AS MULHERES DO FAUSTO PLAUTO

AS MULHERES DO FAUSTO PLAUTO

FLAVIO MPINTO

-Ih, porque estás triste, Fausto?

- Tche, não me amola!

- Calma , vivente, só perguntar não faz mal. Tu estás rodeado de garrafas e todos estão comentando! Ora.

- Pois é, Talys.

- Então, desembucha, que mal te aflige?

O velho Fausto Plauto estava na maior enrascada. A Michelle, sua patroa, estava hospitalizada mais uma vez e não queria passar sua tristeza ao amigo. Afinal ele tinha sido o alcoviteiro da aventura.

Não era de hoje que se enrascava com mulheres. E mulheres complicadas.

Tudo começou quando se enrabichou pela Celminha, 35 anos mais moça. Ela era o xodó da redondeza. Toda certinha, tipo mignon, pernas grossas, cabelo preto bem curtinho, carinha de japonesa, parava a rua ao sair. A faculdade e a academia de ginástica também.

- Fausto, depois de quase trinta anos de viuvez , tu devias casar de novo. Que achas? Aposentado, bem de vida, sócio do super .. blábláblá....Falava sempre sua irmã Ricarda Amália.

Mas ela não sabia do engraçamento pela Celminha.

- Puxa vida, eu, Fausto Plauto, 60 anos, casando com a guria mais gostosa da zona! Te mete, hein! Assim pensava sempre o velho Fausto.

Dia vai, dia vem, e num fim de semana que a turma toda fora passear no Batuva, Fausto se mandou com a Celminha para Santa Catarina.

- Que baita praia, hein, meu amor!

E o Fausto, todo encantado e babando, fazia todas as vontades da Celminha.

Voltaram casados e ela se bandeou para o apê do mais cobiçado partido da fronteira.

Fausto andava faceiro que nem ganso novo, mas enganou-se com a sua parceira.: ela era toda avançadinha, mas nada sabia sobre o que ele queria.

- Bom, menos mal....tá aqui comigo e não com aqueles vagabundos da quadra.

Mas Celminha era aparecida demais: gostava de andar só de micro saia, e não mudou seu jeito de ser na rua. Sempre chamando atenção, se mostrando e começaram as brigas.

- Eu me juntei a ti porque te quero e se quisesse uma mulher para exposição casaria com uma vaca da Expointer. Te dou tudo, o que queres mais? Falava o Fausto.

Outro dia surprendeu-a no bar mostrando a marca do biquíni da ida a Itapema e até um beliscão que levou de um argentino. Mas Fausto ia relevando em nome do amor. Ele ainda não sabia que ela tinha como modelo a Luma de Oliveira, como ela andava, se vestia. Já tinha até apelido: a Luma fronteiriça, e só Fausto não sabia.

A gota dágua foi na inauguração das novas instalações do supermercado - ela foi com uma micro saia e calcinha transparente. E sem soutien, que Fausto chamava de corpinho. Um deleite para os fotógrafos do jornal da cidade. No dia seguinte estava na primeira página.

Fausto, que andava desgostoso, não agüentava mais.

- Eu te disse para casar, mas não com uma guria. Precisas de uma mulher com presença, porte, bem a altura do teu posicionamento na sociedade e exijo providências. Tu não pode ser enxovalhado por essa sirigaita do Areal. Nem nossa família. Lembra daquela festa de 15 anos da filha da Laurita? Pois bem, enquanto tu bebias, ela dançava funk com a gurizada, toda assanhada.

- Mas , Ricarda Amália, ..

- Não tem mais nem mais.

Foi para casa e mais uma vez discutiu com a Celminha sobre seu comportamento e ela disse, mais uma vez alto e em bom som, que era assim e não mudaria e ponto. E aí decidiram ir um para cada canto. Fausto também não agüentava mais que perguntassem por sua filha!!! Não contou a ninguém, também, que a trouxe de Novo Hamburgo a Porto Alegre a laço de um baile funk!!!

E ainda deixou o Audi com ela.

Ricarda Amália ficou feliz com a decisão. O carro era de menos.

