poeta que diz: _ isso não é só boatos; são coisas de fato. Uma mistura do dissabor, de uma vida de dor; das indiferenças. O poeta que diz: _ queria a menina conhecer bem o artista, que se perde de vista, na vasta tristeza. O poeta que diz: é uma mente surrada; perdida nas madrugadas. O poeta que diz: _ a menina dos gritos, que nada se ouve; sumindo o artista... O poeta que diz: esta presa seus pés neste vasto castigo; que são os seus amigos, das angústias que passa e das zombarias que se seguem seus dias... O poeta que diz: _ a menina não para, quer saber do artista. O poeta que diz: _ suas pisadas que são quase nada; deixada nas folhas que segue no bosque do triste silencio da vida; que num grito se perde. O poeta que diz: _ a menina que sonha com as mãos do artista... O poeta que diz: _ estes sonhos que vagam no deserto das esperanças, cuidando que chegue às margens da insana corrida da vida. O poeta que diz: _ a menina sussurra no ouvido do artista. O poeta que diz: _ são apenas sussurros para dentro de si...

Em meio aquele silencio; a mãe que vinha olhando as caprichosas ruas Cascavelenses quebrou o silencio com esta prosa:

_ Daqui a trinta dias vai se casar; vou ver minha primeira filha casando vestida de branco, e com um homem de excelente caráter.

Catarina continua calada, e a mãe a falar.

_ É um homem distinto e que gosta muito de você; só fico um pouco sentida que você não o ama, do tanto que ele merece.

A mãe parou um pouco de falar. E Catarina olhava para baixo, como se estivesse olhando para os pés, sem ter coragem de levantar os olhos. A mãe que ainda esta cheia de palavras não se cala.

_ Deveria saber que eu faço muito gosto neste casamento; sei que ele vai te fazer muito feliz.

Enquanto elas percorriam as ruas da Cidade; falava a dona Ondina; e Catarina calada esta, não mostrava nem um calor afetivo pelo fato. O coração dominava um sentimento muito distante do que sua mãe imaginava.

No fim de semana o Geraldo fora a casa dela, que não o recebeu com o melhor dos seus sorrisos. Mas a felicidade de Catarina não importava.

O casamento esta marcado para trinta dias; e tudo continuava do mesmo jeito; um simples namoro. Não havia nada de intimidade. Os últimos dias de solteira correram-lhe assim: travada de repugnância, de desespero, de lágrimas, de amargas reflexões, de suspiros que faziam saltar o coração da alma; já desacreditada da vida. Sem nem uma perspectiva para o futuro.

Aproxima-se o casamento e eram os mesmos complementos, as mesmas idéias da parte dela. Os estudos permaneciam em primeiro lugar. Seu triste pensar no de se casar e por esta força maior, quem sabe nunca mais voltar aos seus estudos. Cada dia o detestava mais.

Nos de quinze dias antes do casamento, se apresenta um abscesso na amam esquerda. Ardendo em febre, o seio todo inchado, padecia muito.

Um pensamento lhe flora nas idéias:

_Quem sabe esse mal de doença veio me salvar! Pelo menos por mais alguns dias! Volta-se para dentro de si, o que vale! Se quando me curar tem que me casar! Então, mais e mais detestava, praguejava o dia do seu casamento. A paixão pelos estudos ressoava dia e noite. O que mais lhe aborrecia era o fato de lutar tanto pela sua Certidão de Nascimento, que pensava ela, que abriria as portas da escola, ia tomando outro rumo.

Estava vendo suas irmãs menores ir para a Escola e o seu sonho se esvaído pouco a pouco.

A esperança com a doença ainda fez se um relapso, mas no momento tudo morre.

Mesmo doente vai se casar, lá vai como se estivesse indo para a forca.

Catarina compreende que agora tudo acabou. É lavar, passar, cozinhar e servir o marido. Isso era dolorido lutou tanto pelos seus direitos; direitos estes de ser Cidadã; e nada disso.

Na noite em que tivera marcado a data do casamento, em vez de ir dormir, encostou-se a janela do quarto, olhando para o céu, para ver se com o brilho das estrelas pudesse sentir ainda algum sentimento de alegria. Não sentindo nada ao olhar para o céu, então se volta para si, mesmo; o seu eu, fechou de leve os olhos para imaginar como seria uma mãe, pois sabia que com certeza seria mãe bem cedo, só se a natureza não lhe desse essa graça, ou não graça, sabe se lá! Pensa Catarina.

