Humanidade mediocre

Na mesa de bar ela confabulava empolgadamente com um amigo que não via há muito, sorte sua, pois não fosse este estaria plantada esperando seu namorado. Foi por acaso, mas providencial, e o papo ruim do rapaz, tentando avidamente convencê-la de que não era mais o cara inseguro o idiota de sempre só provou que continuava a mesma pessoa. Ela apenas balançava a cabeça afirmativamente enquanto ele lançava diante de si sua mediocridade, sorria quando alguma palavra chave como “acredita?” ou “nossa, incrível né” saia de seus lábios.

Há tempos não suportava mais aquele tipo de pessoa, muito ocupado em provar que era bom, que tinha algo de “interessante”, tentando agradar para se sentir menos só, sem saber o que fazer se tivesse alguém diante de si, realmente, em carne, osso e a simplicidade humana.

Gesticulava feito uma marionete, quase podia ver os fios segurando suas extremidades, algo do irônico, um bobo da corte talvez. Era irônico, se o ouvisse certamente estaria entediada, mas apenas observando via uma pessoa carente e sozinha. Com seus olhos negros, seus cabelos brilhantes, suas roupas alinhadas ao tom da moda mas sem muita escolha pessoal. Um boneco caberia bem na maioria dos lugares que ele ocupava, o bom dia habitual, o café no mesmo horário, e pensamentos fúteis habitando a mente, como tecnologia (sabe-se lá para que) e dinheiro para distrair em alguma noite mais negra, ou que pudesse agregar mais status de pop, atraente, etc.

Quando seu namorado chegou, sorriu, ele ficou enciumado, o beijou, apresentou os dois e despediu do velho amigo. Contou que o encontrou por acaso:

-O que conversaram?-voz claramente enciumada

-Ele contava alguma coisa de sua vida medíocre e sem reflexão, na verdade nem estava prestando atenção.

Não sei porque me lançou aquele olhar assustado, acho que foi uma fala bastante sarcástica e fria de minha parte, mas infelizmente não pôde responder de outro modo.

Ficou um pouco silenciosa, ele contava sobre a dificuldade de relacionamento de um amigo, ficamos um bom tempo falando disso, sinceramente gostava muito mais de falar das emoções das pessoas enquanto seres vivos que enfrentam a existência sem sentido, que enumerar fatos aleatórios, ou assuntos genéricos para ocupar o tempo. O ônibus que tem demorado por excesso de violência, ou o aumento do preço dos alimentos causados pela ganância e reversos do capitalismos sempre me soam mais como algo que me diz respeito que falar do novo caso do jogador x, ou do novo celular que a Nokia lançou. De repente, o acesso ao mundo que nos cerca da a impressão de diluir as coisas de nossa existência (naturalmente limitada e mero fragmento do todo) a uma massa disforme em que tudo é tudo, e ninguém importa. Se tem vários conhecidos e poucos amigos, se conhece vários lugares legais, mas se tem poucas boas lembranças...

T Sophie
Enviado por T Sophie em 28/12/2011
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