Meses depois, num aniversário de Talys Elyas, lá estava a Michelle.

- Olha, Fausto, tu merece uma mulher daquelas. Olha lá.

Michelle era professora e sempre passava na frente do super. Era uma senhora loira de fechar comércio: alta, forte, séria, cabelos modernos e meio mechados, lábios grossos, olhos azuis, pernas longas e bem torneadas, barriguinha sempre de fora e mostrando a cintura bem feita e cuidada. E ainda muito culta, trabalhadora e solteira. Só era rodada, e, claro, tinha cancha. Devia ter, no mínimo, uns 90 mil km de estrada. E uma postura de dar inveja: não dava mole prá turma do bar. Impunha respeito, e muito.

Quando se deram conta estavam dançando , rostinho colado, ao som de Los Hiracundos e relembrando os tempos de colégio. Contou-lhe que, uma vez tinham namorado num churrasco de fim de ano letivo e depois nunca mais o vira. Ela também se afastou da cidade indo para a capital e voltara poucos anos depois para lecionar. Era bem diferente daquela guria do Estadual, pensava Fausto. As fofoqueiras da cidade achavam que era viúva, e ela ria da suposição.

Apaixonaram-se rapidamente e o namoro engrenou para felicidade da família de Fausto, mais porque queriam se livrar da Celminha e seus trejeitos.

O tempo passa e decidem casar de papel passado e tudo. Foi uma cerimônia simples, como queria a noiva. Afinal, mesmo sendo o que aparentava, era de uma simplicidade muito grande.

Fausto vendeu o apartamento( era um chatêau matador como dizia a Ricarda Amália) e foram morar numa confortável casa de 2 andares num bairro afastado.

- Talys, estou perto da minha felicidade graças a ti.

- Amigo é prá essas coisas, Fausto. Segue em frente.

- Vou morar numa casa com uma hortinha para me divertir, um jardim pra Michelle e o pátio bem grande pro Zidane correr.

- Zidane?

- Sim, meu cachorro, não conheces?

- Fico feliz em te ver feliz, amigo velho.

- Mas não é isso, sabes o problema de saúde da Michelle, não é?

- É, a gente sabe pelos outros, Fausto.

- Desde que casamos este é o segundo natal que estamos separados por doença. A primeira foi no ano passado com aquela crise de hemorróidas e resultou em operação. Logo mais teve a amidalite e agora, neste natal, a crise da vesícula com uma operação. Quase deu Pancreatite, mas foi uma operação rápida em termos de recuperação. Agora ela está se recuperando. Além dos problemas de colesterol alto, e outras cositas durante o ano que passou. Ainda tem de fazer umas plásticas pra completar. Mas vai ficar 100% para nossa felicidade. Já chega de problemas de saúde. Não pensei que a Michelle tivesse tantos. Uma mulher tão bonita....

- É, Fausto, agora é aguardar.

- Nem te conto, sabes quem está trabalhando aqui de enfermeira?

- Quem, conta logo!

- Adivinha: a Celminha. Quando a vi, perguntei se ela estava aqui só para me sacanear. Puxa, a Celminha não teve um probleminha de saúde quando esteve comigo, siquer uma dor de cabeça, dor de dente...Que coisa. No outro dia que a Michelle baixou, ela estava aqui trabalhando.

- Isso é destino, Fausto, mas deixa pra lá. A vida continua.

- Pois é, mas parece que os médicos não querem dar alta logo. É que surgiu mais um probleminha com ela. Ai Jesus, até quando!?

-( esta foi uma maneira de contar a história com meus dois últimos carros- um Palio Young 2001 , pouco rodado, completo e que vendi para comprar um Omega preto Cd 93 com ABS, trio elétrico, AC , Dir Hidr, e tudo mais que se tem direito. O Palio durante 4 anos não me deu um probleminha siquer, já o Omega....se bem que o comprei de um picareta. Não o avaliei como deveria e estou no preju. Hoje, ainda na oficina, o mecânico diz que está tudo ok, mas ao colocar o coletor de escapamento, quebrou um parafuso e vai ter de tirar o motor fora....)