NUNCA É TARDE! - Capítulo III

CARO(A) LEITOR(A), ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS, PARA ENTENDER A HISTÓRIA, SUGIRO A LEITURA DOS DOIS CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

Quando eu tinha dez anos, mamãe casou-se de novo com um italiano. Foi "um Deus nos acuda", ninguém aceitou o casamento de mamãe. O que se ouvia era:

- Onde já se viu, uma velha, já vovó casar-se de novo!

Nessa época já eram casados e tinham filhos, Rodrigo, Elói e João Carlos.

Mamãe não agüentou a solidão e preferiu deixar tudo e a todos. Foi morar na capital. Jofre, seu marido, era comerciante em São Paulo.

Somente eu acompanhei mamãe, os outros ficaram com Rodrigo. Coitados! Comeram "o pão que o Diabo amassou com o rabo", com Fátima, pois era como a madrasta da estória da Branca de Neve.

Lembro-me bem de Júlio César dizer que não agüentava mais as pressões que ela os fazia.

Com o passar dos meses resolveram aceitar o casamento de mamãe e morar conosco.

A minha infância foi muito sem graça, tinha tudo que desejava, eu queria ser pobre para desejar as coisas e não as poder possuir, sempre quis desejar o impossível.

Lembro-me que eu tive a maior alegria quando mamãe deixou-me ir ao cinema só com uma amiguinha. Aquilo para mim foi a maior aventura. Pois mamãe não me deixava ir sozinha nem na esquina.

Fui crescendo naquela mesma rotina, tudo do mesmo jeito, sempre muito estudiosa, muito obediente, mas totalmente sem maturidade, sem planos para o futuro. Os dias para mim, eram só um dia após o outro. Tudo para mim era igual.

Logo comecei a sentir umas mudanças no meu corpo e também no meu comportamento, mamãe falava:

- Ela está ficando mocinha, ela está ficando mocinha...

Aquilo tudo servia de graça para mamãe e Jofre. Eu me sentia péssima!

A cada brincadeira de mamãe ou de Jofre, eu ficava vada vez mais frustrada.

Um certo dia, na hora do jantar quando estávamos todos à mesa, Jacó pediu mamãe limonada, ah! mas pra quê? Cairam todos em cima de mim com as costumeiras piadinhas. Antes mamãe havia dito:

- Eu fui à feira e não encontrei limão.

- Pede à Francisca, ela tem dois! - falou alguém, que de tanta raiva nem vi quem foi.

O riso foi geral, riram até não poder mais, não vi a hora que me levantei da cadeira, joguei os pratos no chão e disse:

- Olha aqui, bando de palhaços, eu não tenho culpa de ter nascido mulher e se pudesse escolher eu jamais escolheria nascer homem, vocês homens são sem sensibilidade, vocês não sabem o que é ser mulher, vocês não sabem pegar em uma flor para apreciá-la, vocês são ocos, só tem a casca. A senhora, mamãe, está se tornando máscula com esta mania de gracejar de mim, por um acaso, a senhora não passou por isso?

Tinha mais coisas a falar, mas fui enterrompida:

- Não fale assim, Francisca, não te dou o direito de falar dessa maneira, onde está a educação que eu te dei, respeite os mais velhos, vá para o seu quarto, está de castigo, não saia enquanto eu não mandar. Você merecia umas boas palmadas!

Mamãe falou tão brava quanto eu nunca vi. Como já estava de castigo não poupei as palavras.

- Engraçado! Eu tenho que respeitar os mais velhos, mas os mais velhos podem me desrespeitar, porque sou adolescente eu não sou gente? Eu sou gente de carne e osso igualzinho a vocês. Vocês parem e pensem, que eu não sou um objeto ou um animalzinho qualquer, eu tenho sentimentos também e o que às vezes vocês acham que é engraçado pode fazer muito mal para mim.

Fiquei de castigo uma semana no quarto, mas valeu porque nunca mais criticaram de mim.

Fui crescendo e tudo se modificando ao meu redor.

Já conversava com minhas amigas de colégio sobre coisas que jamais mamãe contou.

Sempre tive vontade de ajudar a todos. Sempre ajudava os pobres que conhecia.

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 20/12/2006
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