É grande o desconsolo e solta um palavrão; um só não! Vários. Catarina vê no seu eu uma espécie de fraqueza. Torna a fechar os olhos e vê dentro de si um mundo esplendido todo iluminado. Quando torna abrir seus olhos viu que as estrela estão tão longe, alto, e tira suas conclusões que a criação da natureza era mesmo algo tão completo, mas toma um grande fôlego, respirando bem fundo, ainda olhando o firmamento, veio uma brisa muito fria que faz tremer os queixos, toda arrepiada recolhe-se, fechando a janela de madeira que ringiu, trazendo sobre ela o medo de alguém acordar e começar a murmurar sabe-se lá o que. O povo de antigamente desconfiavam de todos e de tudo. Não dormiu logo, a, angustia, os medos estavam a lhe acompanhar.

O dia amanheceu foi ela para o cartório, na companhia dos seus pais. O semblante de Cataria não mentia que não estava feliz com o casamento. Ela tem um pensamento revoltoso, que iria embora, assim que pudesse. Assim que pudesse, iria se mandar; e ninguém nunca mais saberia dela.

Ela esta ferida, pois havia sido podada de seus sonhos e novamente lhe vem o pensamento:

_ Agora é lavar, passar, cozinhar, costurar, alem de que casar-se com um homem oposto. Isto lhe atormentava mais ainda.

O casamento efetua-se, no dia marcado, com um pequeno coquetel; bem ao estilo da época, e bem a, altura. A manha daquele dia estava enfeitada com uma neblina fina, que o inverno havia chegado mais cedo. Mês de maio, o dia Cascavelense era sombrio. O sol não queria dar a graça de

contemplar tão cruel e desprazível situação. O dia não era como nos dos outros, Noêmia achou-lhe um aspecto ainda mais destrutivo ao seu sentimento, como expressão infernal, mas que congelava a sua alma infeliz. Parecia que Deus lhe virara as costas, com o murchar das flores, do fundo do poço do abismo; dos mais profundo e vasto desprezo do chão. Era assim a alma de Noêmia naquele dia.

Nunca as flores, os pássaros, o sol, as árvores, o mato rasteiro, lhe pareceram mais pasmos; entre o sentimento interno daquelas vidas, e estava do mesmo modo o ar que soprava o mais dos impuros, de toda a sua existência; afogado em seu próprio sufoco... Não era uma sensação comum, como somente a de uma noiva; havia ali, o seu ultimo dia de menina. Naquele dia se despedia quem sabe, também dos seus sonhos, para vagar sabe se lá Deus a que?

Naquele dia, houve-se, do outro lado da vida os sentimentos que a cercavam, espreitavam por uma retorcida angustia . Não eram os mesmos, eram os dos últimos suspiros da ovelha no matadouro. Lembrou dos Estudos, e se questiona: _ a felicidade é isto mesmo? Ninguém liga pelas dores alheias, mesmo! Bem perto lhe surgia na memória às lembranças dos seus sonhos, que se esvaiam com se tivessem sido atingida por um punhal, bem certeiro ao coração; ferindo-a de morte. Só havia ali tristeza de não poder ter efetuado os seus estudos, como desejara; tão profundo foi o golpe; que não conseguia mais imaginar-se, estudando, mas casada, cuidando de casa, do marido e de filhos; que fez ir a baixo todo o êxito do seu plano. O dia era de rancor e de ressentimentos, que fazia sumir qualquer ar de felicidade.

O casamento deu-se, enfim. As lagrimas de Catarina derramaram quando se viu ligada quem sabe para sempre aquele homem. Foram as mais tristes lagrimas da sua juventude. Nenhuma mais as verteria, eram as mais sinceras lágrimas, cuja nenhuma mais derramou em seu coração.

Na noite do casamento, tudo se escondia para dentro de si; as estrelas e a lua voltavam para dentro dos seus raios, inibindo suas imagens. Até o Cruzeiro do Sul e as estrelas Três Maria se deformou; se perdendo no universo. Ainda veio uma nuvem escura borrando o resto; que não se vê mais os seus raios. O vento soprava empurrando o nevoeiro apreçado, escurecendo toda a sua alma; ao ver aquela melancólica melodia. As nuvens de escuras se embranqueceram de tanto chorar; grossas gotas caíram dentro de sua alma, como lágrimas de quem mendigam uma compreensão. Os seus olhares seguiam-na, por todos os lados; ela sentada a beira de uma cama a estralar os dedos finos, refugiando seus pensamentos tão remotos, que a acompanhava, nas lembranças do passado.

A sua alma sentia esta necessidade, para tentar se afastar deste acontecimento tão cruel, que era melhor revolver a pancada na ferida; do que pensar no ato da núpcia. O seu pensamento foi para a sala de aula, onde a humilhação da professora reinara na sua vida, foi naquela hora mais do que nunca se afundar ao passado e o futuro.

