... o tempo que foi e o que não foi nunca ...

“Não me quis mais.

Eu não lamento.

Não somos para o outro, certamente.

Mas hoje, dois anos depois, ainda sinto o seu cheiro.

Tenho as linhas de sua boca em minha memória. Ouço sua voz rouca.

Seus olhinhos fechavam. Não conseguia me encarar enquanto sorria.

E quando ria de mim? Eu gostava muito de me fazer de bobo.

Suas pernas são lindas. Sua dança é incomparável.

Como é leve!

Meu Deus, que coisa boa foi você!

Sabe, eu acho que pode ter sido amor ali.

Afinal, rimos muito, passeamos, tivemos discussões.

Os nossos retornos eram recheados de beijos.

E quando brigamos em sua casa, e você veio correndo atrás de mim, no meio da rua, de noite, vestindo camisola do Pernalonga?

Uma menina... vejam só... de camisola no meio da rua?

Mas sempre fui escravo, não permiti que o relacionamento fosse entre duas pessoas.

Quem deu pouco tempo a nós era sábio. Já sabia que casal são dois.

Éramos um: você.

Suas pernas.

Seu sorriso.

Seus olhos.

Seu cheiro.

Sua voz.

Sua vida... que eu teimava em querer só para mim.

Não, não foi amor. Nunca.

Mas foi bonito.

A imagem que levarei comigo para sempre: foi bonito.

Bom, feliz aniversário. Desculpe pelas linhas tortas, mas você sabe, aqui na faculdade preciso agir rapidamente. Escrevi na biblioteca, naquela mesa perto da janela azul. Só queria lhe parabenizar e agradecer por tudo. Acho que também preciso pedir desculpas.

Até mais. Seja feliz.

Antônio.”

Amassou o papel e os seus olhos se encheram de lágrimas.

Sim, foi legal. Houve entrega, houve risos. Mas amor... não, não houve.

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