Escrita errônea.

Meu corretivo chegou ao final. Já não posso mais escrever e cometer erros, a não ser que minha página se encha de rabiscos e manchas. E é tão difícil, meu bem, ter de ser perfeita o tempo todo, não poder errar nem sequer uma vírgula… É dolorido saber que, a qualquer distração, minha caneta pode escorregar e provocar um arranhão indesejado, acabando com toda a arte da minha história. (…) Você aceitaria, meu amor, minha história contada em folhas de papel rasgadas e amassadas? Manchadas e arranhadas? Ou, como os outros, largaria tudo de lado e se cansaria de decifrar os códigos, ler as entrelinhas? Você me prometeria, meu anjo, que, mesmo que eu, por uma falta repentina de atenção, cometesse um erro bobo que pudesse deixar minha escrita meio ilegível, minhas palavras meio bagunçadas, você não faria com que todos os meus acertos anteriores se tornassem insignificantes? Porque, ah!, já me cansei dessa perfeição exigida em meus escritos, em minha vida. Ando precisando de alguém que me aceite como sou, com erros, machucados, ortografia errônea, passos tortos. Vem guiar minhas mãos ao escrever e meus pés ao andar. Vem comigo, me faz companhia, me arranca os espinhos do peito, me cura os arranhões, me faz ver que errar não é assim tão ruim quanto dizem. Vem, faz com que meu gosto pela escrita volte a ser como antes. E pela vida também, como preferir.

Raíssa César
Enviado por Raíssa César em 10/11/2011
Código do texto: T3328634
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