NUNCA É TARDE! - Capítulo VIII

CARO(A) LEITOR(A), ESTE CONTO É ESCRITO EM CAPÍTULOS. PARA ENTENDER A HISTÓRIA, SUGIRO A LEITURA DOS SETE CAPÍTULOS ANTERIORES. UM ABRAÇO. MARIA LÚCIA.

Visitei Ronaldo por várias vezes na penitenciária. Dizia-me sempre que ao sair da cadeia iríamos nos casar.

Eu gostava muito dele, mas sabia que um casamento entre nós seria impossível. Então resolvi tomar uma decisão que sabia que iria sofrer muito, mas o que adiantaria casar com ele para depois não dar certo? Ter de separar, porque ninguém prevê o futuro, mas daquele casamento sim, era visível.

Numa manhã de domingo escrevi-lhe uma carta a qual lembro-me de cor e salteado. Dizia ela:

" Caro Ronaldo,

Uma brisa passa pela janela, bate em meu rosto banhado de lágrima e diz: "Por que choras? Olhe para o jardim, veja como são alegres as abelhas, os colibris, os pardais, os insetos que nem mesmo vemos, eles são alegres porque têm um ideal. Seja como eles, em vez de chorar, sorria! A vida é bela, e existem dois caminhos a seguir: um cheio de espinhos e insetos peçonhentos e outro cheio de rosas, cravos, lírios, dálias, tulipas, margaridas, orquídeas, palmas, crisântemos e uma infinidade de insetos lindos e dóceis e pássaros igualmente lindos e cantantes. Basta você escolher, se você escolher o espinharal, será o resto dos seus dias de dores e desgostos. Se você escolher o caminho das flores, só verá alegria, sorriso, é claro que de vez em quando você irá se espinhar nos espinhos das rosas, mas a vida seria sem graça também se fosse só flores. Cabe a você própria escolher seu caminho."

A brisa foi embora, Ronaldo, e eu parei de chorar e resolvi que escolheria o caminho das rosas.

Adeus! Não me procure mais, por favor. Não irei mais te visitar. É uma pena que você seja assim, tudo poderia ser diferente...

Ronaldo, a pobreza não é defeito, se você fosse um rapaz honesto, você seria capaz de viver a vida sem estar lado a lado com o roubo, que é o pior defeito de um homem. Você me perdeu por um simples capricho. Quantas vezes eu te pedi para sair desse lamaçal? Você não me ouviu, aliás não ouviu a ninguém. Faça de conta que eu morri!

Tentei, Ronaldo, mas não consegui. Vou lembrar para sempre dos nossos momentos bons e quero que você se lembre também, pois foi muito bom enquanto durou, os nossos "bons momentos.

Francisca.

Mandei levar a carta até à cadeia por um empregado de mamãe, que chegou com uma resposta:

"Amor da minha vida,

Li sua carta e o que você está dizendo é a mais pura verdade. Você tentou e eu não consegui, depois da nossa separação, tudo se tornou mais difícil para mim, eu sentia necessidade de roubar, parece-me que encontrei na arte de roubar uma maneira de esquecê-la. Enquanto estava planejando meu próximo assalto eu não sofria por você. Tiraram você de mim, como se tira um pedaço de pão da mão de uma criança faminta. Você era a luz que me iluminava, sem você fiquei nas trevas, não enxergava mais nada, só fazia o errado, eu nunca tive uma pessoa para me orientar, nem mãe, nem pai, nem irmãos. Quando encontrei você, tiraram-me. Eu não posso obrigá-la, nem pedi-la que me perdoe, porque agora já é tarde, já cai nas garras da justiça, mesmo se me soltarem, ficarei marcado: ex-presidiário, existe coisa mais humilhante? Eu odeio as pessoas que só pensam em si próprias, não pensam que o próximo às vezes precisa de um apoio, de uma chance. O que a gente ouve por aí é só: "Este rapaz não presta! Não tem jeito, 'pau que nasce torto, até a cinza é torta.'". A você eu perdôo, não é sua culpa, você foi criada assim. Eu vou te esperar, talvez um dia você se arrependa e sabe onde me encontrar. Se você não me procurar, quando sair daqui, vou vegetar até que Deus nos una novamente, porque eu sei que isso vai acontecer.

Aquele que te amou, te ama e te amará, mesmo se nunca mais nos reencontrarmos.

Ronaldo."

Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles
Enviado por Maria Lúcia Flores do Espírito Santo Meireles em 03/01/2007
Código do texto: T335130