O desencontro

Foi com surpresa que recebeu aquele convite de casamento. Já ia para mais de três anos que ninguém lhe dava notícia do que a vida fizera com a ex-amiga. Seria realizado numa igreja chique da Lagoa.

Começou a se emocionar ao lembrar de tudo que a moça passara e o casamento sem dúvida era um marco cinderelesco para todo aquele drama.

A moça sofrera abusos do padrasto machista, da mãe neurótica e do irmão doente. De sua infância de sofrimentos saiu para uma adolescência problemática no Catete, num daqueles apartamentos que só tinham um quarto e a cozinha era um armário embutido da sala, e esta era a união daquela “família”.

Por vezes, ela sumia uma semana e reaparecia ainda com francos sinais de espancamento nos braços e rosto. Coisa muito triste. Mas não é isso que quero contar.

O fato é que frente àquele convite para dez dias adiante, nossa amiga começou a agitar um traje bonitinho para não fazer feio no mundo novo que a saudosa amiga, agora, fazia parte.

Convocou até uma outra amiga, que ante a estória dramática e apesar de não ser simpática a casórios, concordou em ir só para ver como a “ESPERANÇA TARDA, MAS NÃO FALHA”.

Tiveram que saltar do ônibus no Humaitá e andar muito até a Lagoa onde estava a igreja. Durante os preparativos esquecera o nome certo da igreja, mas sabia que era às 6 horas e na Lagoa.

Já entrou na Igreja com lágrimas lhe escapando dos olhos, só de ver a amiga no altar. Sua companheira pedia que maneirasse, por favor, pois não era um velório, apesar de hoje em dia um casório não garantir plenitude existencial nenhuma.

Acabou chamando atenção dos presentes que acercavam a noiva para os cumprimentos, mas ao ver a ex-colega da noiva naquela cena que prometia, abriram espaço...

Não, não dá direito para explicar a expressão da noiva ao mirá-la frente a frente, entre a surpresa e desprezo.

Ao perceber o engano, começou a dizer que ela não se recordava, mas foi uma amizade tão bonitinha etc., etc.

Entretanto ao olhar por trás das suas lágrimas e por entre a maquiagem da “amiga” percebeu que mesmo sem a tintura do cabelo aquela não era a paraense imigrada para o Rio.

Ela ainda tentou conferir o nome, mas a sua acompanhante já a arrastava para fora daquela multidão que lhe torcia o nariz. Quem sabe ainda desse tempo de ir a outras igrejas, para tentar achar a ex-amiga de sua louca amiga?

Marise Cardoso Lomba
Enviado por Marise Cardoso Lomba em 13/07/2005
Reeditado em 13/07/2005
Código do texto: T33934