Aquele dia do juízo final

Está tudo acabado. A menos de um mês, o meu temor tomou forma, quando vi na internet que uma onda gigante poderia chegar a qualquer momento. Um vulcão nas Ilhas Canárias poderia entrar em erupção e causar um tsunami que invadiria diversos lugares, inclusive o litoral do nordeste brasileiro, causando milhares de mortes.

Desde então, não parava de pensar nesse assunto. Conversando com Ricardo, meu amigo, ele disse que era pura besteira, conversa fiada que começou por causa daquela baboseira sensacionalista que a mídia propaga sobre o tal do 2012 no calendário Maia. Além disso, afirmou que a chance do vulcão despertar era mínima, não sendo nem mesmo unanimidade entre os cientistas. Esse fenômeno poderia levar um ano, vários séculos ou até mesmo nunca acontecer.

Fiquei nervoso, pois como ignorar um evento desses? Com o tempo, minha preocupação foi aumentando, e por morar no décimo segundo andar, próximo da praia, ficava imaginando aquela onda monstruosa invadindo e engolindo tudo e a todos. Pensei em alguma maneira de escapar. Talvez a chance, seria subir no topo de um prédio alto e bem resistente ou fugir para as profundezas do sertão. Logo comecei ficar imaginando como seria minha morte e o quanto poderia ser glorioso um evento desses. Seria destaque em todos os jornais. Um misto de terror e expectativa passou a fazer parte da minha rotina.

Não conseguia mais trabalhar direito. Papeladas começaram a se acumular no escritório. As pessoas olhavam para mim e com desdém me viam como um louco sonhador. Uma ou outra pessoa começou a acreditar. Ana minha namorada no começo resistiu, mas logo começou a pensar em mudar de cidade, de preferencia um lugar que ficasse quilômetros de qualquer mar. Eu sugeri que fossemos para São Paulo, capital ou quem sabe Minas Gerais. Para isso bastava juntar um bom dinheiro, antes que não desse tempo.

Contudo no geral, as pessoas tiravam sarro. Eu lamentava tais posturas. Esperem pra ver, não vai sobrar nada em pé, irritado dizia. Todos no trabalho caiam na gargalhada. Meu chefe disse que era bom procurar ajuda profissional. Eu quase mandei tomar no olho daquele lugar. Mais com um sorriso amarelo perguntei se ele sabia surfar.

Continuei vivendo, pois ainda estava preso aquele lugar devido minhas condições econômicas. Comecei a fazer hora extra, trabalhando igual um condenado. Vou lucrar e nunca mais voltar!

Mas a desgraça chegou como quem não quer nada, em uma noite aparente calma. Enquanto estava no ponto, próximo da praia, voltando para casa, um senhor se aproximou e com uma expressão de que estava muito alterado foi pedindo logo a grana.

Mas que merda! Bem no dia do pagamento. Esse dinheiro é a chave de ouro para escapar dessa catástrofe. Excitei. Ele disse: - anda, anda... se não eu te apago! Tentei dizer algo. Ele puxou o revolver. Quando resolvi entregar, já era tarde, tinha disparado. Foram dois tiros a queima roupa direto no peito e no estomago. Imaginei que nem um maremoto teria causado tamanho estrago.

Fiquei estirado na calçada, pensando na minha triste sina, e que por muito pouco, mais por muito pouco mesmo, eu quase consegui escapar daquela mega tsunami.

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 21/12/2011
Reeditado em 21/12/2011
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