As meninas de Boca de Ouro...

As meninas de Boca de Ouro...

A menina de saia curta, subia a ladeira de degraus curtos, levava nos braços um enrolado de panos, passava pelos homens sentados na sua empreita de nada fazer, enrolando seus baseados baseados em sua conduta de ociosidade naquela parte do morro, ela ia naquele sorriso cativante que deitava a seus pés todos que a desejavam, ela sabia disso, seguia como regra absoluta de que um dia colocaria todos a seus pés, seria a dona daquele lugar, iriam respeitá-la nem que fosse à força...

Os olhos de alguns se abaixavam para olhar sob sua saia, branca de pregas, ouviu comentários sobre a cor de sua calcinha que aparecia em seu rosa de quase criança ainda, mal havia completado seus catorze anos, adorava um pancadão, e descer até o chão fazendo todos fotografarem sua vulva a querer saltar das beiradas da calcinha que entrava entre os lábios provocando tesão e até orgasmo na sua virgindade de menina.

Parecia ontem que estava sentada no balanço de barquinho que viu ele parar na tela do parquinho onde estava com os menores de casa, ele sorriu e lhe fez um gesto com a mão chamando-a e ela se dirigiu a ele, mesmo o irmão pequeno a agarrando, ela desvencilhando-se seguiu olhando naqueles olhos negros que lhe sorria com aqueles dentes enormes e amarelados, seu sorriso tímido e metalizado era um esboço ainda de futuro.

Fez gesto que se aproximasse do alambrado, abaixou-se para lhe falar ao ouvido e ela se arrumou para ouvir, quando sentiu seus dedos avançarem pelo meio de suas pernas, roçarem seu segredo que umedeceu rapidamente para aqueles dois dedos que esfregaram-na e ao ouvir sua voz sentiu o chão sumir, teve espasmos naqueles dedos, naquela voz e naquele hálito de tabaco e ela de face ruborizada na pele branca...

Ele quando tirou sua mão de sob a saia dela, levou os dedos ao nariz e cheirou, beijou e levou os dedos à boca da jovem que depois de suave beijo abocanhou e sugou-os com vontade, tirando gemido do homem de barba mal feita, cabelos desgrenhados, olhos verdes e pistola na cintura.

Coçou o saco na tentativa de ajeitar suas partes e sorriu para ela.

__Não se esqueça!

A partir daquele dia, ela tinha gozos estonteantes apenas lembrando-se dele, do que sussurrara em seu ouvido...

Agora lá estava ela, saíra de casa, deixara os pequenos sozinhos, os pais que se ferrassem, queria a sua vida, e sua vida seria de poder, teria agora o chefe da milícia como protetor, até seu pai, auxiliar direto do delegado da 43ª, tinha medo do terrível Boca de Ouro.

Subia os degraus do acesso à melhor casa do Morro da Fumaça, olhava os homens que estavam sentados em pontos estratégicos, uns vendiam drogas para controlar os viciados do lugar; outros eram encarregados da distribuição de gás; outros da gatonet; outros do transporte clandestino; o esquema era todo comercial como o seguro obrigatório que todo morador tinha de pagar, caso contrário não teria a proteção dos ataques que a comunidade sofreria, não por traficantes querendo retomar a posse e sim da polícia normal que vez ou outra precisava mostrar serviço e por que não ajudar a milícia acabar com os concorrentes e ganhar uns por fora, uma boa molhada de mão.

Sua esperança quase infantil era poder, ter e possuir. A cada dia em que se olhava via seus dias perdidos, os pais trabalhando para nem mesmo poderem lhe comprar um ipod, nem trocar o PC que já estava defasado, de velha geração.

Olhou a base do morro de onde estava, que linda era a visão, na sua cabecinha era como estar em um castelo olhando a plebe rastejando lá embaixo, ali o vento amenizava o calor, as poucas árvores produziam vida em seus movimentos delineares e as folhas sobre o chão como um cobertor naquele chão, chão de gente trabalhadora, mas domesticada pelo medo e pela miséria, chão regado a sangue de quem ousou enfrentar a vida causando danos a si mesmo através das drogas, da arma de fogo, da tocaia, do sangue frio ao puxar o gatilho na cabeça do indivíduo tratado como cão...

Na frente do grande barraco que parecia uma fortaleza viu a segurança, pelo menos uma dúzia de homens armados com fuzis estavam situados, ela nem pediu para ser anunciada, foi entrando e eles abrindo caminho, a porta se abriu...

