A POETISA DAS TORTAS

A POETISA DAS TORTAS

O dia amanhecia, logo vinham as preocupações. A primeira atividade era a caminhada de quarenta a cinqüenta minutos que fazia com sua amiga. Depois que chegava em casa, dava uma boa arrumada na mesma e escrevia um poema do dia. As encomendas de tortas eram muitas. Sozinha quase não vencia e além do mais tinha que escrever que pra ela era uma terapia. Lindas poesias saíam dali. Tinha que ler outros escritores. E ainda tinha os compromissos sociais e religiosos. Já havia publicado um livro e tinha um projeto pronto para o segundo. Assim era o cotidiano da poetisa.

Não tinha pretensão de ser famosa, mas isso foi acontecendo. Com a propaganda boca a boca, isto é, falando um para o outro, suas encomendas foram aumentando. Gostava de fazer caridade. Vez ou outra, fazia uma quantidade de tortas e bolos e levava para os em orfanatos, nos asilos... e até para os moradores de rua. Quando chegava em casa de repouso de idosos, estes choravam ao vê-la. E assim foi ficando conhecida.

Uma equipe de reportagem de uma televisão local foi fazer uma matéria em uma das instituições que ela costumava ajudar. O diretor narrou-lhes o fato de uma certa mulher, das deliciosas tortas e o quanto as pessoas ali internadas gostavam dela. Uma pessoa muito carinhosa com todos dali. Mostrou-lhes num mural alguns poemas expostos, de sua autoria. Alguns descrevendo o próprio local, as crianças e... Deus no coração destas. Despertou interesse dos repórteres. Filmaram alguns bolos de frutas que ainda restavam, ou seja, alguns pedaços na geladeira.

Por informações da diretoria e funcionários, a equipe de jornalismo dirigiu-se nas outras instituições. Lá também não foi diferente. Tortas, bolos, guloseimas... poemas...

A entrevista foi marcada por telefone. No dia combinado a torteira, boleira, poetisa e literata aguardava toda produzida. Começou mostrando a casa. Por fora mais parecia um templo grego. Um lindo jardim florido. Bem cultivado, porque ela ainda tirava tempo para cultivá-lo... Mostrou álbuns de família, o casal de filhos quando criança... e depois de adulto, os dois formados, bem empregados e constituído famílias.

Logo que foi ao ar, os telefonemas não paravam. Queriam saber o endereço, telefone... mas a emissora não tinha autorização pra fornecer. Não se sabe como, mas descobriram. Aí a senhora não vencia mesmo! Foi obrigada a abrir uma empresa de porte médio e contratar funcionários. Foi uma bênção, porque gerou alguns empregos no início, e algum tempo depois, mais dezenas deles. Preferia sempre ter uma ou duas especialistas no ramo, mas todas as demais, sem experiência, porque assim abriria uma oportunidade para que aprendessem uma profissão. O negócio cresceu tanto que foi obrigada a ampliar sua loja e abrir outras em diversos pontos, e até em outras cidades. As obras sociais e religiosas continuou ajudando mais ainda. Seu primeiro livro de poesias, as vendas centuplicaram. Lançou o segundo, terceiro... um livro de contos e crônicas. Atendendo a muitos pedidos, alguns das suas obras foram traduzidos para o inglês, espanhol e italiano. Foi um sucesso grande.

E assim, a Poetisa das Tortas ficou famosa e todo o seu trabalho reconhecido. Plantou amor, espiritualidade e carinho, colheu e continua colhendo tudo isso com abundância. O sucesso financeiro é apenas uma conseqüência...

(Christiano Nunes)