O Elástico Humano
Passei vinte e sete anos diante de vários espelhos...
Trabalhando como cabeleireira, ao mesmo tempo que eu olhava para as clientes que eram atendidas por mim, eu também me via dentro do espelho.
Para cada cliente que se sentava na cadeira do meu salão, o tempo era pouco, mas para mim, além de ser um longo dia de trabalho, eu tinha que enfrentar o espelho o dia todo.
Ninguém melhor que eu para fazer uma avaliação do meu própio corpo...
Desde os meus tempos de criança, tive um biotipo com tendência para ser uma gordinha.
Com isso, conquistei um enorme corpão. Rsrsrs
Enquanto todos que não trabalhavam como autónomos tinham seus Sábados para passear, eu abstinei-me deles, pois era o dia que eu mais trabalhava.
Um salão na sala da minha casa...
E assim, meus dias se resumiam aos afazeres do lar, e ao atendimento aos clientes.
Não sobrava tempo para andar nas ruas, e eu não sabia nem onde ficava o correio da minha pequena cidade.
Com isso, passei a viver um grande tormento.
Nos dias que eu tinha que sair de casa, eu chegava a me sentir mal.
A cada dez metros andados, uma pessoa me parava para conversar.
A forma de cumprimento era sempre muito desagradável.
Nossa! Como você está gorda ! Outra me dizia: Você emagreceu um pouquinho...
E eram inúmeros cumprimentos com o gorda e magra...
Eu voltava para a minha casa, e pensava : Acho que me transformei em um elástico humano...
Passei a sentir pavor de andar nas ruas da cidade.
Contei isso para a minha fisioterapeuta . Ela tenava me ajudar a enfrentar o problema. Mas era difícil !
Certo dia, fui de carro para o consultório dela.
Meu marido não pôde me esperar.
Levei um guarda-chuva, pois sabia que ia chover muito.
Vestida com uma saia longa, e de posse de um guarda-chuva bem grande, eu saí do consultório.
Chuva e vento...
O vento era forte ... Bem forte !
Senti que o meu peso me favorecia, e que meus pés estavam bem firmes no chão.
E o vento tentava arrancar o guada-chuva das minhas mãos; mas minhas mãos também eram fortes... E consegiu segurá-lo.
Ao atavessar a passarela que fica ao lado da ponte que divide os Estados Rio/ Minas; olhei pra mim mesma e comecei a sorrir.
Me senti um verdadeiro personagem ...
A partir daquele momento, eu me senti livre, leve e solta. Rsrsrs
Uma figura qualquer a andar pelas ruas da cidade...
Desfilei calmamente... Queria que todos me vissem, pois pela primeira vez eu me sentia feliz de verdade. A rua era só minha e de poucos privilegiados que estavam dispostos a se sentir livres com o frescor da chuva e da ventania que passava...
Libertei-me de verdade ! A partir desse dia, eu aprendi a retribuir os cumprimentos com mais carinho... Com mais cordialidade.
Passei a ouvir melhor os cumprimentos dos meus espelhos...
Maria Lamanna
Rio Preto-MG