Maratona de Buenos Aires - a motivação

Antes de viajar, lembrei de uma entrevista do técnico Bernardinho. Ele dizia que uma vez encontrou com o Felipão, treinador de futebol, e aproveitou a oportunidade para fazer uma pergunta sobre o que ele teria dito aos jogadores antes da final da Copa do Mundo de 2002. A resposta foi interessante, não lembro das palavras exatas, mas era algo como “divirtam-se, aproveitem a oportunidade”. De fato, era desnecessário ressaltar a pressão do momento. Qualquer um que nasceu nesta parte do planeta sabe da responsabilidade de representar o Brasil no Mundial de futebol. Aquele momento já foi sonhado por todo garoto que chutou uma bola algum dia.

Naturalmente, correr como amador mais uma maratona não pode ser comparado a um jogo decisivo. Destaco apenas que a lição importante é se divertir ao longo da jornada. Mais importante que melhorar a marca pessoal ou superar algum colega. Uma boa sugestão, de difícil aplicação cotidiana. Mas me esforço para isso. Sim, fiquei gripado, o joelho doeu e preocupou, a camiseta não chegou, mas o importante é manter a alegria de correr.

Quando eu tinha uns 13 ou 14 anos, tomava meus primeiros “caixotes” com uma prancha na praia e gostava de ler revistas de surfe. Ficava impressionado com as fotos de ondas perfeitas. Lembro detalhes de um editorial, que ficou gravado na memória desde então. Falava sobre surfistas profissionais viajando por lugares paradisíacos para simplesmente pegar onda. A revista citava um texto zen-budista e explicava que o mestre zen não distingue trabalho de diversão. Faz ambas as coisas simultaneamente. E mesmo um observador atento não seria capaz de separá-las.

Atualmente, meu sustento é bem diferente do meu lazer, mas na corrida, onde muitos observam apenas esforço, quem pratica, encontra a felicidade. A alegria do surfista é mais evidente que a do corredor... Mas as aparências enganam! Ainda que os sedentários não entendam como é possível colocar “felicidade” e “42km de corrida” na mesma frase, correr deve ser sinônimo de diversão... Completar o trajeto é mais importante que o tempo marcado no relógio. Ao final dos quilômetros, o corpo revela sinais do esforço, mas o corredor está renovado. O desgaste do corpo alimenta o espírito.

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