"O DEFUNTO ERRADO"

“O DEFUNTO ERRADO”

- Quem está falando?

- Qué...qué...falá... com...quem?

- É o Lolo que está falando?

- É... sou... eu mesmo...

-Lolo, aqui é a sua prima Irene. Eu estou ligando para avisar a vocês que o Carlito faleceu. Tomem cuidado quando avisarem à tia Dora, ela está muito velhinha...

- Pode deixar...

Irene percebe que o Lolo está embriagado ( ele sempre toma umas e outras), então, pede pra ele chamar a irmã, Deise...

- Ô Irene, a Deise e a mamãe estão na casa da Tati, mas pode deixar, eu dou o recado...

- Está bem, mas não esquece...

Depois de tomar mais um gole, procura daqui, procura dali, acaba encontrando o telefone da Tati, sua outra irmã:

- Alô!

- Tati? Aqui é o Lolo...

- Sim...Houve alguma coisa, meu irmão?

- É uma coisa muito triste, mas não conte pra mamãe... É que a nossa prima Irene ligou falando que o tio Carlito morreu..

Observem bem: o recado que o Lolo recebeu foi de que o Carlito morreu; já o que ele transmitiu foi que o Tio Carlito morreu.

Explicando: havia o Carlos (Carlito) primo, irmão da Irene e filho de dona Marcelina, que era irmã da dona Dora, Em crianças, os primos brincavam juntos na casa de dona Dora, onde havia um grande quintal, todo arborizado. Depois de adulto, casou, mudou-se para longe e nunca mais se visitaram...

O outro Carlos ( também Carlito) tio, era irmão da dona Dora e da dona Marcelina...Como as três famílias se visitavam, inclusive porque o Carlito tio, estava com derrame cerebral já há alguns anos, em cima de uma cama.

Daí, a confusão, mas continuando... A Tati, achando que a mãe tinha o direito de saber da morte do irmão, sutilmente, sentou-se a seu lado e disse:

- A senhora sabe que o tio já sofreu muito, não é?

- Sim, eu sei... Por que está perguntando? Ele morreu?

- É verdade, mãe, o tio Carlito faleceu.

- Eu já esperava, que Deus o tenha, ele merece... E porque foi a Irene que deu a notícia? - esperava-se que fosse uma das filhas dele...

- A senhora sabe, a Irene é que mora perto dele e está sempre por dentro dos fatos... Agora, perguntando: a senhora vai querer ir ao enterro?

- Vou, sim, quero despedir-me do meu irmão pela última vez...-vejam quanta lucidez tinha essa velhinha de noventa e dois anos...-

Tati, Deise e a dona Dora, com a sua bengalinha, partiram para o cemitério... Ao chegarem à capela, antes de falarem com os outros parentes, foram direto ver o morto. Descoberto o rosto, dona Dora olhou espantada para a Irene e perguntou:

- Esse é o Carlito, Irene?

- É o Carlito, tia Dora! –diante do espanto, as irmãs Tati e Deise também olharam pro defunto e sem entenderem, perguntaram:

- Irene, esse não é...

- É sim, tia Dora, é o meu irmão Carlito! Vocês não sabiam que ele estava doente com leucemia?

--Não!!! Responderam as três, em uníssono...

A diferença foi logo percebida porque o tio, além de ser bem mais velho, era branco, de nariz adunco e o primo era mais novo e moreno.

A Tati, diante do inusitado, comentou com a Deise: - Que vexame, a gente veio crente que era o enterro do tio, quando acaba é o enterro do primo... Vamos lá para fora, este fato me deu uma grande vontade de rir...

Dias depois, a Irene ligou para a Tati:

- Olha, estou ligando para avisar da missa do Carlito, é na Igreja tal , tal às tantas horas, mas olha, se não quiserem ir, não precisa!

- Que é isso, Irene? Qual é a tua? Perguntou a Tati.

- A Rute, minha cunhada, ouviu quando a Deise falou que foi uma decepção para tia Dora, além do sacrifício de levá-la...

- Olha Irene, essa sua cunhada gosta de fazer uma fofoquinha... Quem fez o comentário fui eu e não foi nada disso. Ela escutou uma coisa e contou outra...

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 01/11/2011
Reeditado em 01/11/2011
Código do texto: T3311360