__Sou assim, você pode me chamar do que quiser. Não sei como me descrever, você me quer?

__Vem! Dá um tapa aqui... Ele esticou o braço a ela com um baseado aceso, ela aspirou a fumaça dos dedos dele, e ele para forçar ela a segurar o poder da canabis batizada de pasta pura que só ele usava, descerrou um beijo forte, ela quase sufocada agüentou firme e em pouco estava num mundo viciado e prostituído.

Foi levada pela mão até o quarto, um puxadinho separado da casa, ali outras meninas se amontoavam sobre colchões, e bastou um sinal para que o ambiente ficasse vazio, ele arrancou suas roupas e não tirou as suas e a penetrou com aquela coisa imensa com a calça aberta no cinto, no zíper e no botão, ela gemeu, grunhiu mordendo o próprio lábio, ele foi forte e ela nem mesmo gozou como sonhara, nem mesmo experimentou prazer, só dor e o calor quente do sangue escorrendo entre sua virilha sobre a cama, ele ejaculou sobre ela, passou a calcinha branca que ela ganhara no último natal e fez com que ela sugasse as últimas gotas de esperma que restavam em seu pinto de homem.

Seus sonhos de carinho ao perder a virgindade como Eva havia perdido com Jorginho da turma E-4 do colégio e lhe contara, e o que dizer do poder de ser a mulher do chefão ficaram perdidos nas lágrimas que com ela amanheceram, sozinha, nua, numa poça de sangue, naquele quartinho frio.

Sabia agora que tudo não passou de um impulso, de falta de reflexão, de uma ação impensada, e tinha consciência que foi um erro, e como consertar este erro? Sem virgindade, sem casa, sem pátria.

O pouco que dormiu... Abriu os olhos e as meninas expulsas estavam todas ali, à sua volta, a mais velha lhe jogou uma toalha velha e apontou o banheiro, disse de suas tarefas quando saísse do chuveiro que segundo ela era uma regalia, disponível só quando Boca de Ouro queria ou quando ia ter festinha especial; suas roupas que trouxera estavam espalhadas, haviam sido divididas entre elas.

Teve que lavar o lençol sob a ducha, ao ensaboar-se chorou mais uma vez, a responsável lhe avisou para parar de chorar senão seria pior, afinal o que era um cabaço a mais ou um a menos. Os colchões ao irem acordando eram levantados na parede, para sobrar espaço, não demorou muito e houve batidas na porta, um jovem armado entrou ficando em prontidão de fuzil cruzado no peito e outro entrou trazendo um saco de pão com mortadela e duas garrafas térmicas onde se lia sobre a fita crepe café e leite.

Montaram rapidamente uma mesa colocando tábuas sobre dois cavaletes, e enquanto comiam conversavam, estavam ansiosas para saber quais as palavras ele usara para lhe trazer ali...

__Que ele te disse? Fala, sabemos que ele diz...

__Ele... Disse que quando fizéssemos direito ia ser devagar e maravilhoso...

Todas, menos outras duas, riram... Era a artimanha que usava, durante o assédio era o rei dos carinhos, mas depois mostrava a que veio, queria era ser o primeiro e assim recrutar as cadelas para seu proveito...

A menina estava assustada, as horas passavam e mais consciência sobre seus atos caíam, eram como marteladas, e suas lágrimas vinham involuntárias. Até na hora da faxina, com o pancadão rolando solto, e nem era anoitecido ainda quando o mesmo jovem da manhã lhes trouxe um presente, raspas de cocaína que calmamente fez fileiras uma ao lado da outra sobre a bandeja suja e engordurada enrolando uma nota de dez reais deu a servirem-se, e alguns tequinhos de maconha que ele também serviu-se, fumando sentado no canto com a mão descansando sobre o fuzil postado ao lado...

__Um presente merece outro, né não?

__De quem é a vez?- sugeriu a ruiva. - Lembrei é você Maria de novo, esse seu primo é tarado por ti.

__É tara não... É que quando ela era livre, no mundo dela não me dava bola... E aqui só come se eu trouxer, não é mesmo vadia?- dizia ele, vendo a menina desabotoar-lhe a calça e tomar para si, fazendo sumir na boca o membro ereto dele, que como sempre não demorou na sua precocidade.- Se preparem que hoje tem osso queimado na laje de cima, e tem microondas também pelo que parece.