CRACK QUE DROGA

CRACK QUE DROGA

Nascido no interior, Paulo morava na capital de São Paulo, desde o tempo em que frequentava a Universidade. Pais falecidos, era filho único e tinha sido criado com rigidez, e dentro dos preceitos da fé católica. Sempre fora bom aluno e após conclusão do curso superior, foi chamado por uma grande empresa, que o havia selecionado em um processo de trainee do qual participara.

Morava só, mas já estava habituado a estar sozinho, somente vez ou outra, arrumava uma companhia para saciar seu desejo. Não pretendia estabelecer qualquer relacionamento sério, até que se firmasse definitivamente na carreira. Participava de festas e happy-hours mas não era escravo de qualquer vício.

Profissionalmente estava indo bem, tinha conseguido prestígio pela sua iniciativa e competência, sendo visto como um dos colaboradores, que mais tinha chance de fazer uma carreira brilhante na companhia. Era muito benquisto pelos colegas, pares e chefia.

Bem apessoado, era constantemente alvo das investidas de garotas, que o consideravam um partidão.

Enfim, parecia um ser destinado a uma vida de glórias e sucessos.

Certo dia, numa sexta-feira após o expediente, um colega o convidou para a balada. Combinaram de se encontrar as 21:00hs. num barzinho que ficava na Vila Madalena. Na hora marcada sentaram-se, pediram um chopp e ficaram trocando um papo descompromissado, até que duas lindas garotas sentaram-se na mesa ao lado. Troca de olhares, técnicas de sedução e passado algum tempo já ocupavam os quatro a mesma mesa. Passado mais um tempo, seu amigo retirou-se acompanhado de uma das garotas. Paulo e a morena permaneceram ainda por um bom tempo, até que resolveram “ficar”, no apartamento dele, que não era muito distante. Abigail era linda, curvilínea, um tesão de mulher. Logo que chegaram começaram a troca de carícias, até que Abigail parou por um instante e pediu a Paulo que esperasse um minuto. Foi até sua bolsa e apanhou um cachimbinho e uma pedra de crack. Paulo protestou, sem muito enfase, pois estava fascinado por aquela mulher e queria desfrutá-la o quanto antes. Ela aspirou e ofereceu a ele que primeiramente recusou, mas atendendo a pedidos insistentes acabou não resistindo e também usufruiu da droga. O efeito foi magnífico e os dois entrelaçaram-se em um coito arrebatador. Após esse primeiro ato outros ocorreram, e aí a droga já corria solta, fazendo ambos se entregarem sem limites. Despediram-se já na tarde de sábado, ficando de se encontrar em outra oportunidade.

No domingo, Paulo logo cedo ligou para Abigail. Queria vê-la, mas que não esquecesse da pedrinha. Mais uma vez sexo e droga rolaram pelo dia todo, parecendo que o mundo ia acabar naqueles instantes. Abigail deixou-o na madrugada de segunda.

Pela primeira vez, após 3 anos, Paulo chegou atrasado a empresa, já passava das 11 da manhã e os colegas já estavam preocupados. Deu uma desculpa esfarrapada ao chefe e foi trabalhar. Não conseguia se concentrar e também pela primeira vez desentendeu-se com um par. O expediente arrastava-se e ele não resistindo, ligou para Abigail. Pediu para sair mais cedo e foi encontrá-la. Apanhou-a com seu carro no lugar marcado, e logo que ela subiu perguntou se ela tinha uma pedrinha. Diante da negativa, ficou nervoso, mas ela encaminhou-o a um local de tráfico em que compraram diversas pedras. Dessa vez foram a um motel, e entre pedra e sexo lá se foi o dia e o avançar da noite até o raiar do novo dia.

Mais uma vez chegou atrasado e desta vez com a roupa amarfanhada e barba por fazer. Os colegas estranharam seu comportamento e ele disse que estava com uma séria indisposição. Recomendaram que fosse para casa, o que prontamente fez, após o consentimento da chefia. Mais uma vez ao chegar, logo fumou mais uma pedrinha que tinha guardado e tentou dormir. Não conseguiu e saiu para comprar outras pedrinhas, afinal já sabia onde encontrá-las. Abigail já não tinha tanta importância.

Dia após dia entregou-se ao vício, já não conseguia trabalhar a contento, foi se afastando dos colegas, esqueceu Abigail, não tinha mais prazer. Seus colegas da empresa tentaram saber o que havia, mas a resposta era sempre “estou com problemas pessoais”. Até que numa sexta a tarde, o outrora promissor, foi demitido sob a alegação de uma reestruturação. Não ligou nem um pouco e a saída dirigiu-se incontinenti, ao ponto de venda da pedrinha.

Passados poucos meses, Paulo era uma sombra do que havia sido. Já tinha gasto todas as suas economias, vendera o carro e estava em débito com o condomínio. Sua aparência era terrível; magro, cabelos desgrenhados, sujo e com os olhos apagados. Daí a um tempo vendeu seu imóvel, para alívio dos vizinhos, e mudou-se com apenas uma mala para um quarto, em um local não muito distante de sua agora maior paixão, a Cracolândia.

Ali ficou até que não tendo dinheiro para pagar o aluguel, mudou-se para a rua. Era um farrapo humano.

O telefone toca na Central 190, é uma senhora reclamando de um cheiro horrível vindo de uma casa abandonada, próximo de onde mora. Desloca-se para lá uma viatura, acionada via rádio. Os policiais chegam a casa, que não tem portões, o cheiro é terrível. Entram em um dos cômodos e lá está um corpo, em alto estado de putrefação, irreconhecível. Ligam e solicitam o rabecão para transporte de mortos. O corpo é levado para o IML, não dispõe de qualquer documento em seus andrajos, não conseguem identificá-lo, foi vítima de violenta agressão, provavelmente, tudo indica, por crack.

Na empresa em que Paulo trabalhava lembram-se dele. Por onde andará ? Era de uma competência !! Provavelmente deve ter ido para o exterior !! Quem sabe qualquer dia aparece !!

Nesse mesmo instante a grande promessa estava sendo enterrada como indigente, sem família, sem amigos, sem colegas, sem amor. A droga venceu a vida daquele jovem promissor e vencerá outras. Até quando, jamais saberemos.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 05/01/2012
Reeditado em 05/01/2012
Código do texto: T3424318
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