Não se continha; corria-lhe as lágrimas, menos quente que a pele do seu rosto, e o coração colhia-as poucas forças que lhe restavam naquela hora. Lá fora, por trás da janela passava as ondas lentas e melancólicas da noite, que se ia, a passo de tartaruga; vendo bem afundo aquela vasta noite escura e triste. A indisposição desdobrara o plano que ela concebera, e era nada menos do que fugir para bem longe de família. Uma espécie de vingança ultima que queria fazer padecer muito, atormentando quem lhes haviam roubado a sua felicidade; causando-lhes remorsos; quem sabe para o resto de suas vidas. Só que o seu plano não podia desenvolver, pela razão de que estava doente. Tudo foi se dissipando. Então ela se afrouxou e a circunstancia não lhe deu essa permissão. Enfim, em vez de mergulhar nesta idéia que não deu em nada, regressou tristemente para a realidade, que deixava ali toda a sua mocidade ao nada, porque o que levaria para sempre era aquela vida descolorida e seca, estéril e morta. Os anos que haviam se passado e à medida que eles vieram, foi-se Catarina afundada no mar escuro de uma Cidadania anônima. O que no passara da lembrança era seus Estudos, que não morreu; mesmo quando a vida do lar a distanciou-a deles. Ela não ia desistir nunca; pois sempre foi assim: nunca havia nada impossível para ela; mesmo quando o resto do mundo dizia que não daria certo ela tentava, até conseguir; ou então até ter certeza de que não era possível; mas daquela maneira; pois havia de haver outra. Tentava de todos os jeitos; pois de uma forma ou de outra uma hora havia de dar certo.

Na núpcia, o marido pareceu retratar certo reconhecimento. Que havia sido um tonto. Ele era apenas uma pessoa que lhe amava muito; e mesmo que ela viesse condenar lhe, estaria pronto a lhe entender. Ele tinha a certeza que existia em seu coração misericórdia de sobra para perdoá-lo. Catarina como tinha seus sentimentos muito oscilados, tinha agora readquirido toda posse de si mesma, era se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

Ela diz que ele esta enganado em pensar que ela lhe condenava por coisa alguma, pois a vida dela estava entregue ao acaso. Ele se apressa a dizer que suas intenções com ela, eram as melhores. Pestanejando assim em nervosismo. O espírito de Geraldo não ia muito com o de Catarina, era laço de incompatibilidade. O projeto de ela voltar a estudar tinha um prazo curto, para colocá-lo em prática. Era para ser dentro de seis meses. No

próximo semestre entraria para o supletivo. Para quem não tinha perspectiva de um dia poder estudar seis meses passaria rápido.

Alguns dias após o casamento estavam ela deitada na cama olhando para o teto e a, estralar os dedos, o esposo perto da janela, que concluía um serviço de por uma linha na agulha para coser um coador de café, estes de tecidos, isto há quinze dias após o casamento e eles ainda nada de consumar o casamento, não tinham trocado nem um beijo. As mãos franzinas de Catarina estavam meias tremulas, ao passo que no rosto de sua esposa uma expressão de felicidade, por consumar o matrimonia, onde a tomaria por esposa, então agora Catarina passa ser sua mulher por completa, a forma com que ele conduziu a situação fez com que ela começasse a ter um carinho por ele, pois ele teve muita paciência, sendo muito gentil que, fez com que ela perdesse a insegurança e se entregasse a ele de uma forma menos desagradável.

Dois meses após o casamento, foi direcionada em tratar da saúde de Catarina, o do nódulo infeccioso em sua mama esquerda.

Geraldo acreditava em que todas as pessoas deviam ter uma religião. Ele estava só esperando se casar para batizar-se em uma religião já escolhida, que vinha acompanhando há uns vinte anos.

Em uma noite de sexta feira ele tenta evangelizar a Catarina, ela riu e disse:

_ se você não sabe, eu sou descrente deste de ter fé da forma que você acredita. Eu acredito mesmo, é no esforço de cada pessoa. Quero que você saiba de uma coisa. Continuou Noêmia.

_ Quero de hora em diante ser senhora da minha vontade. Parece que não nasci para ser mandada por homem algum. Sei que os tempos são difíceis para os sonhadores, mas vou conseguir estudar, me formar. Isso é agora para mim uma questão de honra.

Não sai ali nem um pequeno som de voz, por mais alguns segundos. Logo ela se volta a falar:

Aceitei me casar, mais por obediência a minha mãe, me afastando dos meus sonhos, pois até mesmo vivendo dos restos das feiras podia estudar, mas quem não tem domínio sobre si, não tem merecimento nem de existir, já que viver é muito para alguém que não luta pelos seus ideais; mas se entregam ao acaso, aos outros e a Deus; fugindo se de si mesmo.

Catarina teve um surto de rebeldia.

O futuro que lhe aguardava ainda era muito inserto.