Flores

Chegou com grande dificuldade. Mal pôde abrir a porta e, cambaleando passou pela sala. Machucou o joelho na mesinha de centro e se esticou com toda força para chegar ao banheiro. Sentado no chão depositou no vaso aquilho que lhe havia de pior. Rastejou-se até o quarto, onde notou que a grande cama estava bem arrumada. Sensação de longa ausência - incoveniente. Não retirou o que sobrava na cama, simplesmente deitou-se. Vestido como estava, ainda de sapatos, permaneceu até a manhã seguinte. Não conseguiria dormir. Sua mente parecia mesmo estar prestes a explodir. Sensações, pessoas, cores, olhares. Movimentos muito acelerados para alguém deitado em posição fetal. Pensou cochilar de olhos abertos, pois que fechados o mundo lhe parecia mais evidente. Fracassou. Fora tomado de sentimentos que não sabia exatamente quais eram, talvez medo, dor, quem sabe angústia, uma fúria por calmaria. Desejos que não se explicitavam pela razão. Quisera algo, mas não sabia o que era, apenas o que não. Não queria uma nova manhã, outro dia de sol, ver o mar ou passear pelo parque. Não era sobre o futuro, mas sim sobre o passado. Desejo de ter dito o que não disse seja porque não teve vontade, porque não lhe apeteceu ou pareceu-lhe digno. Desejo de regresso que já agora não se sustentava. Agora. Aquietou-se o quanto pôde na contramão de uma mente que não se acalentava. Levantou-se tempestuoso quando já de manhã a campainha tocara. Recebera as flores .... os sinceros sentimentos.