"OS FRUTOS QUE NÃO CHEGAM"

“OS FRUTOS QUE NÃO CHEGAM”

- Querido! Hu Hu! Daniela adentra à sala onde está Eduardo, seu marido, sentado no sofá, lendo o jornal.

-Que foi Daniela? Não vê que estou ocupado? Vê se não me amola...

- Oh, benzinho... Por que está me tratando assim? Não me ama mais?

- Não é isso... Mas eu aposto que você veio pedir alguma coisa...

- Não, não é nada disso ... Responde

- Então... O que é? Fale logo...

- Sabe o que é amor? Nosso casamento já dura oito anos e até hoje, não encomendamos o nosso bebê...

- Por que você quer isso agora? Perguntou...

- Nossos pais estão sempre me perguntando quando é que daremos a eles um netinho... Lembra, querido, que você sempre dizia que, quando casasse, queria ter uma turminha de moleques, para alegrar o nosso lar e o dos avós, também?

- Lembro sim, mas mudei de idéia...

- Como mudou de idéia?

- Depois lhe explico. Agora, deixe-me ler o jornal...

Daniela deu um muxoxo e se recolheu no quarto.

Eduardo (Edu) largou o jornal e, meditativo, ficou a pensar no dia em que começou o seu namoro, depois o noivado e, por último, o casamento. Era uma linda tarde de primavera e Daniela entrou na igreja com o seu vestido de noiva lindíssimo e com aquele sorriso amoroso que o deixava encantado! A igreja era a Candelária, onde os noivos receberam os cumprimentos dos parentes e amigos. Em casa, após celebrarem as bodas com fotos e, para complementar... O bolo com champanhe, partiram em lua de mel, felizes e cheios de sonhos...

A Lua de Mel, não podia ser melhor! Num sítio afastado, em contato com a natureza, os dois puderam aproveitar a tranquilidade do lugar simples e aprazível e ali eles gozaram os momentos e a magia daquele amor tão intenso!...

As duas famílias estavam felizes pois eram amigas, davam-se bem e já faziam lindos planos sobre o futuro do casal, augurando, para eles, belas crianças a encantar a família com traquinadas inerentes...

Mas o tempo foi passando e nada...

Dani e Edu moravam num apartamento moderno, com piscina, playground e com bastante espaço para crianças... Aí, estava o problema: CRIANÇAS!

As crianças do prédio faziam uma algazarra tremenda no pátio, à frente do apartamento do casal, no segundo andar. Edu é advogado e complementava seu trabalho do escritório, em casa e, para isso, era necessário silêncio, coisa quase impossível, com aqueles pestinhas... Algumas vezes, recorreu ao síndico, mas este era louco por crianças e ainda ajudava na bagunça... Edu, mais do que irritado, tomou horror às crianças...

Ao declinar de ser pai e, após revelar isso para Dani, ela não se conformou, gerando uma série de constrangimentos entre os dois; as discussões repetiam-se a toda hora e instante...

Desgostosa com o marido, Daniela reclamou com os sogros e estes se prontificaram a ajudá-la... Á noite, na casa do filho, o sogro de Dani, foi direto ao assunto:

- Edu, meu filho... Se o que está impedindo vocês de ter um filho é o barulho das crianças, então, eu proponho uma troca: como não há possibilidade, no momento, de comprarmos outro apartamento, sugiro o seguinte: eu e a mulher mudamos pro apartamento de vocês e vocês mudam para o nosso... Que tal?...

- Não é má idéia, mas acontece que, quem vai perder o sossego, são vocês que já estão com idade e não merecem isso...

- Quanto a isso, não precisam se preocupar; sua mãe e eu temos muita paciência com crianças, então não vai ser difícil...

Daniela , imediatamente, empolgou-se com a idéia e, em poucos dias, começaram aquela trabalheira de levar para lá o que é de cá e vice-versa... No final, deu tudo certo; a troca foi um sucesso, a nova moradia de Dani e Edu era um apartamento tranquilo, onde só moravam pessoas mais idosas, sem cachorros, nem crianças...

O tempo passou: dois anos e nada...

- Maria, _ disse o sogro à mulher: _ esses meninos daqui são, realmente, endiabrados. Imagina que quando peço e, peço com educação, que não façam muito barulho, eles me chamam de velho babão e gagá!

- E comigo, então, chamam-me de velha chata, coroca...

- E o pior, minha velha, é que até agora, nossa nora não engravidou...

- Qual será o motivo ? Nossa nora e nosso filho são saudáveis _ disse preocupada Dona Maria...

Por sugestão dos pais de Edu, resolveram fazer exames para saber as causas da infertilidade.

Uma caxumba que Edu teve na infância, deixou-o, inexoravelmente, estéril...

Pobre família... Está fadada a não se perpetuar, porque tanto Dani, como Edu, não possuem irmãos que possam suprir a carência dos avós, gerando filhos e , por conseguinte, netos... para dar continuidade à família.

É... A vida é um verdadeiro mistério. Há pessoas com pouquíssimos recursos que geram filhos a rodo... Enquanto outros, como Dani e Edu, que precisam formar uma família, mas não conseguem colher os “frutos" que o casamento propicia... Triste, né?

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 31/12/2011
Reeditado em 01/01/2012
Código do texto: T3415916