O PEQUENO ÓRFÃO

O PEQUENO ÓRFÃO

Osvaldinho era um menino de dez anos que sentia-se muito solitário. Vivia reclamando com sua mãe que não tinha muitos amiguinhos. Celestina, a mãe era muito controladora, e preferia que os colegas fossem sempre conhecidos, se possível. Tinha medo que as outras crianças influenciassem o comportamento de seu filho querido. Durante a semana a falta de companhia de Osvaldinho que era filho único, não era muito sentida, mas nos fins de semana, a solidão apertava.

Celestina tinha uma conhecida que ficara viúva há uns cinco anos, e tinha um menino de oito anos, chamado Mateus. Certa manhã ela viu Mateus no prédio sozinho e perguntou-lhe: - Onde está sua mãe? O menino sorriu abertamente, mostrando dentes muito alvos, e demonstrando muita simpatia disse: - “Tia, minha mãe tá trabalhando, eu tô na casa da Hildinha, ela toma conta de mim”.

À tardinha, Osvaldinho foi para o parquinho brincar e encontrou com Mateus que ele conhecia de vista. Entre uma brincadeira e outra, subiu para tomar suco e lanchar. Sua mãe perguntou-lhe: - Porque você não convida o seu amiguinho para vir até aqui e brincar de vídeo game?

O menino estranhou: - Mãe, a gente nem conhece esse menino direito. Porque devo chamá-lo? - A senhora tem certeza que eu posso convidá-lo? A mãe respondeu: - Não tem problema não. Eu conheço a mãe dele há muitos anos. O pai dele morreu quando ele era bem pequeno.

Eles moravam aqui no prédio. Osvaldinho acreditou no que a mãe falou e convidou Mateus para ir até sua casa. Brincaram de vídeo game, e a mãe vigiava todos os passos dos meninos. Osvaldinho falou que queria pipoca, a mãe foi para a cozinha preparar, e mandou o filho ir tomar um banho rápido, pois estava muito suado. Mateus continuou na sala sentada no sofá jogando no computador.

Celestina serviu a pipoca para os meninos e saiu um pouco da sala. Eles não ficaram ali por muito tempo, Mateus repentinamente quis ir embora, saiu rapidamente, sem sequer despedir-se.

No dia seguinte, um domingo, Celestina virou a casa de pernas para baixo, procurando o relógio de pulso com pulseira de ouro, presente de uma firma onde trabalhara. Perguntou para o filho que era o único que estava em casa por aqueles dias, e ele afirmava não saber onde estava o relógio. Alguns dias se passaram e a dúvida transformou-se em certeza. Ela encontrou com uma vizinha no elevador, o que ela carregava no pulso? Seu relógio. Cumprimentou a vizinha e falou: - Que lindo relógio. A vizinha respondeu meio sem graça, na verdade nem é meu, o filho de uma amiga minha estava com ele na mochila, e me emprestou. Achei tão bonito que resolvi “tirar uma onda”. Celestina não acreditou no que ouviu, pois a vizinha era a “tia” que às vezes tomava conta do Mateus.

O que poderia fazer? Falar com a mãe do Mateus? Procurou saber com uma antiga vizinha que conhecia a mãe do Mateus da época que ela morava no prédio. Não obteve muita informação, mas suficiente para entender o comportamento do menino. O pai morrera de overdose, era dependente químico. A mãe precisava trabalhar, deixava o menino com qualquer pessoa. Ele já tinha sido expulso de três colégios, por maus hábitos e péssimo comportamento, e não conseguia sair da primeira série. Desistiu, não falou com a mãe do Mateus, ficou sem o relógio.

Alguns meses se passaram um dia Osvaldinho chegou com a novidade: - Mãe sabe quem está estudando lá na escola, o Mateus. A mãe perguntou: - Ele falou com você? Osvaldinho respondeu: - Eu fingi que não vi. Dias depois, Celestina e a mãe de Mateus se encontraram no caminho de volta da escola. A mãe de Mateus comentava: - Espero que nesta escola meu filho consiga ficar, pois é a quarta escola que ele estuda. Tive muitos problemas com ele. Deixei até de trabalhar para cuidar dele, pois minha mãe já está cansada e velha e não aguenta mais. Deu-me um ultimato, ou eu cuido dele, ou vai nos colocar na rua. Ele estava cheio de vícios...

Celestina falou ironicamente: - Eu sei, espero que você ensine a ele muitas coisas... Ele é um menino com maus costumes. A mãe de Mateus falou: - Eu sei tudo isso, porque ele é órfão, sabe, é muito difícil, e também ele é muito pequeno. Celestina continuou andando, e não falou mais nada. Todas as vezes que encontrava a mãe de Mateus pela rua, sempre dava um jeito de dizer que estava com pressa, e afastava-se dela, o mesmo fazia Osvaldinho quando via Mateus.

Eles sabiam que nada poderiam fazer. Mateus roubara o relógio e a a “tia” que tomava conta dele a Hildinha, era a mãe de um traficante que tinha sido preso, um mês atrás. Tinha sido um caso muito comentado. A mãe de Mateus também não trabalhava e sempre tinha dinheiro, andava bem vestida, e afirmava para todos, que o falecido marido estava desempregado e não tinha deixado sequer uma pensão. Com um histórico desses, era melhor mesmo fechar a página do livro.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 16/01/2012
Código do texto: T3443135
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