Foragido

Ele era procurado, havia fugido pela manhã.

Naquela noite, um temporal tomou conta da pequena cidade, e todos fecharam suas janelas e posicionaram seus baldes.

A orquestra dos telhados de zinco, oferecera um show a parte, repercutindo em todos os sonhos.

Nas ruas, ninguém. O crime era propício.

Assim que saiu ele rondou algumas casas, uma delas foi furtada e até o fim desta tarde, de tão bom que era, o dono sequer notara.

Quando furtou a tal casa, de longe observou outra.

Uma mulher sentada na varanda, de preciosas curvas vestia seu longo vestido, chorava, reluzindo ainda mais os belos olhos cor de mel que de longe ele não veria.

Ele prometera a si que, mesmo apesar da recém liberdade, pela noite, quando a poeira abaixasse, voltaria àquela casa e cometeria mais um de seus atos, mesmo que fosse o último.

Quando os relâmpagos já não permitiam intervalos e os trovões eram badalos, ela resolveu deitar-se, e de tanto cansaço e preocupação, não trancou a porta da frente e foi deitar-se.

Enquanto o temporal inundava a cidade, ela delirava de febre em sua rede.

Não fosse o temporal, a abertura da porta teria sido notada e a cena próxima poderia ter sido evitada.

Ela não sabia se o homem que via à frente, era delírio ou realidade, pouco importava, sua saúde já estava debilitada.

Ele a pegou no colo e levou para o quintal de chão de terra no fundo da casa, rancou-lhe as roupas e abusou.

O senhor da casa roubada pela manhã, ouviu um estalo de um raio e levantou. Quando viu a cena da janela, pasmou.

Tentou fazer algo a tempo e foi em baixo de chuva até a cerca que dividia as duas casas.

No caminho, notou o roubo realizado em sua casa, ia saltar a cerca e ir para cima do rapaz, mas deteve-se quando notou que ele tinha algo nas mãos.

Sentou e chorou.

Era o marido de sua vizinha que voltava para sua casa depois de brigar com a esposa pela manhã, e agora retornava pedindo desculpas e que não se entregasse à febre, pois dali em diante todas as cenas de amor seriam constantes, só que a quatro paredes...

Ela sussurrou, dizendo que agora teriam de ter mais quatro, pois havia nela uma encomenda de Deus, descoberta pela tarde, há anos desejada pelos dois...

Ele distribuiu as rosas que estavam em suas mãos, roubadas pela manhã, sobre o corpo dela e sorriu, agradecendo aos céus...