Um dia de agosto

Ana acordou cedo, seis e quinze, poderia dormir até mais tarde, era sábado de um dia nublado e frio de agosto, mas acordou e sabia que perderia tempo tentando recobrar o sono perdido. Levantou-se, lavou o rosto e ainda de pijama bordô com desenho de um pingüim de guarda-chuva, foi até a janela do quarto, afastou a cortina pesada cor de vinho e abriu a janela. Um vento frio a fez fechar o vidro, mas permaneceu por longo tempo debruçada ali, rosto entre as mãos frias e chorou, chorou vendo as pétalas do copo de leite que renascera lutando com frio daquele inverno, chorou olhando seu pinheiro que ilustrava a frente da casa. Chorou... Já fazia muito tempo, e o tempo não se conta pelos dias comuns, e sim pelas sensações e sentimentos que atravessam a vida. Já fazia tempo, quatro anos, mas a saudade ainda fazia sofrer, a ausência de seu pai ainda causava tristeza. Ele se fora em um dia frio e nublado como aquele de um mês de agosto que ficara gravado em sua mente e em seu coração. Mas era um novo dia, então Ana enxugou as lágrimas e ainda vislumbrando a mesma paisagem de folhas pelo chão e pingos grossos de chuva que começavam a cair. Ana então viu um bem-te-vi sobre um galho do pinheiro que cantou alegremente e logo alçou vôo. Talvez fosse um sinal divino de que a vida continuava, apesar da saudade. Ana espreguiçou-se e encaminhou-se para a cozinha. Tomaria o seu café matinal assistindo ao Bom dia Rio Grande.

Evanise Bossle
Enviado por Evanise Bossle em 26/10/2011
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